Vulnerabilidade desprezada

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Depois de cair, estou de volta! Giovanna e Alexandre do teatro voltam em Minha Julieta novamente sendo postada 🤍
A primeira parte (Meu Romeu) vou voltar a postar depois que acabar essa, pra quem não leu poder começar do zero de qualquer forma... Mas para quem acompanhava antes, desfrutem de um desfecho! rs

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Hoje
Rio de Janeiro
Apartamento de Giovanna Antonelli

No Japão, eles têm o kintsugi — a arte de remendar porcelanas preciosas com ouro. O resultado é uma peça que nitidamente foi quebrada, mas que por isso mesmo é mais bonita.

É um conceito que sempre me fascinou.

É comum as pessoas tentarem esconder suas cicatrizes, como se o mais leve dano provasse o quanto são fracas. Acham que as cicatrizes equivalem a erros e os erros, a vergonha. A perfeição para sempre desfigurada.

Kintsugi faz o oposto. Ele diz: "Há beleza que nasce da tragédia. Vejam estas preciosas linhas, quebradas pela experiência".

Enquanto estou parada no corredor, olhando fixamente para a porta da frente, que reverbera com as batidas do meu antigo amante, ocorre-me que, apesar de o kintsugi ser um conceito nobre, não muda a realidade de que, uma vez que alguma coisa é quebrada, nada mais é a não ser isso.

Um belo reparo, não importa quão elegante seja, não a deixa inteira novamente. Continua sendo uma porção de pedaços colados, uma imitação de sua forma anterior.

A julgar pelo seu e-mail desta manhã, que desnudava sua alma e incluía uma épica declaração de amor, creio que Alexandre quer me remendar. Irônico, considerando que, para começar, foi ele quem me quebrou.

Sei que você acha que fui embora porque eu não te amava, mas você está errada. Eu sempre te amei, desde o momento em que coloquei os olhos em você.

Passei tanto tempo acreditando que tinha recebido o que merecia quando as pessoas me deixavam que não parei para pensar que recebi o que merecia quando te encontrei. Não consegui ver que, se eu parasse de ser um grande idiota inseguro por cinco minutos, daí talvez... só talvez... eu conseguisse ficar com você.

Quero ficar com você, Giovanna.

Você precisa de mim tanto quanto preciso de você.
Estamos ambos vazios um sem o outro. E levei muito tempo para perceber isso.

Lá está a batida de novo, mais forte dessa vez. Sei que preciso responder.

Ele está certo. Estou vazia sem ele. Sempre estive. Mas o que tenho para lhe oferecer a não ser a casca da mulher por quem ele se apaixonou?

Não seja idiota como eu fui deixando as inseguranças vencerem. Deixe a gente vencer. Porque sei que você pensa que me amar de novo é um tiro no escuro e que suas chances são sombrias, mas me deixa dizer uma coisa: eu sou a coisa real. Não consigo parar de te amar, mesmo que eu tente.

Ele é capaz de me amar e ainda assim me deixar. E já provou isso mais de uma vez.

Ainda estou morrendo de medo de você me magoar? Claro. Provavelmente da mesma forma que você morre de medo de que eu te magoe. Mas tenho coragem suficiente para acreditar que o risco vale a pena. Me deixe ajudá-la a acreditar.

Corajosa é uma palavra que não uso para me descrever há muito tempo. Meu telefone vibra com uma mensagem.

Ei. Estou na porta da sua casa. Você está aí?

Excitação e medo tomam meu corpo, apostando corrida para ver qual dos dois consegue paralisar meu cérebro primeiro.

Quando terminei de ler o e-mail, precisava vê-lo. Mas, agora que ele está aqui, não tenho ideia do que fazer.

MJ | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora