Seis anos antes
Rio de Janeiro
CCPACDuas semanas. Duas semanas sem falar com Alexandre.
Duas semanas em que cada olhar tem sido furtivo e ligeiro.
Não posso dizer que o efeito que ele tem sobre mim esteja diminuindo, mas certamente estou ficando melhor em ignorá-lo.
Só quando sou obrigada a olhar para ele é que meu controle vacila. Quando fica na frente da sala para atuar, o magnetismo profundo que me puxa para ele entra em modo turbo e tenta destruir minha determinação.
É nesses momentos, longos e surreais, quando só consigo pensar no quanto eu ainda o quero, que as barras de ferro fundido em torno do meu coração ameaçam se dobrar.
Então, aumento o volume da minha amargura e, num instante, a raiva vira minha proteção. Ela faz a enchente de desejo descer pelo ralo como a água da banheira. As atuações dele são sempre boas, mas reviro os olhos quando percebo que ele continua se reprimindo, mantendo aqueles últimos pedaços frágeis de si mesmo escondidos em segurança, impedidos tanto de se estilhaçar quanto de brilhar.
Quando Alexandre termina, aplaudo com todos os outros, mas aplaudo mais sua autoilusão que sua atuação. Bravo por fingir mais uma vez, Nero.
Você é uma perfeita cópia falsificada de alguém que eu acreditava amar.
Estamos cantando alto. Girando e dançando depois de ter fumado um pouco da maconha que Lucas cultiva em casa. A aula não começa antes de meia hora, e estou alegre porque faz tanto tempo que eu não ria assim que não quero que acabe.
Não sei como conheço a letra de "Can't Take my Eyes Off You", mas conheço. Todos nós a conhecemos. Somos horríveis e desafinados, mas um pouco do peso que tenho carregado em meu peito desde o rompimento está finalmente diminuindo.
Miranda me gira na direção de Murilo. Ele pega minha mão e me passa para Lucas. Aiyah abraça nós dois e acaricia meu cabelo. Lucas grita para chamar a atenção de Leonardo, e então me joga em seus braços.
Leo ri quando se desequilibra, e de repente estamos no chão. Todo mundo está rindo. Leonardo está com os braços em torno de mim, e enquanto eu rio com ele, seu sorriso se desmancha lentamente, como tinta escorrendo por uma tela.
Ele me olha fixamente, e antes que eu dê por mim, também não estou mais rindo. Seu rosto está perto demais. Sua expressão está suplicante demais, enquanto ele canta para mim sobre eu ser boa demais para ser verdade.
Durante vários segundos, acho que ele vai me beijar, mas em vez disso ele cai para trás e me puxa contra seu peito. As pessoas cantam e dançam à nossa volta, como se fôssemos o centro de algum bizarro ritual pagão, e apesar da sensação de que está errado ficarmos assim tão íntimos, permaneço quieta, testando minha reação. Ele é quentinho e cheira bem, e gosto do jeito como ele acaricia meu braço de leve.
Mas não o quero.
Quando Alexandre terminou comigo, enchi todos os vazios que ele deixou com concreto. Isso me protege de ter sentimentos muito intensos. Por outro lado, não sobrou espaço para mais nada, nem ninguém.
Fecho os olhos. Tudo o que me vem são imagens de Alexandre. Eu me sinto claustrofóbica.
— Ei, você está bem? — Leonardo está preocupado. Eu também estou.
Aquela é a voz errada. O rosto errado. Quero estar em outros braços. Ter outro coração batendo sob minha mão.
Fico de pé e cambaleio até o bebedouro.
Bebo por um longo tempo, e depois só deixo a água correr pelos meus lábios e língua. Eu me sinto ressecada.
— Giovanna? — Leonardo está ali, tão preocupado, tão gentil. Tão diferente de Alexandre. — Você está bem?
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MJ | gn
FanfictionDá-me o meu Romeu, e se eu morrer Retalha-o e faz com ele estrelas, E ele dará ao céu um rosto tal Que o mundo inteiro há de adorar a noite, Recusando-se a adorar o sol. - Julieta descrevendo Romeu Romeu e Julieta, de William Shakespeare [continuaçã...