Capítulo 56: Não os expulse.

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Júlia

Thiago me encarou como se pudesse me bater ali mesmo, na frente de todo mundo. Não duvidava que ele realmente tivesse coragem de fazer isso. Não me surpreenderia com mais nada que viesse dele. Quando eu achava que ele não podia ir ainda mais baixo, ele ia lá e me provava que poderia ser ainda pior.

Meu peito estava apertado, com uma dor insuportável que estava me deixando inquieta. Meus olhos também estavam ardendo, porque eu tinha passado os últimos minutos chorando e só tinha conseguido me acalmar quando chegamos ali. Eu só queria que aquele pesadelo acabasse.

Não consigo pensar em como me senti quando os encontrei todos juntos, até mesmo Felipe, brigando com Thiago. Meu irmão estava machucado, mas tão furioso que nem mesmo olhou pra mim, com os olhos queimando sobre Thiago como se pudesse reduzir meu ex namorado a pó. Mas eu vi a preocupação exposta no rosto de Felipe quando me olhou. A pitada de pena e raiva lá no fundo, deixando claro que ele já sabia de tudo. 

—Minha conversa com você já terminou. Não tenho qualquer interesse de prolongar isso. —O reitor apontou para a porta, deixando claro que Thiago estava dispensado pra ir. —E agradeça por eu ter abrir uma queixa contra você. Suas atitudes foram extremamente sérias.

Thiago hesitou, como se estivesse debatendo internamente sobre insistir mais. Só que não havia mais nada que ele pudesse fazer ali. Nada deixaria a história melhor para o lado dele. E eu tinha certeza que o reitor só não abriria uma queixa contra ele para que a história das drogas não se espalhar. Claro que pra ele o que mais importava era a universidade continuar sendo bem vista.

Thiago se levantou depois de um momento, com os lábios comprimidos e a expressão tensa. Não olhei pra ele, mesmo quando senti seus olhos em mim. O alívio que senti quando ele se retirou da sala, batendo a porta com força o suficiente para chamar a atenção do prédio todo, era quase inexplicável. O aperto no meu peito diminuiu um pouco, enquanto eu puxava o ar com força pra dentro de mim.

—Eu gostaria que o restante de vocês se retirasse. Quero conversar com a senhorita sozinha. —O reitor apontou pra mim, fazendo Felipe e meu irmão hesitarem para se levantar, enquanto Bernardo e Eduardo ficavam de pé no mesmo instante, esperando pelos outros dois. —Por favor, rapazes. Não irei demorar.

Felipe trouxe a mão até a minha e a apertou, como se quisesse me dizer que estava tudo bem, antes de ficar de pé e seguir os amigos para fora da sala. Léo se aproximou, sobre o olhar atendo e sério do reitor, dando um beijo no topo da minha cabeça, antes de se retirar também. Parte de mim indo com eles para fora da sala.

Quando a porta se fechou, deixando apenas eu e o reitor naquela sala, eu me encolhi consideravelmente na cadeira. Toda aquela briga na universidade tinha sido por minha culpa. Se as coisas tivessem se resolvido de outra forma, talvez Léo nunca tivesse vindo até aqui bater em Thiago. Mas foi um erro meu achar que poderia resolver tudo isso sozinha, sem contar a ele. Sua explosão de raiva veio de vários motivos diferentes.

—Lamento muito pelo que aconteceu entre a senhorita e o seu ex namorado. E lamento principalmente por ter precisado conviver com ele dentro das delimitações da universidade, tenso seu espaço invadido por ele e até mesmo sendo ameaçada. —O reitor cruzou os dedos sobre a mesa, parecendo cansado. Tinha certeza que não era todo dia que uma confusão tão grande como essa acontecia. —Não posso fazer nada para reparar essa questão, além de desliga-lo da universidade. Mas você pode. Eu entendi os motivos que a levaram a não denunciar ele da primeira vez, apesar de achar que também não fez o certo. Mas agora, se quiser uma sugestão, precisa denunciá-lo. Tanto pela sua segurança, quanto pela dos seus amigos lá fora, que não pensaram duas vezes antes de defendê-la.

Fiquei em silêncio, erguendo a mão para esfregar minhas bochechas ainda molhadas pelas lágrimas. O aperto no meu peito se tornando quase insuportável, porque eu odiava a forma como ele estava me olhando, como se estivesse com pena.

—O melhor que pode fazer é isso, além de pedir uma medida protetiva, para que ele não volte a se aproximar da senhorita. —O reitor prosseguiu, soltando um suspiro longo e demorado. —Se isso serve de algum tipo de consolo, não acho que ele vá denunciar seus amigos por agressão. Está claro que aquele rapaz quer ficar longe de problemas e não arrumar mais deles.

—O que vai fazer em relação aos meus amigos? —Indaguei, querendo mudar de assunto, porque iria desabar em lágrimas se ele continuasse a falar sobre aquilo. A sensação pesada dentro de mim estava me sufocando.

—Está mais preocupada com eles do que consigo mesmo. —Falou, como se aquilo o incomodasse. Meus lábios se apertaram, enquanto eu apenas dava de ombros. Já estava acostumada a sempre ver as coisas desmoronando pra mim, mas não para eles. Não para quem eu me importava.

—Só não quero que eles sejam expulsos por isso, senhor. Eles só estavam tentando me defender. Eu sei que a violência não foi a melhor forma de resolver isso, mas... —Balancei a cabeça negativamente, abaixando os olhos para o chão. —Por favor, apenas não os expulse. Prometo que isso não vai voltar a acontecer novamente.

—Eu sei que não. —Suspirou, como se realmente acreditasse nisso. —Mas ainda vou precisar puni-los de alguma forma por isso.

Balancei a cabeça positivamente, engolindo o nó que se formou na minha garganta quando ele ficou de pé, indo até a porta para chamá-los de volta. Cada batida do meu coração martelando na minha cabeça como uma bomba prestes a explodir. Estava com vergonha de olhar pra qualquer um deles e, principalmente, com vergonha de mim mesma por estar naquela situação de novo.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora