Capítulo 15 🥀

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Simone ficou de costas, a mão apoiada no batente da janela alta. O luar brilhava nos cabelos escuros, e mais uma vez Soraya admirou-se ao ver como era alta e definida.

— Tem medo de mim? - Ela perguntou

— Não vê como estou tremendo? Sabe, não seria tão misteriosa para as pessoas da cidade se não se escondesse deles.

— Eles também não se aproximam.

— Não é de admirar. Com a muralha ao redor do castelo e toda aquela floresta de carvalhos à volta da propriedade, francamente Simone, por que não planta flores? As velhas árvores são bonitas, mas ficam um tanto tenebrosas ao entardecer e...

— Soraya.

— Sim?

— Está fugindo do assunto. - Ela baixou os braços e virou-se, ficando de frente para ela, as costas apoiadas na janela.

O coração de Soraya batia disparado. Podia ver o rosto dela. O lado direito, sem cicatrizes, e era muito bonita, os cabelos negros eram perfeitamente arrumados, a blusa imaculadamente branca. Como sempre, usava calça preta de couro e blusa branca.

— Você mesmo corta seus cabelos?

Ela passou os dedos pelos fios escuros e riu baixinho.

— Acho que dá para perceber, mesmo no escuro.

—  Posso cortar para você, se quiser. Costumava cortar os cabelos dos meus irmãos e irmãs.

— Não, obrigada. Ninguém vê, mesmo.

— Não é essa a questão. - Soraya levantou-se. — Você vê Simone... — Ela parou.

—  O que foi?

— Não podemos continuar assim. Esconder-se nas sombras não faz bem a nenhuma de nós.

— É a sua opinião.

—  O que ganha com isso?

— Minha privacidade, minha dignidade. Meu amor-próprio. - Ela sacudiu a cabeça.

— Não é verdade. Apenas mantém viva as feridas que ela causou. Nem todos são como Helena.

— Faz muito tempo que superei o que aconteceu com ela.

—  Acredito. Mas ela deixou uma marca profunda, e não gosto disso.

— Que pena. - Disparou ela.

Soraya sentiu as defesas dela se erguerem como uma onda gigantesca.

— Então é assim? Pretende ficar escondida até transformar-se numa Fera selvagem?

— Não force a situação. Sabe que não é assim.

— Ora, Tebet, pare com isso. Sei quem você é não como aparenta ser. - Ela deu um passo à frente. — Deixe-me vê-la.

— Não.

— Você me deu o presente mais precioso que já recebi. - Disse, apontando as tintas, telas e pincéis. — Você me viu como sou. Não a beleza que ganhou os concursos. Mas não me deixa lhe dar nada.

Ela sabia o que Soraya oferecia. Era a promessa de não rejeitá-la, de não sentir repulsa. Mas não podia se arriscar. Não agora, quando começava a se sentir como uma mulher outra vez, não quando ela a fazia desejar ir para a luz, quando queria acima de tudo sentir o perfume dela.

— Você me deu uma chance com minha filha.

—  E isso é suficiente? - Ela não respondeu.

— É?

— Não! - Ela quase gritou. — Não, desde que você entrou em minha casa.

Soraya respirou fundo, dando um passo à frente.

Simone fitou-a da cabeça aos pés, o rosto lindo iluminado pelo luar, os longos cabelos brilhantes sobre os ombros, o corpo escondido pelo roupão fino e pelo pijama.

—  Mas é assim que tem que ser.

—  Não, não tem. Não comigo.

Ela fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás. Simone abria e fechava os punhos, enquanto o perfume de Soraya a envolvia, enfraquecendo seu autocontrole.

— Tenho que ir. Agora. - Soraya segurou-a pelo braço. — Deixe-me ir, mulher.

O calor dela parecia atravessar sua roupa.

— Por quê?

Ela endireitou a cabeça e fitou-a. Soraya estava a poucos centímetros dela. O desejo a envolveu vivo e intenso, e ficou difícil respirar. Engolindo em seco, confessou.

— Porque se tocá-la não poderei parar.

O coração de Soraya acelerou e ela ergueu a mão, tocando-a no rosto, acariciando de leve o lado sem cicatrizes. Ela se encolheu, e Soraya sentiu toda a dor do isolamento, da solidão.

— Oh, Soraya. - Disse Simone, sem fôlego, aspirando o perfume da mão macia. — Não posso. Vou enlouquecer.

— Não, não vai.

— Sim. - Murmurou ela, segurando a mão macia e beijando a palma, os dedos. Todo o corpo de Simone tremia.

Aquela mulher forte, que sobrevivera à tragédia, que se escondera nas sombras, tremia por causa dela. E isso fazia com que se sentisse especial, querida. Naquele momento, Soraya soube que seu coração estava perdido, e seu corpo também desejava a mesma coisa.

Deslizando os dedos por entre os cabelos escuros, puxou-a para mais perto.

— Se ficar louca, por favor, me leve com você.

Num segundo ela aproximou os lábios dos dela, devorando, invadindo, ardente de desejo e paixão. Ela a desejava mais do que qualquer coisa, mais até do que à vontade de ficar sozinha. Soraya abriu os lábios e a língua exigente penetrou mais fundo. Simone não conseguia respirar, nem pensar, só sentir, depois de um longo tempo em que não sentira nada além da enorme solidão e desolação. Soraya era um raio de sol na escuridão que a vida dela se tornara, uma tentação à qual não podia resistir, não quando estava em seus braços, não quando ela a beijava loucamente. O braço de Simone circundou lhe a cintura, apertando-a, fazendo com que se excitasse, mostrando-lhe o que um simples beijo podia provocar.

Beauty And The Beast  ( Versão Simoraya )Onde histórias criam vida. Descubra agora