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Kiara Soulier

O guarda não diz uma palavra sequer quando Jackson e eu adentramos no prédio. Ele apenas nos encara, o rosto entediado, e acena para o mais velho, liberando-nos a passagem.

E penso comigo mesma: talvez seja rotineiro. A quantidade de garotas que entram e saem desse local é algo que aquele homem não se importa mais em controlar e exatamente por isso, parece tão tranquilo.

Ou talvez eles tenham o comprado. Todos aqueles caras com dinheiro de sobra oferecendo valores e mais valores pelo seu silêncio, os segredos. Era uma possibilidade provável.

Incomodada, movo-me para continuar a andar, porém, Jackson ergue o braço esquerdo na minha frente, impedindo-me de prosseguir.

Ele me encara, conferindo novamente se estou com o rosto coberto pelo capuz do meu moletom escuro e diz:

— Segure a minha mão.

Pisco, evitando franzir o rosto.

— O quê?

— Preciso que saibam que está comigo.

— Estou do seu lado, isso não é suficiente?

— Por favor, Soulier, obedeça. É só por um momento.

— Me dê um bom motivo para isso.

Jackson suspira, como se compreendesse que a explicação não é suficiente para mim. Então seus olhos analisam meu rosto, e ele solta:

— Vai evitar que falem de você amanhã.

— Mesmo que aconteça, estou com o capuz, ou você já se esqueceu disso? É impossível saberem quem sou eu.

— Acha realmente que esses caras ou qualquer outra pessoa não irão assimilá-la com a garota da arquibancada? — questiona, fazendo-me cair na real.

— Não iriam, se você não tivesse feito aquilo.

Jackson suspira, a expressão do rosto demonstra cansaço.

— Confie em mim. Sei o que estou fazendo, Soulier.

E mesmo com a urgência em seus olhos, hesito por um instante.

A sensação de ser controlada, até mesmo em um simples gesto como segurar a mão dele, me deixa desconfortável.

Mas, em meio a tudo isso, alguma parte dentro de mim se sente segura ao lado dele. Uma parte que desejo ignorar, negar, fingir que não me pertence, entretanto, não posso.

Por isso, aceno com a cabeça um tanto relutante e concordo, sentindo que as palavras são completamente desnecessárias quando ele entrelaça seus dedos nos meus. O contato quente traz um arrepio involuntário e tento manter a expressão neutra, junto a toda a compostura. Assim, juntos, avançamos pelo saguão principal do prédio.

Algumas das portas dos dormitórios estão abertas ao ultrapassarmos o longo corredor e consigo ver alguns caras sem camisa, deitados em suas próprias camas, lendo seus livros, fazendo seus exercícios físicos ou apenas estudando.

Já outros, os que estão do lado de fora, encostados nas paredes pintadas de cinza, bebem e conversam entre si.

Também há uma cozinha compartilhada no ambiente, e uma sala consideravelmente grande a qual o movimento parece extraordinariamente caótica pelo horário pós final de partida.

E eles nos olham. Cada um deles, enquanto passamos pelos cômodos, pousam sua atenção no líder do time de futebol americano e eu.

São encaradas rápidas, alguns nos cumprimentam em uma breve surpresa, outros erguem as mãos em um rápido aceno, com a boca repleta de pizza, mack n cheese e mais alimentos indecifráveis.

Deathless - Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora