Capítulo 12: Eu não quero um relacionamento.

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Parei por alguns segundos, sem saber ao certo o que responder para o meu irmão. Sabia de quem ele estava falando, sem nem citar o nome antes. Da última vez, Léo me ajudou a sair do fundo do poço. Ele foi meu melhor amigo, além de ser meu irmão. E como nós dois sabíamos, ele sempre foi o mais responsável entre nós dois, mesmo sendo o mais novo.

—Ele tem me ligado e mandado mensagens. —Falei a verdade, porque não tinha coragem de mentir para meu irmão depois de tudo que aconteceu comigo da outra vez. —Mas eu bloqueio todos os números que ele usa pra isso, então...

Léo soltou uma respiração pesada, erguendo a mão pare esfregar os cabelos úmidos, como se saber disso o deixasse frustrado e muito irritado. Engoli em seco na mesma hora, porque não queria deixá-lo preocupado, enquanto estava a quilômetros de distancia de mim. No final das contas, ligações e mensagens não podiam me machucar.

—Léo, está tudo bem. Ele não está aqui e não está me incomodando de fato. Ele não vai fazer nada, porque eu nem vou responder ou dar qualquer chance pra ele. —Afirmei, tentando tranquilizá-lo, vendo seus olhos se concentrarem em mim com dúvida. —Eu estou bem. A faculdade está sugando minha vida e eu estava na rua até quase agora.

—Tudo bem, vou confiar em você. —O rosto dele se aproximou mais da tela do celular quando ele apontou pra mim. —Mas eu vou pegar férias logo, então se você quiser que eu vá ai ficar com você uns dias, antes das suas férias, me avisa que eu vou, está bem? Não conto nada pra mãe e pro pai sobre isso.

—Se você quiser vir, eu não vou achar ruim. —Afirmei, fazendo um biquinho com os lábios, porque estava morrendo de saudades dele e conversar por ligação não era o mesmo que pessoalmente. Léo soltou uma risada, parecendo pensar o mesmo que eu naquele momento.

—Tudo bem, Juju, eu vou. Preciso desligar agora, mas a gente se fala. Me avisa se alguma coisa mudar. —Pediu, e eu balancei a cabeça que sim na mesma hora. Desde que eu era criança e alguma coisa acontecia, era pro meu irmão mais novo que eu corria e não para os meus pais. —Manda um beijo pra Manu.

Ele desligou logo depois de se despedir, enquanto eu me deitava na cama e encarava o teto, desejando pular logo para o final do semestre e o começo das férias. Ir pra casa seria a melhor coisa de todas nesse momento, porque estou precisando mesmo deixar algumas coisas pra trás e esquecer outras.

—Não é possível! —Resmunguei, puxando meu celular quando ele vibrou com a chegada de uma mensagem. Já estava pronta pra bloquear quem quer que fosse, antes de revirar os olhos quando vi de quem era a mensagem.

Número desconhecido —Acabei de me lembrar que você não cumpriu sua parte do nosso acordo.

Júlia —Não fiz acordo nenhum com você, Luiz Felipe.
E onde você arrumou meu número?

Luiz Felipe —Peguei com a Érika.
Não fizemos um acordo? Deixa eu refrescar sua memória então.
Uma música e você me faria companhia.

Júlia — Não posso fazer nada se você ficou rodeado de fãs depois de uma música.

Luiz Felipe — Isso significa que você vai ter que pagar a sua parte outro dia.

Júlia — Não com um encontro.
Mas vai sonhando.

Luiz Felipe — Acho que eu marquei um gol.

Júlia — Por quê?

Luiz Felipe — Edu e a Érika apostaram se você iria ou não me bloquear.
A Érika ganhou, óbvio.
Mas acho que isso me faz marcar um gol também, então...

Júlia — Ainda posso bloquear você, sabia?

Luiz Felipe — Mas você não vai.

Ele mandou uma figurinha fofa, me fazendo bufar e revirar os olhos, porque odiava o fato de ele estar certo. Não iria bloqueá-lo, mas isso não significava que eu ficaria trocando mensagens com ele por várias horas seguidas. Saí do chat, deixando ele no vácuo e apaguei o celular, me dando conta de que estava com um sorriso no rosto, porque Felipe era um idiota, mas também era muito engraçado.

[...]

Manu me arrastou para o treino da turma de química na terça à noite, murmurando sobre o fato de eu não poder deixar ela sozinha, mesmo que o Eduardo fosse estar lá pra assistir também, já que ele não joga. Na verdade, eu sabia que ela só queria ver o Bernardo, além de me fazer ficar perto de Felipe. Torci pra que Érika estivesse lá também, mas ela me avisou por mensagem que estava na casa de uma amiga, o que me deixou um pouco frustrada.

—Por que você não gosta de jogar futebol? —Indaguei, sentada na grama ao lado de Eduardo, que estava prestando atenção no treino deles, quase sem nem piscar. Ele se virou pra me encarar, dando de ombros como se aquilo não tivesse explicação. —Já jogou alguma vez?

—No ensino médio, mas não é muito a minha praia. —Afirmou, enquanto Manu estava sentada do outro lado dele, sem tirar os olhos de Bernardo no campo, como se da mesma forma que ele era atraído por ela, sempre a olhando, com ela acontecesse da mesma forma.

—Sua praia é surfar. —Comentei, e ele balançou a cabeça que sim, voltando a atenção para o jogo. Fiz o mesmo, apesar de estar um pouco entediada. Nada como um jogo de verdade, valendo os gols e os pontos. Eu era apaixonada por futebol graças ao meu pai e meu irmão, que me fizeram acompanhar todos os jogos do grêmio.

Minha atenção se fixou em Felipe, que estava gritando com os jogadores sobre alguma coisa do jogo. Podia ver a faixa no braço dele, deixando óbvio que ele era o capitão do time, usando uma camisa com o número 7. Aquilo era meio que a cara dele, já que além de ser o capitão do time, ele era o vocalista da banda que eles tinham, mesmo que eles não chamassem aquilo de banda. Ele parou no meio do campo, colocando as mãos na cintura, enquanto olhava de cara feia pra um dos colegas que havia acabado de fazer uma falta.

—Sabe que além de olhar, você podia...

—Não termine essa frase, Eduardo, se quiser continuar sendo meu amigo. —Afirmei, e ele soltou um palavrão antes de rir.

—Só estou tentando ajudar meus amigos. —Ele deu de ombros, totalmente inocente, quando eu já sabia que de inocente ele não tinha absolutamente nada.

—E quem ajuda você? O senhor que foge de relacionamentos. —Ergui as sobrancelhas pra ele, observando a sua risada se tornar um sorriso pequeno e sarcástico, como se relacionamentos não passassem de uma piada pra ele.

—Eu não quero um relacionamento, porque não preciso de um, o que é bem diferente. —Ele se inclinou pra perto de mim, erguendo as sobrancelhas da mesma forma que eu estava fazendo. —Diferente de você, que está apenas fugindo de algo que você quer.



Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora