Capítulo 15: Seu ex era um babaca.

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Balancei a cabeça negativamente, fechando meus olhos por um segundo interminável quando não acreditei que aquilo estava mesmo acontecendo. Fiz de tudo para evitar Felipe e então ele simplesmente apareceu no cinema, como se fosse a situação mais natural possível e ele realmente não soubesse que íamos estar aqui.

—Você é a pior amiga da face da terra, sabia? —Falei para Melissa, que me olhou me choque, como se não soubesse o porquê de eu estar falando aquilo pra ela. Então me virei para Felipe, que estava comendo sua pipoca com o ar mais tranquilo possível. —E você é um idiota completo!

—Por que essa ofensa gratuita? —Felipe levou a mão ao peito, enquanto eu revirava meus olhos até o ponto de eles doerem. —O cinema é um local público, sabia? Qualquer um pode vir assistir um filme se pagar.

—O problema é que você não veio assistir um filme, certo? —Sibilei, escutando alguém da fileira de trás resmungou que estávamos falando muito alto. Felipe comprimiu os lábios, enquanto eu me inclinava para perto, para falar baixo e não atrapalhar os outros. —Você está transformando isso em uma guerra, Luiz. 

—Então estamos na sua parte favorita da história. —Ele sussurrou, com os olhos se iluminando na minha direção quando percebeu que eu havia entendido sua referência. Eu havia dito a ele do que eu mais gostava de estudar naquele dia no bar e ele se lembrava. Ele havia gravado. 

—É, mas eu estudei guerras o suficiente pra saber como vencê-las. —Sussurrei de volta, abrindo um sorrisinho pra ele. Felipe não pareceu afetado, ele apenas aproximou o rosto mais de mim, fazendo meu coração acelerar quando sua respiração se misturou com a minha. —Desista do que quer que ache que vai rolar entre nós, Felipe.

—Por quê? —Insistiu, me fazendo engolir em seco quando seus olhos procuraram alguma coisa nos meus olhos. Como se ele quisesse me conhecer de dentro por fora. Aquilo me deixou sem jeito por um segundo, porque ele soava tão verdadeiro quando estava comigo. —Eu não sou um babaca que não sabe ouvir um "não", mas eu sei que tem alguma coisa te impedindo de aceitar, Júlia. Você quer, mas você não sente que pode, não é?

—E o que isso importa pra você? —Indaguei, percebendo que o havia deixado sem palavras com essa pergunta. —Por que você não faz como o Eduardo, que ficou com a Melissa e então foi um babaca com ela logo em seguida? Por que você tem que insistir em mim? 

—Não querendo defender meu amigo, mas já defendendo, ele não faz essas coisas por mal. Edu tem algumas questões muito, muito complicadas pra lidar. —Felipe afirmou, me fazendo tombar a cabeça de lado e o lançar um olhar incrédulo. —Agora sobre a segunda pergunta, é que eu não costumo chamar qualquer uma pra sair. Isso raramente acontece, porque preciso realmente estar interessado e me sentir conectado com a garota e você...

—Eu o que? —Insisti, vendo-o umedecer os lábios com a língua, observando cada detalhe do meu rosto, enquanto meu coração ameaçava chegar a boca com a intensidade que ele me olhava. Me deixava sem fôlego. Me fazia desejar que ele estivesse mais perto.

—Você sentiu aquela noite? Aquela conexão perfeita que causou quase uma explosão química quando nos beijamos? E antes, quando estávamos conversando, o quando a coisa simplesmente flui entre nós dois? —Ele balançou a cabeça, sem nem mesmo piscar enquanto olhava pra mim. —Eu senti, Júlia. Não quero ignorar isso, porque ainda sinto a mesma coisa sempre que você está perto de mim. 

Me afastei dele, surpresa demais com o quão sincero ele estava sendo. Aquilo me pegou de surpresa, porque estava acostumada com caras flertando comigo como idiotas, soando tão falsos. Mas Felipe sempre fazia questão de soar verdadeiro e de não esconder o que quer. Aquilo era o suficiente para mexer comigo mais do que eu gostaria, mesmo que eu tentasse evitar.

—Quero conhecer você, Júlia. Não a garota que saí pra beber a noite e fica com alguém aleatório sem a intenção de trocar números nem nada. —Felipe prosseguiu, enquanto eu engolia lentamente, sentindo um nó se formar na boca do meu estômago, trazendo um frio enorme pra minha barriga. —A verdadeira Júlia, que gosta de jujubas e estudar sobre guerras.

—Quer me conhecer? —Eu soltei uma risada baixa, olhando pra Felipe como se ele não fosse real. —Sou apaixonada pelo Grémio, a ponto de não perder um único jogo e xingar o juiz de todos os nomes feios que você pode imaginar. Eu assisto doramas e já escrevi fanfics de alguns dos meus personagens favoritos, apesar de nunca deixar ninguém as ler. Eu amo frio, porque adoro ficar atrás de um fogão a lenha comendo pinhão e bebendo chimarrão. —Alguém resmungou de novo, o que me obrigou a falar mais baixo. —Eu escuto "Do Fundo da Grota" sempre que estou com saudades da minha família, porque essa música me lembra da minha casa. Manu a odeia, de tanto que já foi obrigada a ouvi-la. 

—Sabe que eu vou gravas tudo isso que está dizendo, não é?  —Felipe sussurrou, me fazendo soltar uma risada baixa, porque não fazia diferença pra mim, na verdade.

—Meu ex namorado me disse que ninguém iria aguentar ficar comigo por muito tempo, porque eu era insuportável e garotas igual a mim existem em todas as esquinas. —Tive que morder o lábio para não rir da expressão dura que tomou conta do rosto de Felipe. —Eu não tenho nada de especial, Felipe. 

—Seu ex era um babaca. —Afirmou, ignorando a última parte do que eu havia dito.

—Bem, sim, eu concordo, ele era. —Um gosto amargo surgiu na minha garganta, porque ele estava longe de ser apenas um babaca e essa não era a pior coisa que ele já havia feito comigo. —Mas ele não estava mentindo. Você não aguentaria ficar comigo por mais de uma vez, Felipe. 

—Você não sabe do que está falando. —Foi a resposta dele, que me deixou um pouco irritada com a calma na sua voz e por ainda ver a determinação em seus olhos. —Não sou seu ex, Júlia, e não penso igual a ele.



Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora