Capítulo 10 🥀

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— O quê?

— O que acha que uma garotinha de quatro anos pode pensar ao perceber que a própria mãe não quer vê-la nem falar com ela? Que estranho, não é? Como pode sentir-se rejeitada? - Provocou Soraya, sarcástica.

— Droga!

— Concordo. O que pretende fazer a respeito?

—  O que posso fazer?

— Desça e venha falar com ela.

— Acha que não quero isso? Mas não vou aterrorizar minha própria filha.

— Ela a ama incondicionalmente. É algo que as mães conseguem dos filhos, sem precisar fazer nada em troca. - Soraya desligou o interfone, recusando-se a continuar. Mas depois de alguns instantes, apertou o botão mais uma vez. — É sua vez de jogar. Faça-o agora, ou saia de campo.

— O que quer dizer com isso? - A voz dela parecia ameaçadora, mas Soraya não se importou.

—  Fique escondida até ela esquecer que tem outra mãe, até que aprenda a viver sozinha. Talvez seja melhor. - Ela desligou novamente, voltando a preparar o jantar.

Simone chamou-a duas vezes, mas Soraya não atendeu. Por fim, recostou-se na poltrona de couro, esfregando as mãos no rosto. Mulher teimosa. Quem ela pensava que era para ensinar-lhe como cuidar da filha? Era apenas a babá, mais nada. Ela estabelecia as regras. Charllote era sua filha, e iria criá-la como achasse melhor.

Simone estava amarrando os tênis, quando viu a patinha branca sob a porta e ouviu o miado. Endireitando-se, abriu a porta. A gatinha espiou, erguendo o olhar para vê-la. Era impossível não sorrir. A gatinha esfregou-se nos tornozelos dela, ronronando, e Simone abaixou-se, pegando-a no colo.

— Está invadindo meu quarto, Cruella.

Era tarde, a casa estava silenciosa. Charllote estava na cama, e ela imaginava que Soraya estaria no quarto, ou no andar de baixo. Já fazia algum tempo que não ouvia qualquer ruído. A gatinha miou, e Simone apertou-a contra o peito, decidida a levá-la de volta para a filha, antes de sair para a corrida noturna. Mas a gatinha deslizou para cima, lambendo-a no pescoço. Ela estremeceu ansiosa pelo contato com outra criatura viva, e enterrou o rosto no pelo macio, enquanto descia as escadas. Cruella ronronou mais alto.

Simone entrou silenciosamente no quarto de Charllote, iluminado apenas pela pequena lâmpada num dos cantos. Ela colocou a gatinha na cama e observou-a, enquanto ajeitava o cobertor. A mão da menina imediatamente pousou nas costas do animalzinho.

Ela pensa que você não a quer aqui, dissera Soraya. Desde aquela manhã, ela tentava pensar num modo de fazer a menina entender que era a melhor coisa que acontecera em sua vida. Que precisava muito dela. Cuidadosamente, sentou-se na beirada da cama, observando-a dormir. Cruella ergueu a cabeça, lançou lhe um olhar sonolento e voltou a dormir.

Charllote espreguiçou-se e Simone ficou tensa.

Os olhos dela se entreabriram e ela ficou imóvel, o coração disparado. Estava tão escuro que não podia ver mais do que a silhueta dela. Não queria que pensasse que havia algo estranho ali.

— Mama?

Ela ouviu a voz trêmula e rezou para que não estivesse com medo.

—  Sim, princesa?

— Está zangada?

— Não, querida. Por que achou que estaria?

— Nunca vem me ver.

— Estou aqui agora, não estou?

Houve uma pausa, e então ela respondeu.

—  Sim, acho que sim.

Simone fez o que não deveria. Inclinando-se, tomou-a nos braços. A gatinha protestou, e ela colocou-a sobre o travesseiro. Os braços de Charllote rodeou o pescoço, e ela se aninhou. A garganta de Simone apertou-se, e ela sussurrou, junto ao ouvido da menina:

—  Eu te amo, Charllote. Amo demais. Estou tão feliz por estar comigo agora.

— De verdade?

— É claro, meu bem. Eu te amo muito. Gostaria de poder ir lá fora, brincar com você, mas é impossível.

— Por quê?

— Porque não posso ficar no sol.

— Seus cortes ainda doem mama? Mamãe disse que foram muito fundos.

Simone fechou os olhos. Fundos? Eles tinham atingido até sua alma.

—  Sim, querida. Às vezes doem muito.

De um modo que ela esperava que ela jamais sentisse.

— Oh! - Charllote suspirou, aninhando o corpo quente e macio contra o peito dela. — Uma vez eu caí e machuquei o joelho. Doeu por muito tempo.

Simone sentiu a garganta seca. Ela tentava demonstrar que compreendia, e o coração dela apertou-se.

—  Eu estava tão sozinha até você chegar filha!

—  Eu também, mama. - A mão delicada tocou a cicatriz na garganta dela, sem parecer notá-la. — Eu te amo - Sussurrou, bocejando em seguida.

Amor incondicional, dissera Soraya. E perdão? Ela acariciou-a e ninou-a, sem vontade de deixar o presente tão precioso que a vida lhe dera. Os braços dela afrouxaram o aperto, e ela percebeu que adormecera. Afastando a gatinha, delicadamente colocou Charllote na cama. Cruella ajeitou-se, e as duas bocejaram.

Simone afastou-se.

— Não vá, mama.

Ela sorriu ternamente e sussurrou.

— Vou ficar aqui, meu bem. - E sentando-se na cadeira de balanço, pegou um livro de histórias. Os olhos de Charllote se abriram, e no escuro, ela começou baixinho.

— Era uma vez, numa terra distante, uma linda garotinha...

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Notas da Autora: Aproveita os refrescos que eu irei demorar para voltar, bjs minhas BELAS 🥀.

Beauty And The Beast  ( Versão Simoraya )Onde histórias criam vida. Descubra agora