A ÁRDUA BEM-AVENTURANÇA DE SABER FAZER SILÊNCIO

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O mundo é dos espontâneos? O mundo é dos impetuosos?O mundo é dos que se rebelam?O mundo é dos que se fazem, aos gritos, ouvir?

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O mundo é dos espontâneos?
O mundo é dos impetuosos?
O mundo é dos que se rebelam?
O mundo é dos que se fazem, aos gritos, ouvir?

Fazer barulho é fazer-se visível,
Fazer barulho é mostrar mais de si.
Creio, no entanto, que não é mostrar poder,
Não é mostrar domínio, nem maestria.

O mundo é, em essência - se é que há -, silêncios,
Porque o que não se diz, diz mais do que o que se diz.
Não dizer diz muitíssimo mais do que dizer.

Por isso, não sou, nem nunca serei, de fazer estardalhaços.
Calo-me sempre, por vontade ou por conveniência.
Recolher-se à insignificância de calar
É o melhor comportamento que há,
Pois,  calar quase nunca é consentir.

No entanto, ao que me parece, ser barulhento surte um rápido efeito...
Bate-se na mesa, quebra-se a louça, esgoela-se e pronto: Silêncio! Fim!

Fim? Que fim? Não é aí que termina,
O silêncio é apenas o início, pois.
É após a demonstração de barulho
Que abre-se espaço para os silenciosos.

E eles, meus nobres amigos, tecem a história!
À propósito, já viram o tempo falar ou o vento, por ele mesmo, soltar algum grito?
O tempo é engenhoso e o vento é sagaz!

O tempo corrói tudo, o vento destrói tudo;
Mas eles, ambos, exercitam, sobretudo, o silêncio.
Quem tem ouvidos aguçados tente ouvir o silêncio...
Ele cala dizendo tudo, diz certa poetiza.

Quem me olha diz que nada posso fazer,
Quem me olha diz que nada sou,
Quem me olha esquadrinha-me pela franqueza,
Quem me olha vê o silêncio.

Dentro de mim, porém, há pesos, hematomas, gritos, Socos, explosões, catástrofes... verdadeiras hecatombes!
Vê-se? Não, pois calar-me me basta!

Calar-se e ser calado, às vezes, dói dolorosamente,
Pois, quando me calo, explodo por dentro,
Não há catástrofe aqui fora...
Mas há, em mim, crateras e corrosões!

Não falo, mas tenho o prazer dolorido de me calar...
Não falo, pois sei que, se falar, alguém morre.
E não falo por sabedoria, pelo bem coletivo.
Guardo comigo, porém, o poder de ser o vento e o tempo!

Letras de um DesconhecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora