Capítulo 3: 7 minutos no céu.

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Como ainda sinto que ele está me olhando, tento me distrair, porque nunca sei como agir quando sei que alguém está me observando. Sinto todo meu corpo ficar quente, enquanto minha cabeça se enche de coisas aleatórias.

—Ei, Érika? —Me inclinei para perto dela, pensando que se Felipe pensasse que estou interessada no amigo dele, isso possa tirar sua atenção de mim. —Seu irmão tem namorada?

—Não. —Ela fez uma careta, como se estranhasse a minha pergunta.

—Ele também não é gay? —Pergunto logo em seguida, vendo Manu me lançar um olhar incrédulo. —O que? Melhor eu perguntar antes de tentar, né?

Eu não iria tentar nada, na verdade, mas as duas não precisavam saber disso de qualquer forma.

—Na verdade... —Érika hesitou. —Ele é gay, sim.

—Mas que merda, eu não tenho sorte! —Resmunguei, achando inacreditável minha sorte em encontrar apenas caras gays ou que tem namorada. Não estou brincando, isso realmente acontece com muita frequência.

—O Luiz Felipe não tem namorada. —Manu comentou, porque provavelmente havia notado só olhos do vocalista em mim, mesmo que eu estivesse fazendo de tudo para evitar olhar pra ele. —E pelo que eu saiba, ele não é gay.

—Eu desisto dos homens, Manu. —Falei, olhando ao redor sem qualquer interesse. Talvez aquela noite acabasse não sendo tão boa quanto eu imaginava. —Talvez eu tenha mais sorte com as mulheres hoje.

Manu balançou a cabeça negativamente, ao mesmo tempo que os rapazes terminavam de tocar e desciam do palco. Mordi o lábio inferior com força, vendo os três pararem para conversar com um grupo que estava na frente do palco, antes de caminharem na direção da nossa mesa. A primeira coisa que notei foi os olhos de Bernardo em Manu quando eles se sentaram, antes de Felipe e Eduardo se apresentarem pra mim, como se eu não soubesse quem eles eram.

—Eu não vou ficar bêbada. —Retruquei, assim que ouvi Manu dizer para Bernardo que precisava me colocar mais tarde na cama. Mas ao mesmo tempo, estava pedindo minha terceira cerveja. Dei uma cotovelada nela de brincadeira quando ela não acreditou em mim.

—O que você faz, Júlia? —Felipe indagou, me obrigando a parar de evitá-lo e erguer os olhos para encara-lo, encontrando aqueles olhos escuros brilhando em interesse sobre mim. Tinha certeza que aquela era sua tentativa de puxar assunto comigo, já que eu olhava para todo mundo, menos pra ele.

—Estudo história. Me sinto sobrando, já que vocês quatro estão na química aqui. —Comentei, olhando pra Érika quando ela coçou a garganta, como se quisesse me lembrar que ela estava ali e ainda não havia chegado nessa fase da vida. —Tirando você, é claro. O que você quer, Érika?

—Por enquanto, sobreviver ao ensino médio. —Afirmou, fazendo todos rirmos, porque ela soava muito genuína ao falar aquilo, como se o ensino médio fosse o próprio inferno.

—Do que você mais gosta em história? —Felipe questionou, trazendo o assunto pra mim de novo, o que me fez abrir um sorriso, antes de dar um gole na minha cerveja.

—Amo ouvir sobre absolutamente qualquer guerra que aconteceu. Parece muito mais interessante do que qualquer outro assunto. —Afirmei, dando de ombros, sentindo minha boca ficar seca quando ele abriu um sorrisinho muito encantador, enquanto os olhos não deixavam os meus um segundo sequer. —O que vocês de química gostam de estudar?

—Fissão nuclear. Curiosamente, esse assusto está super ligado a história, não é? —Felipe comentou, me arrancando uma risada, quando balancei a cabeça que sim ao entender do que ele estava falando. —Bombas atômicas. Segunda Guerra.

—Você está certo. —Falei, umedecendo os lábios com a língua, sentindo o calor se espalhar pelo meu corpo quando ele desceu os olhos e encarou minha boca. Ele não estava fazendo questão de esconder o interesse, o que estava deixando difícil pra mim fingir que não estava notando.

