Ver Felipe na minha frente, fez todo sentimento ruim que eu estava sentindo segundos atrás desaparecer, porque é impossível ficar irritada ou frustrada quando ele me olha desse jeito e sorri como se o mundo fosse simplesmente perfeito. Ele parece muito animado nesse momento, com o violão pendurado nos ombros e uma camiseta da turma de química.
—Está me seguindo, Luiz? —Indaguei, mesmo sabendo que Melissa tivesse o convidado. Mas sabia que ele podia notar o tom brincalhão na minha voz também.
—A Melissa me convidou e eu achei ruim dizer não a ela. —Afirmou, dando de ombros como se aquilo não fosse nada demais. —Só que meus amigos me abandonaram, porque Bernardo foi dar aulas a Manu e o Eduardo levou Érika pra casa da mãe, então... Acho que você vai ter que me fazer companhia por aqui, pra eu não me sentir tão solitário.
—Sua cara de pau é maravilhosa. —Soltei, arrancando uma risada alta dele, que se inclinou pra trás, com o rosto se transformando em algo muito iluminado quando ele ria dessa forma. —Se você cantar pra mim, posso te fazer companhia se quiser.
—Gosta de me ouvir cantando, Júlia? —Era uma pergunta genuína, pela forma que ele falava e me olhava, o que me fez hesitar em responder. Mas o sorriso que ele me lançou quando demorei, acho que foi resposta suficiente pra ele, porque Felipe puxou o violão, o que chamou a atenção das pessoas ao redor, que já começaram a pedir que ele cantasse.
—Quem precisa de karaokê quando se tem o Felipe? —Melissa afirmou, arrancando uma risada da maioria quando Felipe se sentou no sofá, colocando o violão no colo, antes de testar as cordas por uns segundos. —O que você vai cantar?
—Como a Júlia pediu, ela que escolhe. —Felipe murmurou, arrancando um coro de "hmmmmm" de todos que estavam na sala, me fazendo revirar os olhos e soltar uma risada ao mesmo tempo, porque tinha certeza que ele estava fazendo aquilo de proposito. —Que música você quer, Júlia?
—Você conhece "Car's Outside" do James Arthur? —Indaguei, me escorando em uma das paredes, sabendo que todo mundo estava olhando pra nós dois, provavelmente imaginando que alguma coisa estava acontecendo entre nós, quando na verdade aquilo era apenas Felipe e eu nós provocando, para no final não dar em nada.
—Claro.
O sorriso dele não oscilou quando ele abaixou os olhos para o violão e testou algumas melodias, antes de começar a tocar de fato, aquela melodia que eu conhecia muito bem e a maioria das pessoas na sala também. Diogo saiu da cozinha quando Felipe começou a cantar, se escorando na parede ao meu lado, parecendo surpreso e ao mesmo tempo confuso por ver Felipe ali.
—Vocês dois estão...? —Ele gesticulou com a mão, como se não soubesse que nome dar para o que estava rolando entre nós dois. Comprimi meus lábios, porque sabia que deveria ser o que a maioria das pessoas ali estavam se perguntando no momento.
—Não, não estamos nada. —Afirmei, vendo ele juntar as sobrancelhas como se isso o deixasse ainda mais confuso. —Nós ficamos uma vez e acabou. Somos apenas... amigos agora.
Não erámos amigos. Eu não fazia ideia do que erámos, pra falar a verdade. Talvez de fato virássemos amigos, se ele desistisse da ideia maluca de me levar para um encontro. Mas isso também não importava muito, porque minhas preocupações estavam sempre em ir bem na universidade, receber meu salário no final do mês e conseguir ir visitar meus pais em um final de semana, porque a saudade sempre apertava quando eu ficava tempo demais sem voltar pra casa.
—Se você diz. —Diogo sussurrou, de uma forma que deixava claro que não acreditava nem um pouco em mim.
Aquilo me fez exibir uma careta pra ele, ao mesmo tempo que voltava a olhar pra Felipe, observando ele tocar e cantar, com o tom de voz combinando perfeitamente com a letra e o tom da música. Duvidava muito que houvesse alguma música que não ficasse boa na voz dele.
—E você? —Me virei pra ele, erguendo as sobrancelhas, com uma expressão desconfiada no rosto. —Ontem eu vi você olhando pra Érika enquanto ela estava surfando. Ela me contou que tentou chegar em você.
—Por que estamos falando disso? Ela só tem 16 anos. —Diogo comprimiu os lábios, como se aquele assunto não fizesse o menor sentido. —E desde quando vocês duas são amigas? Pensei que vocês mal se conheciam.
Dei de ombros, sem dar uma resposta exata pra ele sobre aquilo. Érika havia me seguido no Insta e então nós trocamos nossos números e começamos a conversar, porque a garota tem uma vibe que combina muito com a minha, além de nós duas estarmos secretamente esperando pelo dia que Bernardo vai finalmente confirmar que sempre gostou de Manu, antes mesmo dos dois conviverem.
—Ei, não estou pensando que você vai ter alguma coisa com ela. Eu só queria saber o que estava passando na sua cabeça, já que você resolveu confidenciar as coisas pra Manu agora, porque ela ficou sabendo disso por você, enquanto eu precisei ouvir pela Érika. —Falei, em um tom acusatório, porque quando fui comentar com Manu o fato de Érika ter se interessado por Diogo, ela já sabia.
—Estou ocupado tentando superar minha paixão por uma das minhas amigas, pra ficar pensando em uma adolescente que ainda está no ensino médio. —Diogo afirmou, soando mais amargo do que eu estava esperando. Ele nunca tinha falado de fato que gostava de Manu e aquilo me pegou de surpresa. Abri e fechei a boca para dizer algo, fazendo Diogo rir e negar com a cabeça. —Não se preocupe comigo. Deveria se preocupar com o Felipe e o que está rolando entre vocês. —Ele indicou Felipe com a cabeça, que não tirava os olhos de nós dois, como se quisesse saber o que tanto conversávamos. —Não parece ser só amizade pra ele. E acredite quando eu digo, eu entendo muito disso.
Diogo se afastou, me deixando completamente sem palavras. Olhei para Felipe na mesma hora, vendo-o erguer as sobrancelhas, com um sorrisinho no rosto que deixava claro que ele sabia que estávamos falando dele.
Continua...
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Todas as verdades não ditas / Vol. 2
RomanceJúlia não tem medo de erguer a cabeça e enfrentar os desafios que a vida coloca em seu caminho. Sendo uma estudante de história, ela quer escrever a melhor história de todas pra si e isso a faz aproveitar suas noites da melhor maneira possível. Mas...