Comportas

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Hoje
Rio de Janeiro
Apartamento de Giovanna Antonelli

Ele tenta me acalmar quando minha respiração fica difícil, mas o eco da mágoa preenche todos os meus vazios.

— Ei — diz ele, afastando o cabelo do meu rosto. — Gio... está tudo bem...

— Você me magoou. E arrebentou comigo.

— Eu queria poder voltar atrás, mas não posso.

— É assim que você costumava se sentir? Com raiva? Fora de controle? Odeio isso.

Ele segura meu rosto nas mãos.

— Eu sei. E é minha culpa. Desculpe. — Alexandre acaricia minhas costas. Eu o empurro. Ele faz uma pausa, mas então dá um passo à frente e me abraça mais uma vez, pacientemente suportando minha frustração. Eu o empurro outra vez, e meu rosto está quente, com mais emoções do que posso identificar. Tenho vontade de bater nele.

De puni-lo.

Ele sabe. Ele reconhece facilmente seu antigo eu nisso que me tornei.

— Vá em frente — diz Alexandre —, pode me bater se quiser. E me dê uns tapas. Grite. Faça isso, Giovanna. Você está precisando.

Estou me sufocando em emoções. Tento engolir, mas elas se recusam a continuar sendo suprimidas. Gemo enquanto as comportas se abrem, inundando meu rosto com lágrimas quentes enquanto estapeio o peito dele.

— Isso. Ponha para fora. Continue.

Eu o estapeio uma vez... duas... três, quatro vezes, e de repente estou xingando e soluçando, e ele fica parado e aceita tudo, o tempo todo sussurrando que me ama.

— Eu lamento tê-la ferido, Gio. Eu sinto muito. Não vou magoá-la de novo, prometo.

Meus soluços ficam mais fortes enquanto bato nele, purgando toda a raiva, toda a dor que ele me causou, todo o tempo que desperdiçou. Deixando sair anos de veneno até que não sobre nada. Nenhum combustível para meu fogo. Nenhuma voz amarga me dizendo que Alexandre não vale a pena.

Por fim, tudo o que me resta é cansaço. Então seus braços estão à minha volta, e ele me apoia quando minhas pernas falham.

Ele deixa-se ficar ali e me segura, murmurando que tudo vai dar certo. Que nós vamos dar certo. Estou cansada demais para continuar brigando. Solitária demais.

Apaixonada demais por ele.

Quando meu rosto molhado começa a secar, eu o abraço de volta e me permito acreditar nele, só um pouquinho.

Só o suficiente.

Não sei quanto tempo ficamos ali, mas nenhum de nós parece ter pressa de se mover. É como se não quiséssemos que o momento acabasse.

Depois de um tempo, ele afrouxa o abraço. Talvez tenha entendido que eu não vou fugir.

Alexandre beija o topo da minha cabeça, depois minha testa, depois minha têmpora. Ele segura meu rosto e me beija, e cada toque me faz tremer. O macio roçar de seus lábios faz meus membros formigarem e acende lugares que estiveram no escuro por muito tempo.

Tudo perde a importância e desaparece quando ele me toca. Seu coração bate rápido contra meus seios enquanto ele me abraça e beija meu pescoço.

— Gio...

O jeito como ele diz meu nome parece um gemido de frustração e um suspiro de alívio. Uma promessa. Um pedido de perdão. Uma prece.

Alexandre passa os dedos pelo meu rosto e faz uma longa pausa antes de finalmente beijar minha boca. Ele pressiona meus lábios contra os seus, mas não se move. Suspiro enquanto meu sangue percorre meus músculos tensos, me fazendo querer muito mais do que estou preparada para ter.

MJ | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora