Manu ficou me fazendo companhia o tempo todo, antes de propor uma festa do pijama na tentativa de me animar. Mesmo que eu achasse que isso não ia funcionar aceitei, porque estava mesmo precisando pensar em outra coisa além de Thiago. Ela saiu por umas poucas horas para fazer compras no mercado, enquanto eu fiquei em casa arrumando a sala.
Ignorei as mensagens de Felipe perguntando se eu estava bem e até mesmo suas ligações. Não queria o evitar, porque sabia que isso era infantil, mas não conseguia falar com ele naquele momento. Tinha a sensação que se tentasse, acabaria falando algo que machucaria Felipe e eu mesma. Havia um aperto estranho no meu peito e eu não sabia o que fazer.
Quando Manu e Érika voltaram eu finalmente consegui me distrair, deixando a sensação ruim longe. Nós três dormimos juntas em um colchão na sala. Ou pelo menos eu tentei dormir, porque foi difícil fechar os olhos quando havia uma tempestade se formando dentro de mim, de uma forma que eu sabia que não seria capaz de controlar.
Na manhã seguinte eu estava com o pior dos humores. Também recusei uma ligação de Léo, mandando uma mensagem pra ele mais tarde para avisar que eu estava ocupada e que ligaria pra ele depois. Mas na verdade eu também estava o evitando, porque sabia que assim que falasse com Léo, não conseguiria esconder a verdade dele.
—Precisamos conversar.
Levei um susto no meio do corredor do prédio de história. Estava caminhando até meu armário, mas Felipe surgiu atrás de mim, com uma expressão que era uma mistura de hesitação e determinação. Meu coração afundou no peito na mesma hora, porque vê-lo ali fez aquela sensação pesada no meu peito se tornar praticamente insuportável.
—Felipe... oi. —Soltei uma respiração trêmula, olhando ao redor, vendo que o corredor estava vazio aquela hora da manhã. —Eu estou com um pouco de pressa. Pode ser mais tarde?
—Mais tarde quando? —Felipe ergueu as sobrancelhas, soltando uma risada baixa. —Quando você decidir parar de me evitar? Porque é exatamente isso que você está fazendo, me evitando. Me evitou ontem e pelo visto pretende fazer isso hoje.
—Desculpa, eu só estou com a cabeça cheia. —Afirmei, tentando não transparecer o quão nervosa eu estava naquele momento, sentindo meu coração se quebrar. —Não tem nada a ver com você é só...
—Júlia, eu sei que tem alguma coisa errada, ok? Eu não sou nenhum idiota. Eu só não sei se isso tem a ver comigo ou não. —Felipe me cortou, se aproximando mais de mim, até parar na minha frente, me obrigado a erguer o queixo para encara-lo.
—Você não fez nada de errado. —Falei, sentindo minha voz quase tremer, porque eu não queria desabar na frente dele. Eu não iria fazer isso.
—Então qual é o problema? Fala pra mim, Júlia. Posso te ajudar. Posso ficar do seu lado. —Felipe afirmou, erguendo as mãos para envolver meu rosto, enquanto eu fechava meus olhos e apenas apreciava seu toque, me sentindo completamente perdida naquele momento. —Fala pra mim o que está acontecendo. Fiquei tão preocupado com você ontem.
—Eu só... —Mordi o lábio ao abrir os olhos e encarar a expressão suplicante de Felipe, percebendo que Thiago estava estragando toda minha vida, quando eu finamente tinha tido coragem de me abrir e me relacionar com alguém de verdade, sem ser apenas beijos aleatórios quentão significavam nada. Porque Felipe significava muito pra mim. Significava mais do que eu poderia esperar, em tão pouco tempo.
Soltei uma respiração trêmula e ergui a mão, deslizando-a até sua nuca, antes de puxar o rosto de Felipe e o beijar. Ele não hesitou em corresponder, passando o braço ao redor da minha cintura e me puxando te que meu corpo estivesse grudado no dele. Seus lábios se abriram assim como os meus, em um beijo tão calmo e ao mesmo tempo tão intenso, que me deixou com as pernas bambas e o coração disparado.
Era aqueles beijos apaixonados que deixavam a pessoa com uma sensação de euforia dentro do corpo, como se fosse explodir, transbordar a qualquer momento. Mesmo quando Felipe tentou se afastar, eu o segurei e não o deixei, o beijando com ainda mais força, atrancando um tipo de som desesperado dele, como se ele estivesse com saudades de me beijar.
—Me conte qual é o problema, Jujuba. —Pediu, com a testa descansando contra a minha, enquanto tentávamos regular nossas respiração agora pesadas. Pensei no que dizer a ele, mas simplesmente nada saia pela minha boca, porque havia um nó na minha garganta. —Só... conversa comigo.
Soltei uma respiração pesada, antes de fechar meus olhos e esconder meu rosto no peito de Felipe. Ele me abraçou no mesmo instante, me apertando contra ele de uma forma tão carinhosa, que senti vontade de não larga-lo nunca mais. Poderia ser facilmente meu lugar favorito no mundo, porque eu podia ouvir o próprio coração dele batendo, tão acelerado quando o meu.
—Senti sua falta ontem. —Felipe sussurrou, passando a mão pelos meus cabelos, enquanto beija o topo da minha cabeça. Quis dizer pra ele que também senti sua falta, mas as palavras também não saíram. Eu sentia que estava me metendo em uma bola de neve e não sabia bem como sair de dentro dela, porque ela ficava cada vez maior.
—Eu preciso ir pra aula. —Afirmei baixinho, me afastando dele, sentindo falta do seu calor no mesmo instante. Felipe me encarou um pouco perdido, como se ele realmente esperasse que eu contasse a ele o que estava me incomodando. —A gente conversa depois.
—Júlia... —Ele tentou insistir, tocando minha mão para me segurar, mas balancei a cabeça negativamente, me afastando mais de Felipe até que ele não conseguisse me alcançar, a não ser que me seguisse.
—Prometo que depois a gente conversa, Felipe. Mas agora eu realmente preciso ir. —Afirmei, vendo-o comprimir os lábios e hesitar, como se estivesse pronto para insistir de novo.
Mas o que quer que Felipe tivesse visto no meu rosto naquele momento, o fez soltar um suspiro de frustração e assentir, antes de virar as costas e ir embora. Parei aonde estava no mesmo instante, me escorando na parede e escondendo meu rosto entre as mãos, querendo sumir da mesma forma que havia feito da última vez.
Continua...
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Todas as verdades não ditas / Vol. 2
RomanceJúlia não tem medo de erguer a cabeça e enfrentar os desafios que a vida coloca em seu caminho. Sendo uma estudante de história, ela quer escrever a melhor história de todas pra si e isso a faz aproveitar suas noites da melhor maneira possível. Mas...