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Kiara Soulier

Chego exatamente às cinco e meia no Poppys. Quase duas horas atrasada devido à aula extra que se estendeu mais do que o necessário e sem a rotineira carona de Charlie, que estava trabalhando na oficina do pai hoje, fui obrigada a pegar um ônibus, o que também consumiu um pouco do meu maldito tempo.

Estava distraída o dia todo, ponderando minhas poucas alternativas: pedir um teto para Charlie se as coisas apertarem, alugar um local para ficar por algumas semanas em uma péssima região mas com valor suportável, ou simplesmente desistir do meu próprio orgulho e voltar para casa alugada, junto às meninas.

Nenhuma dessas opções me agrada muito, o que me faz suspirar, inquieta.

— O que você está olhando? — Sam pergunta ao se juntar ao meu lado no balcão.

Normalmente, o movimento era fraco no início da semana, especialmente às segundas. Mesmo que não fosse ético, sempre encontrávamos uma brecha para relaxarmos um pouco.

— Sabia que essa região é um absurdo de cara? — pergunto, mostrando a tela do meu celular para ela. Estou procurando lugares com preços razoáveis, mas todos ultrapassam em muito minha realidade.

— É natural que seja assim — Samara dá de ombros. — Athens é bem badalada, além de ser uma área universitária. Infelizmente, Kiki, acho que será difícil encontrar um aluguel mais barato que esses. Mesmo os compartilhados. Você teve sorte com aquela casa.

— Porque ela estava velha e caindo aos pedaços — retruco, emburrada.

Bebo alguns goles do refrigerante que ganhei de graça de uma família que gostou do meu atendimento mais cedo, pulando casa atrás de casa no aparelho celular impaciente, comendo um pouco das fritas que Bob fez a mais por falta de atenção. Era a minha janta.

Pagava quinhentos e cinquenta dólares no antigo aluguel e mesmo que ainda achasse um absurdo, comparado a esses outros locais, era um valor maravilhoso.

— Você ainda tem a opção de contar tudo para o Charlie e dormir alguns dias lá em casa, sabia? — ela ressalta. — Afinal, se continuar dormindo aqui... — a forma como eu a encaro perplexa faz a jovem perceber o assunto delicado que está falando e Sam continua, um pouco mais nervosa: — Quero dizer, se você continuar dormindo onde está dormindo, sabe, bem longe daqui, vai acabar se metendo em problemas.

Suspiro e olho ao redor. Ninguém está prestando atenção em nós, mas se descobrissem que eu estava passando algumas madrugadas no Poppys, não seria favorável para mim.

— Sim, eu sei. E estou tentando sair daqui o mais rápido possível, sabe? Se isso aqui fosse de alguma ajuda, seria mil vezes melhor —movo o celular de um lado para o outro.

Faltava menos de uma hora para fecharmos a loja, e todos já estavam começando a se organizar. Mesas sendo limpas, cozinha arrumada, retirando as placas do lado de fora da lanchonete e servindo os possíveis últimos clientes.

E ele ainda não estava aqui.

— Acho que aqueles caras da atlética não vão vir hoje — Sam resmunga entediada, como se lesse minha mente. Ela pega algumas batatas do meu prato e come. — É uma pena, pensei que eles fossem aparecer. Seria o quarto dia seguido. Acha que eles gostaram da lanchonete?

Duvido muito que fosse o caso, mas não respondo. É possível que Jackson, junto com sua turma, estivesse rondando o Poppys apenas para testar minha paciência.

Pondo mais batatas na boca, eu murmuro, em desdém:

— Você realmente gosta da presença deles aqui?

Deathless - Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora