Capítulo 7 🥀

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— Sua mãe acha a ideia maravilhosa.

Mentirosa, pensou Simone. E embora não pudesse ver o sorriso de Charllote, pôde senti-lo, completamente. Soraya estava decidida a fazê-la parecer uma heroína diante da filha.

— É um gato ou uma gata? - Sussurrou Charllote. Houve uma pausa, uma risada, e então, a resposta.

— É uma gata, querida.

Três presenças femininas a mais na casa. Como ela podia suportar aquilo? Ainda assim, encostado no batente da janela, Simone desejou estar com elas. Queria ver o rosto de Charllote , segurando a gatinha. E a dor sufocou-a, mais uma vez.

—  Os olhos dela parecem os seus, Soraya.

— Não acho que os meus sejam tão castanhos, ou tão lindos. - Mas eram, pensou Simone. Cor de chocolate e misteriosos, como os de um felino.

— Vamos mantê-la aquecida. Pobrezinha, está tremendo. Vamos para a sala, acender a lareira. Só tem que mantê-la enrolada na toalha e deixar que se acostume com você.

— Como nós vamos chamá-la?

Nós. Ela já estava apegada a Soraya, pensou Simone, e quando as vozes desapareceram, não conseguiu ficar parada. Precisava ao menos ouvir o que diziam, já que não podia ver a menina, pensou, descendo pela escada de serviço.

—  ... Mas nunca soube de um gato que atendesse quando chamado pelo nome. - Ouviu ela, alguns minutos depois.

— Já teve gatinhos? - Perguntou Charllote, e Simone, deslizou pela porta escondida, entrando na cozinha e espiando. Soraya acendia o fogo na lareira.

—  Sim. Quando eu era criança tínhamos pelo menos uns três, além dos cachorros e das cabras. - Ela sorriu para a menina, fazendo o sangue de Simone ferver nas veias. — Gado, galinhas e montes de amendoins.

— Amendoins?

— Meu pai é fazendeiro. Planta amendoins. - O rosto de Charllote se iluminou.

— Ele faz manteiga de amendoim?

— Não. Ele vende a colheita para as fábricas. - A risada de Charllote encheu o ar, e Simone sentiu uma estranha emoção percorrê-la. — O que acha? - Perguntou, apontando a lareira.

— Está gostoso, mas a gatinha ainda está tremendo.

— Fale com ela com carinho, até acostumar-se com a sua voz e perceber que não vai machucá-la. Enxugue o pelo dela devagar, enquanto vou buscar um pouco de leite.

Sentada no canto do sofá, Charllote olhava para Soraya, com olhos muito brilhantes.

— Muito, muito obrigada, Soraya.

— Por nada, querida. - Disse Soraya, beijando-a, carinhosamente. Soraya afastou-se, parando junto à porta para observar a menina e a gatinha. Animais eram uma das melhores coisas que havia para crianças que cresciam na fazenda.

Na cozinha iluminada apenas pela luz do fogão, ela abriu a geladeira e tirou o leite, virando-se para o armário para pegar um pires. A mão parou no ar.

— Há quanto tempo está aqui? - Perguntou, suavemente, percebendo que ela estava ali, atrás dela, do outro lado do balcão. No silêncio, podia ouvi-la respirar. Não tinham ficado tão perto desde o beijo na escada e Soraya estremeceu ao lembrar. Imaginara que ficar longe dela apagaria as lembranças, mas estava enganada. O simples fato de sabê-la tão perto deixava seu corpo em chamas.

— Tempo suficiente para saber que é filha de um fazendeiro.

— Isso mesmo. Sou a mais velha.

— Quantos irmãos têm?

— Cinco. Três meninas e dois meninos. - Ela despejou leite no pires. — A diferença de idade é pequena.

— Deve ter sido bom. Fui à única filha.

Algumas vezes ela desejara ser filha única, mas não muitas.

— Era barulhento, apertado, mas não trocaria minha família por nada.

Beauty And The Beast  ( Versão Simoraya )Onde histórias criam vida. Descubra agora