Capítulo 38: Seu celular está tocando, Jujuba.

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Sai daquele banheiro com o coração apertado dentro no peito, de uma forma que me deixava com dificuldade de respirar. Meu rosto ainda ardia do tapa que Thiago havia me dado, assim como minha boca tinha um gosto estranho que me deixava com nojo, tanto dele como de mim mesma, porque não podia ter deixado isso acontecer.

Olhei para trás quando deixei o prédio de história, apenas para ter certeza de que Thiago não tinha vindo atrás de mim. Mas ele pareceu chocado demais quando o bati de volta, como se nunca fosse capaz de imaginar que eu faria algo assim. Ele tinha se acostumado com uma Júlia fraca que o deixava fazer o que quisesse. Mas ela tinha morrido no momento que percebeu o quão ruim ele era.

Meu celular estava vibrando na mochila com mensagens de Melissa querendo saber porque eu estava demorando tanto. Me obriguei a responde-la que já estava chegando, ignorando a mensagem de Felipe, porque não estava pronta pra falar com ele depois das coisas que Thiago havia me dito.

Segui para o restaurante universitário com meu coração disparado, sentindo a pior sensação de todas ao meu redor. Não tinha certeza de quantas vezes tinha esfregado minha mão nos meus lábios, querendo tirar a sensação da boca de Thiago ali, porque aquilo estava fazendo meu estômago queimar e se revirar.

Arrumei minha comida com movimentos lentos e doloridos, que pareciam exigir muito de mim. Melissa já estava sentada almoçando quando cheguei na mesa dela, torcendo para que ela não notasse o quão afetada eu estava naquele momento, porque toda a animação que ela reparou em mim antes, tinha evaporado no instante que vi Thiago.

Não demorou muito para Manu, Bernardo, Felipe e Eduardo aparecerem, vindo se sentar com nós duas. Fiz de tudo para não olhar pra Felipe, porque eu tinha certeza que ele notaria que tinha alguma coisa estranha. Ele estava sempre prestando atenção em mim, o que deixava praticamente impossível esconder qualquer coisa dele.

—Tudo bem? —Manu tocou minha mão por baixo da mesa, me olhando com uma expressão preocupada. A olhei um pouco perdida, antes de balançar a cabeça que sim, sentindo os olhos de Felipe em mim o tempo todo, porque ele nem tentava ser sutil.

—Sim, só estou cansada. Sabe que no final do semestre é socado de provas. —Resmunguei, soltando uma respiração pesada, porque aquela foi a única mentira que consegui pensar no momento.

Fiquei rígida quando meu celular começou a tocar na minha mochila. Não me mexi para pega-lo e continuei comendo, porque tinha medo de ser Thiago, surgindo de novo pra continuar me infernizando. Depois de hoje tinha certeza que ele não iria desaparecer tão facilmente e não fazia ideia de como lidar com essa situação.

—Seu celular está tocando, Jujuba. —Felipe murmurou, fazendo Melissa e Eduardo se engasgarem com a comida, enquanto eu erguia a cabeça para olha-lo pela primeira vez, o lançando um olhar afiado enquanto apertava os talheres na minha mão, me segurando para não soltar um xingamento.

—Jujuba? —Eduardo se virou para Felipe para incomoda-lo pelo apelido, mas eu desviei os olhos e parei de prestar atenção, sentindo vontade de me enfiar dentro de um buraco e não sair nunca mais. Não percebi que estava quase chorando quando senti as lágrimas queimarem nos meus olhos e minha garganta arder.

—Você não vai atender? —Manu questionou, me fazendo olha-la de novo, tentando me controlar para não chorar na frente deles. —Quem é?

—Mais tarde a gente conversa. —Afirmei, vendo a preocupação exposta no rosto da minha melhor amiga. Mas eu já tinha ficado de pé e deixado a mesa, deixando a mesa em um clima estranho, porque foi impossível fingir que estava tudo bem, quando não estava.

[...]

Fui trabalhar com a maior má vontade, porque só queria ficar em casa olhando para o nada e me lamentando pela minha vida. Como eu imaginava era Thiago me ligando, com outro número desconhecido. Não entendi em nenhuma das vezes, mas também não tive coragem de o bloquear dessa vez, porque ficava lembrando da ameaça dele sobre Felipe.

Não conversei com Manu e Diogo no trabalho, fazendo um ótimo trabalho em evitá-los o tempo todo, até conseguir ir pra casa antes dos dois. Quando cheguei me senti uma criança covarde, querendo correr pra casa, pro colo dos meus pais. Fiquei pensando em ligar para Léo, desejando que ele viesse pra cá mais cedo do que tinha prometido.

Número desconhecido — É melhor parar de me ignorar e conversar comigo, Júlia.
Ou as coisas vão ficar piores do que já estão.
Eu estava falando sério sobre aquele seu namoradinho.
E pode ter certeza de que não vou esquecer do tapa que você me deu.

Joguei meu celular longe ao ver a mensagem de Thiago, soltando um soluço quando as lágrimas finalmente vieram, transbordando dos meus olhos sem controle. Me encolhi na cama, escondendo meu rosto entre os joelhos, desejando desaparecer do mundo, porque não queria ser obrigada a suportar Thiago de novo. Não quando eu sabia o quão horrível ele podia ser.

Chorei sem parar, ouvindo meu celular tocar e vibrar. Mas não me mexi para atender quem quer que fosse, porque as lágrimas estavam deixando meus olhos embaçados e fazendo meu corpo tremer em milhares de soluços. Só me levantei quando ouvi Manu na porta, batendo e me chamando, com um tom de voz preocupado que fez meu coração se apertar.

—Ei, o que foi? —Manu ficou pálida quando abri a porta e ela me encontrou chorando, provavelmente com o rosto vermelho e inchado. Aquilo me fez sentir mais vontade ainda de chorar, porque eu me sentia patética de uma forma vergonhosa. —Júlia, o que está acontecendo?

Balancei a cabeça negativamente, tentando abrir a boca para dizer algo, mas nada saia. Manu soltou uma respiração pesada ao ver meu estado, abrindo os braços. Não pensei duas vezes antes de afundar ali, sentindo meu coração se despedaçar quando ela me abraçou apertado, deixando claro que estaria ali para o que eu precisasse.

Não sei quanto tempo ficamos assim, até eu conseguir me acalmar um pouco e a puxar para dentro do meu quarto. Manu se sentou na minha cama e eu me deitei com a cabeça no seu colo, tomando coragem para contar a ela tudo que tinha passado com Thiago, porque tudo que ela sabia até hoje era que ele tinha sido um babaca comigo. Mas ele foi muito mais do que só isso.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora