Reprise

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Três anos antes
Rio de Janeiro
CCPAC

A água do chuveiro está fria, e me dou conta de que estou há muito tempo com a testa encostada nos azulejos. Saio e me enrolo no roupão, e depois me enfio na cama. Quase não saí dela nos últimos três dias. Quase não comi.

Ale está passando a semana no Havaí com o namorado australiano rico, então não tenho nem ela para alugar. Não lhe contei sobre Alexandre. Não consigo.

Ela me avisou que isso ia acontecer. Eu devia ter escutado. Meu celular toca, e verifico quem é antes de deixar para lá.

É ele.
De novo.

Alexandre ligou uma centena de vezes, mas não atendi nenhuma vez. Não sei o que ele espera que eu diga. Não é como se eu fosse capaz de mudar a forma dele de pensar.

Não sei nem se ainda quero.
Foda-se.

Foda-se, ele e todas as maneiras pelas quais ainda o amo.

Quando para de tocar, ligo para a pizzaria e peço uma pizza grande. Acho que, se vou passar a noite chafurdando, preciso do abastecimento necessário.

Meia hora depois, alguém bate na porta, e meu estômago está roncando. Graças a Deus por trinta minutos ou menos.

Fico paralisada quando abro a porta e vejo Alexandre parado ali com a minha pizza. Todos os meus pelinhos se arrepiam ao vê-lo. Queria permanecer dura e não ser afetada por ele, mas não consigo. Meu coração acelera e meu entorpecimento começa a desaparecer.
Ele estende a caixa.

— Paguei o cara por você.

Arranco-a dele com as mãos trêmulas.

— Ah, você pagou minha pizza? Isso compensa por você ser o maior filho da mãe do mundo. Obrigada.

Empurro a porta, mas ele a segura com a mão.

— Giovanna, por favor...

— Solte.

Ele precisa ir embora.
Agora.
Antes que eu desmorone.
Ele avança de modo que seu corpo bloqueia a porta.

— Vou embora amanhã. Vim me despedir.

Apenas essa palavra já é o suficiente para me levar à beira das lágrimas. Despedir.

Não "Até depois" ou "Ligo para você".
Despedir.

Viro de costas e tento recobrar o fôlego enquanto levo a pizza para a mesa. Não o convido para entrar, mas ele entra mesmo assim. Quando a porta se fecha com um estalido atrás dele, cerro os dentes tão forte que eles rangem.

Não consigo encará-lo. Se ele tem algo a dizer, pode dizê-lo para as minhas costas. Meu rosto vai revelar tudo.

— Sei que não quer me ver, e sei que machuquei você, é só que... droga, Gio, nunca quis que acabasse assim. Nunca. Há uma quantidade limitada de coisas que você consegue assistir alguém sacrificar antes de se dar conta de que a pessoa está mudando aquilo que é por você, e não de um jeito bom. Você era perfeita como era. Espero que, quando eu for embora, você possa voltar a sê-lo.

Não consigo responder. Alexandre não entende. Não entende que, ao tentar me tornar melhor, só está me tornando pior.

Inspiro com dificuldade e detesto que haja um soluço contido ali.

— Gio...

Pronto, ele está me abraçando. Não pretendo aconchegar-me no seu peito, mas faço isso, e não estou mais nem um pouco entorpecida. Sou uma mistura confusa de dor e mágoa, e embora não consiga captar de verdade que esse é o fim para nós, meu coração está dizendo que é.

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⏰ Última atualização: Aug 19 ⏰

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MJ | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora