Deslizando os dedos pelos livros nas prateleiras, leu os títulos, continuando até a escrivaninha e sentando-se na cadeira de couro. Será que ela lia todas as noites? Será que a presença dela lhe roubara toda a liberdade?Será que, algum dia, se aproximaria dela e de Charllote e teria uma vida normal? Ela conhecia bem as crianças e sabia que a menina não aceitaria aquela situação por muito tempo. Por isso, temia o momento em que Charllote perguntaria pela mãe. Só porque escolhera viver escondida, não podia esperar que a garotinha aceitasse a mesma vida. Soraya disse a si mesma que só deixaria o castelo quando tivesse certeza de que mãe e filha podiam viver juntas.
Virando-se, parou ao ver os porta-retratos, arrumados num canto da escrivaninha. Inclinando-se, pegou a foto do casamento.
— Meu Deus. - Murmurou, afundando na cadeira.
Ali estava Simone, antes do acidente. Ela era maravilhosa. A ex-esposa era linda, perfeita, mas era ela quem se destacava na foto. Os cabelos escuros, os olhos castanhos, quase como os de Charllote, o sorriso lindo. Os traços do rosto pareciam ter sido esculpidos por um artista clássico e eram perfeitos, aristocráticos. Não era apenas bonita. Era fascinante, e o coração de Soraya deu um salto, ao pensar que aquela mulher sentia-se atraída por ela.
No outro lado do corredor, escondido nas sombras, Simone ouviu as palavras sussurradas e mal pôde suportar a dor. Tinha se esquecido da foto. Desde o colegial, tivera mais mulheres do que podia contar, graças a sua aparência. Até o acidente.
O olhar dela pousou nas pernas nuas, quando Soraya mexeu-se na cadeira. Ela vestia apenas uma camisa preta e comprida, e o corpo dela enrijeceu, sabendo que apenas alguns metros as separavam. Mas a distância não fazia diferença. Se visse o rosto dela, saberia que a mulher da foto tinha morrido, quatro anos atrás.
Soraya franziu a testa, colocando a foto no lugar. Mais uma vez, olhou ao redor. Havia uma sombra no corredor e ela se levantou depressa, caminhando até a porta.
— Apareça, onde estiver, apareça.
Ninguém respondeu. Mas tinha certeza de que havia alguém ali.
— Pare com isso, Sra. Tebet. - Advertiu Soraya, andando até o centro do saguão e tentando enxergar na semi escuridão. — Só é um fantasma porque quer. Se tiver algo a dizer, fale!
O silêncio ecoou no vazio, mais uma vez.
— Pois bem, eu tenho algo a dizer!
Um movimento no fim do largo corredor atraiu sua atenção, e Soraya correu, entrando na cozinha a tempo de vê-la sair, fechando a porta atrás de si. Ela correu para fora.
— Simone!
Por um instante ela hesitou, e então, protegido pelo agasalho preto com capuz, começou a correr para a praia. Ela observou-a até que os desenhos fluorescentes nos tênis desapareceram na escuridão.
Não pode viver nas sombras para sempre, pensou.
Crianças eram muito mais resistentes do que os adultos, pensou Soraya, na manhã seguinte.
Imaginara que a filha de Simone estaria assustada e com medo na manhã seguinte, mas se enganara. Charllote aparecera no quarto dela, bem cedo, com um sorriso no rosto e cheia de curiosidade. Queria ver a nova casa, brincar, e Soraya decidiu esquecer o trabalho de casa e dedicar-se a menina.
•🥀🏰•
Charllote riu muito quando Soraya tentou descer pelo escorregador, que por certo não fora feito para adultos, e acabou caindo de um modo desastrado.
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Beauty And The Beast ( Versão Simoraya )
FanfictionConvocada como se fosse para servir a Rainha, Soraya Thronicke foi contratada para trabalhar como babá da filha de Simone Tebet. Mas o coração de Simone estava tão despedaçado quanto seu rosto. Para Simone, a linda e doce Soraya era uma tentação e u...