—Eu ouvi praia? —Eduardo exclamou, se virando para Bernardo e Manu, que estavam imersos em uma conversa entre os dois, se olhando e trocando sorrisos cheios de interesse um pelo outro. —Quem vai pra praia? Posso ir?

—Se você tiver um carro e estiver disposto a nos dar uma carona, seria perfeito. —Afirmei, lançando um olhar suplicante a Eduardo, porque eu, Manu e Melissa havíamos combinado de ir pra praia, mas precisávamos de uma carona. —Não importa a praia, só precisamos ir.

—Temos dois carros e lugar de sobra. —Foi Felipe quem respondeu, me fazendo girar a cabeça para olhar pra ele com as sobrancelhas erguidas. —Podemos ir todos juntos.

—Eu amo praia. Ainda mais se der pra pegar onda. —Érika afirmou, tocando meu braço para chamar minha atenção. —Você sabe surfar?

—Não, mas adoraria aprender. —Abri um sorriso sugestivo, olhando dela para Eduardo, que estava encarando Felipe com os lábios comprimidos como se estivesse tentando não rir. —Todos vocês surfam?

—Menos o Bernardo. O restante de nós, sim. —Eduardo comentou, me fazendo morder o lábio e balançar a cabeça. Fiz uma careta e ergui as sobrancelhas quando Manu me deu uma cotovelada, me fazendo virar e olhar pra ela, antes de me inclinar quando ela fez o mesmo na minha direção.

—O que foi? —Indaguei, falando o mais baixo que conseguia.

—O Felipe não para de olhar pra você. Acorda pra vida. —Ela sussurrou, me fazendo engasgar com a cerveja que eu estava bebendo, antes de me sentar direito e olhar pra Felipe, mordendo o lábio com força. Já havia notado que ele estava me encarando, assim como imaginava que todos os nossos amigos tinham notado também.

Encarei ele por alguns segundos, observando ele conversar com Eduardo, me perguntando o que poderia acontecer se eu ficasse com ele. Normalmente eu tentava escolher aqueles que eu tinha certeza que depois de um beijo, não iriam mais querer olhar na minha cara. Isso era perfeito pra mim, porque eu não estava atrás de um relacionamento ou qualquer coisa parecida.

Mas Felipe estava longe de parecer assim, como alguém que eu ficaria e então ele fingiria que nada aconteceu depois. Ao mesmo tempo, a forma que ele estava me olhando, como se eu pudesse iluminar um dia cinzento como o sol, estava me deixando muito tentada a abrir uma exceção pra ele.

Peguei a garrafa de cerveja vazia, tentada a aproveitar aquela noite ao máximo, sem me preocupar com o que fosse acontecer amanhã. Mesmo que ele soasse como uma bandeira vermelha pra mim, eu estava muito disposta a me arriscar, pelo menos nessa noite.

—Que tal um verdade ou desafio? —Indaguei, vendo todos me olharem na mesma hora. —Ou vocês não estão bêbados o suficiente pra isso?

Todos eles concordaram, depois de uma pequena discussão entre Eduardo e Érika, já que ele havia deixado a irmã de fora da brincadeira. Felipe foi o primeiro a girar a garrafa, que acabou caindo nele e em Manu. Depois a garrafa caiu em Eduardo e eu, onde eu descobri que Érika havia sacaneado o irmão ao dizer que ele era gay, porque ele definitivamente não era. Mas aquilo também não fazia diferença nenhuma pra mim.

Na próxima rodada em que virei a garrafa, ela caiu em Manu e eu. Olhei para minha melhor amiga com um sorriso de cumplicidade, sabendo perfeitamente onde aquilo ali iria terminar, dependendo da opção que eu escolhesse. Então, quando ela questionou se eu queria verdade ou desafio, já sabia o que fazer.

—Desafio. —Soltei, sem nem hesitar, vendo o sorriso de Manu se tornar maior ainda.

—Te desafio a ficar 7 minutos no céu com o Felipe.



Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora