5- Culpa e promessas

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HOSEOK

A manhã era chuvosa e fria, mas isso não impediu que quase todos os alunos da universidade viessem ao funeral de Miyeon. Todos, inclusive eu, pareciam estar agora caindo na realidade de que não tem mais volta para ela. E que de fato ela estava morta. Acabou.

Envenenamento.

Essa palavra ecoava na minha cabeça há dias. A teoria de que a causa da morte talvez tenha sido suicídio se fortificou após encontrarem antidepressivos em seu apartamento. Mas eu não consigo acreditar que ela simplesmente acabaria com a própria vida assim.

Essa não era a Miyeon com quem namorei durante um ano. Isso não combinava com ela, e por mais que ela estivesse diferente, eu não acho que ela faria isso com ela mesma. Se havia algo que ela com certeza amava, era viver.

Alguém a envenenou, e não há dúvidas de que isso ocorreu durante a festa. No entanto, eu estava tão imerso em meus próprios problemas e preocupado com minha própria situação a ponto de nem notar que ela estava se sentindo mal. Acabei discutindo com ela duas vezes, sem perceber o óbvio diante dos meus olhos.

A culpa me sufocava, e eu me sentia tão sujo e egoísta que parecia que quem havia a envenenado fora eu mesmo.

Observo os pais de Miyeon no outro extremo do amplo salão onde seu corpo estava sendo velado. Seu pai parecia inconsolável, o olhar perdido enquanto fitava uma janela. Era evidente que ele estava atormentado, sem saber como agir ou lidar com a situação, perdido sem a presença de seu bem mais precioso. Ao longo do tempo, ele sempre tratou a filha como uma verdadeira princesa, cuidando dela com um amor infinito. Nas palavras do senhor Cho, Miyeon era tudo.

Pensar nisso, deixa meu coração mais apertado. Ele perdeu tudo que importava para ele.

Observo a mãe de Miyeon, cujo olhar parece distante, carregado de dor, mágoa e uma mistura de sentimentos indecifráveis, ao encarar seus olhos. Embora lágrimas tenham molhado seu rosto, isso não ocorre agora. Ela aparenta estar resignada, se é que é possível sentir alguma forma de conformidade neste momento tão difícil.

Ao perceber que eu estou a encarando, ela também me encara por alguns segundos. Pode parecer estranho, mas ela parecia um pouco tensa, como se estivesse com medo de algo. Provavelmente deixo transparecer que estava intrigado, já que ela desvia o olhar rapidamente e vira de costas para não me encarar.

Minha cabeça está a mil novamente, e meu coração dispara a cada segundo. Soyeon, minha atual namorada, que está ao meu lado, me olha atentamente se questionando se devia me perguntar o que aconteceu ou não. Afinal, Miyeon disse algumas coisas a ela, que fizeram ela crer que eu tinha uma amante. Elas tiveram uma briga serissima por esse motivo. Apesar de ter convencido ela de que era mentira, o que de fato é, e estarmos bem, eu conseguia ler em seu olhar cansado e seus ombros caídos a pergunta silenciosa: O que você está escondendo de mim?

Eu realmente queria confessar a ela. Sinceramente, me sentia mal por não ser honesto, mas minha fraqueza me impedia de falar. No entanto, meus pais gostam tanto dela que tenho receio de que ela me abandone, algo que, sem dúvida, acontecerá, e tudo voltará a ser o inferno que era antes. Pela primeira vez em anos, meus pais não estavam me pressionando tanto. Eu não queria que essa tranquilidade acabasse.

- Acho que você não vai conseguir ficar em paz se não fizer isso. - Soyeon diz segurando minha mão, me olhando nos olhos. - Então faça. Mas Seok, lembre-se de que a culpa não é sua, está bem? Não tinha como você saber, alguns venenos - sua voz falha. - alguns venenos agem de forma tão rápida e silenciosa que ninguém percebe até ser irreversível e os sintomas físicos aparecerem.

Culpa Inocente - Bangpink Onde histórias criam vida. Descubra agora