Máscara

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A CCPAC é uma das academias mais prestigiadas do país, então é lógico que seus padrões são altíssimos. Ainda assim, acho que nenhum de nós estava preparado para o quão difíceis seriam algumas aulas. Especialmente as de máscaras.

Ao contrário do que garantiu Erika, que o trabalho com as máscaras ficaria mais fácil, continuamos a lutar com dificuldade. Mas, ainda que a maioria de nós seja bem ruim, Alexandre é o pior de todos. Erika o tem pressionado mais do que a qualquer outro aluno e, claro, isso significa que ele sempre está de péssimo humor.

Ele está distante, e apesar de eu ter deixado bem claro que adoraria transar novamente, já faz quase uma semana desde que me tocou em algum lugar interessante. Ele nem ao menos segura minha mão, a não ser que eu dê o primeiro passo.

O bom é que sempre dou o primeiro passo.
Se Alexandre não vai me deixar ter o resto de seu corpo, pelo menos a porcaria da mão eu vou ter.

— Porra, a Erika me odeia — diz ele enquanto caminhamos até o prédio central, um grande edifício de quatro andares que abriga biblioteca, cantina, salão de descanso e vários anfiteatros onde vamos encontrar nossos amigos para almoçar.

— Não é verdade.

— Então por que me força a trabalhar justamente com aquela máscara? Raiva, tristeza, agressividade, eu me daria melhor com qualquer uma dessas.

— É, mas ela sabe que você tem problemas com vulnerabilidade, por isso está te forçando a superar isso. Imagine como seria incrível se você ultrapassasse esse obstáculo. Provavelmente seria o primeiro da classe. — E seria um namorado mais carinhoso.

Ele balança a cabeça, em negativa.

— A possibilidade de isso acontecer é uma porra de um zero. Não consigo, Gio. Na real, nem sei direito o que é isso.

Pego meu celular e entro no Google.

— Vulnerável. Adjetivo que significa suscetível a ser ferido ou magoado; aberto a ataques morais, críticas, tentações. E, uau! Ao lado da definição tem uma foto sua.

— Engraçadinha.

— Obrigada. Eu tento.

Estamos quase na entrada quando noto um grupo de estudantes do segundo ano perto da porta. Entre eles reconheço Maria, a ex mais-do-que-levemente-amarga de Alexandre. Ela fecha a cara quando nota Alexandre segurando minha mão.

— Não acredito — diz ela quando nos aproximamos. — Pensei que todas as histórias sobre você ter arrumado uma namorada eram conversa fiada e, no entanto, aí está você, com a mesma garota com quem o vi no começo do ano. Está realmente se esforçando para deixá-la bem ligada a você antes de lhe dar um pé na bunda, não? Quer dizer, o que você fez comigo foi ruim, mas essa daí? Ela vai te amaldiçoar por anos. Impressionante.

Alexandre aperta mais a minha mão.

— E o dia não para de melhorar. — Ele puxa meu braço e nós entramos. Sinto o olhar fixo de Maria nos seguindo.

— Ela odeia mesmo você, não odeia?

Ele faz que sim com a cabeça.

— É, bem, eu lhe dei bons motivos. — Alexandre resmunga que precisa de comida antes de sumir na cantina lotada.

Vou até o outro lado do salão e encontro Murilo, Lucas, Leonardo, Aiyah, Marina e Fabi na nossa mesa de canto de sempre. Murilo olha em volta com cara de nojo.

— Caramba, este lugar é deprimente. Será que o conselho estudantil não tem nada melhor para fazer do que decorar toda essa merda? Parece que a Fada da Purpurina mijou na droga da cantina toda.

MJ | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora