O que você faz quando vê alguém que você ama se destruindo? Você tenta impedir?É claro.
Eu digo a Alexandre que ele não precisa se esforçar tanto. Que eu me importo com ele mesmo que não me traga flores ou me leve para sair.
Alexandre continua se recusando a discutir o assunto. Voltamos aos seus silêncios. À falta de toques. A ele se fechando.
Uma noite, ouvimos sirenes e vimos uma ambulância na entrada de um prédio que fica mais à frente na minha rua.
Quando nos juntamos à pequena multidão reunida na calçada, vejo Alessandra conversando com Livia, uma das garotas das artes visuais.
— O que houve? — Fecho mais o casaco e olho para o prédio.
A expressão de Alessandra é séria.
— Overdose. Os paramédicos conseguiram ressuscitá-la, mas ela ficou num morre-não-morre por um tempo.
— Ai, meu Deus. Quem é?
Ela olha rapidamente para Alexandre.
— Maria Silveira. Atriz, segundo ano. É a garota que perseguia você, certo? A ex do Nero?
Eu me viro para Alexandre, que está branco feito um papel.
— É. Ela mesma.
Antes que eu consiga dizer qualquer coisa as portas do saguão se abrem e os paramédicos empurram uma maca até a calçada. Todo mundo espicha o pescoço para olhar. Apesar de o rosto pálido de Maria estar meio escondido sob a máscara de oxigênio, é evidente que ela não está nada bem.
Alexandre empurra algumas pessoas para chegar até os paramédicos.
— Ela vai ficar bem?
A moça o olha de cima a baixo.
— Você é o namorado?
A expressão dele fica rígida.
— Não.
— Ela está estável. É só o que eu posso lhe dizer.
— A overdose foi intencional?
— Não cabe a nós dizer.
— O que foi que ela usou?
— Sinto muito, não posso falar mais do que já falei. Vamos levá-la ao Hospital do bairro, onde será examinada.
A paramédica passa por Alexandre e abre a porta da ambulância, para que ela e o parceiro coloquem Maria lá dentro. Eu seguro a mão de Nero enquanto a ambulância vai embora com as luzes piscando e a sirene ligada. Ele observa sem expressão, até que o carro sai de vista.
— Livia disse que ela tem andado deprimida — diz Alessandra. — Se viciou um tempo atrás. Sua colega de quarto achava que ela tinha parado, mas pelo jeito não.
Sem dizer uma palavra, Alexandre tira a mão da minha e sai, a passos largos.
Quando eu o alcanço, sua mandíbula está tão apertada que seria capaz de quebrar nozes.
— Ale...
— Eu não quero falar disso.
É, bem, a essa altura eu já estou até acostumada.
Eu me esforço para acompanhar seu passo.— Você não pode se culpar por isso. Sério. Ela tinha problema com drogas.
— Que ela arranjou depois que eu fodi com a vida dela.
— Você não tem como saber disso.
— Tenho, sim, porque com certeza ela não fazia essa merda enquanto estivemos juntos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MJ | gn
FanfictionDá-me o meu Romeu, e se eu morrer Retalha-o e faz com ele estrelas, E ele dará ao céu um rosto tal Que o mundo inteiro há de adorar a noite, Recusando-se a adorar o sol. - Julieta descrevendo Romeu Romeu e Julieta, de William Shakespeare [continuaçã...