Evasão

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Hoje
Rio de Janeiro
Apartamento de Giovanna Antonelli

Eu me aconchego contra o corpo quente a meu lado. Hmmm. Homem, que pele macia. Que cheiro bom. Alexandre?

Um braço me enlaça e eu me aninho mais, revivendo a lembrança de seus lábios e língua. Eles me acordam de dentro para fora, deixando-me ansiosa por mais. Ponho a mão sobre a barriga dele. Sinto os músculos rijos ali. Tantos músculos.

Espere. Músculos demais.
Desço a mão até seu umbigo.

— Querida, se você descer muito mais, teremos de reexaminar minha sexualidade, e acho que nenhum de nós dois está pronto para isso nesse momento.

Abro os olhos. Meu colega de apartamento, Rodrigo, está deitado a meu lado com um dos diários de Nero aberto na mão.

— Sabe, sempre pensei que suas histórias sobre esse cara eram aumentadas pela sua mágoa ou amargura, mas lendo isso... É um milagre ele conseguir caminhar e falar ao mesmo tempo. Tem autoflagelação grave rolando aqui. Ele tinha um chicote de verdade? Ou estava tudo na cabeça dele?

Tento agarrar o diário, mas ele me aperta mais com o braço que está à minha volta e segura o diário fora do meu alcance com a outra mão.

— Na-na-não. Eu tenho ouvido sobre as travessuras dele nos últimos três anos. Acho que mereço uma espiadinha em sua loucura. Obviamente, a pergunta mais importante é: onde você arrumou esses diários? Por favor, diga que você não os roubou como uma perseguidora enlouquecida.

Esfrego meus olhos. Está cedo demais para um dos interrogatórios de Rodri.

— Ele me deu.

— Mesmo?

— É.

— No ensaio?

— Não.

— Então onde?

— No apartamento dele.

Ele faz uma pausa.

— Oh-oh. Então você foi até lá, pegou essas belezinhas e saiu, certo? Nenhum contato romântico? Nenhuma sessão de recordações sobre como você é obcecada pelo pau dele?

— Rodrigo...

Ele se afasta para poder me olhar feio.

— Não, não me venha com Rodrigo. Você jurou que ia devagar com esse cara, e eu chego em casa hoje de manhã e encontro sua lingerie de gatinha sexy no chão, os diários do peguete em sua mesinha de cabeceira e arranhões de barba na sua cara toda. Para mim parece que você está decidida a foder com tudo antes mesmo de começar a dar uma chance.

— Nada aconteceu.

— Eu realmente preciso pegar uma régua para ver se seu nariz cresceu, srta. Mentirosa? Porque seu rosto parece que foi esfoliado com jato de areia.

— Está bem, nada de mais. Nós nos beijamos.

— Só se beijaram?

— E... nos esfregamos contra uma parede.

Ele expira.

— Isso não é exatamente nada.

— Não é sexo.

— Também não é ir devagar.

Sei que Rodrigo tem razão, mas não consigo admitir.

— O que você quer que eu diga, Rodri? Que foi burrice? Foi. Que eu sei que raios estou fazendo com ele? De forma alguma. Que tive sonhos altamente pornográficos com ele noite passada? Pode apostar. Fui honesta o suficiente para você?

MJ | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora