Capítulo 2 🥀

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Mal podia tolerar a presença dela ali em seu lar, seu santuário. Só de saber que ela estava ali era o suficiente para deixar Simone louca e com vontade de estrangular Mary Jane por ter lhe mandado uma mulher tão linda. Será que Mary não percebia que não estivera perto de uma mulher desde o acidente? E até aquela manhã não tivera sequer uma referência, atém da palavra de Mary, garantindo que encontrara alguém muito qualificado. Não tivera tempo de pesquisar o passado dela e embora tivesse encontrado apenas parte dele, não havia fotos, embora tivesse imaginado como Soraya era já que vencera tantos concursos de beleza. Ainda assim, era como se não desejasse mostrar o lindo rosto. Simone tinha uma boa razão para não mostrar o rosto. Mas qual seria a de Soraya?

Aos 24 anos, linda. Simone com seus 40 depois do acidente ficara horrível.

Que droga! Simone fora muito clara ao pedir uma governanta para cuidar de Charllote. Pedira uma mulher, forte e saudável o suficiente para cuidar de uma garota de quatro anos e que compreendesse que a responsabilidade de Charllote seria dela. Não podia deixar que Charllote a visse. Nunca. A criança fugiria dela e Simone sabia que não poderia suportar isso. Não outra vez. As pessoas fugiam dela por causa das cicatrizes que a desfiguravam. Não pretendia assustar uma criança.

Charllote. Simone cerrou os punhos. Uma criança cuja existência ela ignorara até algumas semanas atrás, quando a ex-mulher morrera. Parecia que ela era a única pessoa no mundo que podia cuidar da menina.

Mais uma vez, amaldiçoou Helena por não ter lhe dito que carregava um filho ao deixá-la. Só Deus sabia como precisara disso, quatro anos antes. Algo para fazê-la suportar as inúmeras cirurgias, a difícil recuperação e a dura realidade de que nada poderia ser feito para recuperar o corpo desfigurado.

Afastando-se da porta, Simone pegou o telefone e discou um número, mal contendo a raiva.

— Wife Incorporated. Mary Jane.

— Que droga, Mary, ela é linda! - De tirar o fôlego, acrescentou mentalmente, lembrando-se de cada curva do corpo perfeito, coberto pelo conjunto branco.

— Então saiu da sua toca por tempo suficiente para observá-la?

— Por que fez isso? - Simone ouviu-a suspirar.

— Soraya é uma das pessoas mais bondosas que conheço. Eu não fiz isso por você, meu bem. Fiz por Charllote. Soraya adora crianças e já trabalhou com elas antes. Tem todas as qualificações que você queria. E culta, mas não a ponto de não conseguir se comunicar com uma criança. Além disso, é divertida e criativa. Dê-lhe uma chance.

— Não tenho escolha. Charllote chega dentro de dois dias.

— Vai dar certo, Simone.

— Encontre outra pessoa, imediatamente. Eu não a quero aqui. - Houve uma pausa do outro lado, e ao falar, a voz de Mary soou fria e brusca.

— Helena devia ter lhe contado sobre Charllote, eu concordo, e se não tivesse jurado que não o faria, eu mesma teria dito. Mas quando ela disse que a deixara porque tinha se tornado fria e mesquinha, não pude acreditar. Agora, vejo que estava certa.

Simone sentiu como se ela a tivesse esbofeteado.

— Helena abandonou porque não pôde suportar as consequências do acidente. Queria que eu fosse à mesma de antes e que agisse como antes. Isso nunca vai acontecer. - Ela respirou fundo, antes de prosseguir — Encontre outra pessoa. - E sem despedir-se, desligou. Só ao largar o telefone percebeu como o segurara com força.

Deixando-se cair na poltrona de couro, atrás da escrivaninha, virou-se para a janela. O sol lutava para sair de trás das nuvens, refletindo-se no riacho, enquanto Simone lutava para afastar as memórias dolorosas do acidente. A dor cortante, a reação de horror de Helena quando tiraram as bandagens, a repugnância que não conseguira disfarçar. Sempre imaginara que ela estaria ao seu lado, em qualquer situação e ficara chocada ao vê-la partir. Devia ter imaginado que ela faria isso, quando se recusara a dividir a cama com ela e até mesmo a tocá-la depois do acidente. Ela podia ver a repulsa, cada vez que estendia a mão para ela. A noite anterior ao acidente tinha sido a última vez que sentira prazer e ternura com uma mulher.

Beauty And The Beast  ( Versão Simoraya )Onde histórias criam vida. Descubra agora