Jogo de poder

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voltei 🥹 e agora vou terminar! sem histórias inacabadas por aqui!
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Hoje
Rio de Janeiro
Teatro Grandes Atores

É nosso primeiro dia de ensaio no palco principal do teatro. Quando passo pela porta, um arrepio percorre meu corpo. Estar em um teatro sempre é uma experiência mágica. Há algo na energia desses lugares.

As paredes descascadas e as pesadas cortinas de veludo. Recordações de décadas de produções. Mensagens rabiscadas nas paredes das coxias, que catalogam a história e as tradições de combinar arte e imaginação.

Nosso estagiário de produção, Caio, finalmente me encontra e me entrega um café antes de me mostrar o camarim. Como a maioria dos camarins, não é glamoroso, mas ressoa com as vibrações de todos os atores que já estiveram ali antes. Por um minuto, fico apenas sentada na frente dos espelhos, e fecho os olhos para absorver o ambiente.

Não falo com Alexandre desde domingo à noite, embora quase não tenha pensado em outra coisa. Passei a segunda-feira e a terça-feira inteiras lendo os diários dele e alternando entre querer dar um soco em sua cara e transar com ele por muito tempo.

Não consegui olhar os diários do nosso último ano. Por enquanto, acho que ia fazer mais mal do que bem.

Ouço alguém atrás de mim. Quando me volto, vejo-o ali, encostado no batente e observando-me com uma intensidade que me faz desviar o olhar.

— Ei.

— Oi.

O peso de um milhão de perguntas fica suspenso no ar, mas ele não diz nada. Quer saber o que achei do que li. Diria a ele, mas não tenho ideia. Ele quer saber se isso está tornando as coisas melhores entre nós, como se entender fosse igual a perdoar. Não é, mas nem é por escolha. Se eu fosse capaz de expulsar qualquer migalha de desconfiança em um piscar de olhos, toda essa situação estaria resolvida agora. Eu estaria curada, ele estaria grato, e passaríamos incontáveis noites arquejando nossa felicidade na pele um do outro.

Seria bom, mas ainda não cheguei lá.

— Você está bem? — pergunta Alexandre, ainda na porta.

Fico de pé e vou mexer nos meus figurinos. Não demora. Só tenho três. Mesmo assim, passo as mãos por todas as costuras, subitamente nervosa. Parte disso tem a ver com ele e outra com o fato de ter me dado conta de que, daqui a três dias, atuaremos diante de uma plateia na pré-estreia. De qualquer forma, o medo de decepcionar alguém me apavora.

— Acho que sim — digo. — Estou um pouco com a sensação de que vou vomitar.

— Eu também.

— Você disfarça melhor do que eu.

— Acho que só estou mais acostumado, a essa altura. Quer um abraço?

A pergunta me pega com a guarda baixa. Minha mão fica paralisada na manga do vestido.

— Hum...

Sinto-o atrás de mim antes que ele passe os dedos pelo meu figurino, bem acima da minha mão parada. Quando Alexandre fala, seu hálito é morno sobre a minha orelha.

— Ajudava, lembra? Nós dois. Além disso, acho que vou ficar louco se não tocar em você. Estritamente platônico, é claro.

Não consigo erguer os olhos. Não consigo nem tocar o dedo dele.

— Giovanna? — Ele toca meu cabelo e o alisa por cima do ombro. — Não estou pedindo para fazer sexo. Nem um beijo. Só quero abraçar você.

Não é só abraçar. Nunca foi. É íntimo.

MJ | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora