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Jackson Wang 

Kiara adormece na metade do caminho para o nosso apartamento, e eu sabia que isso iria acontecer, dado a distância do longo percurso e seu nível de embriaguez.

Ao chegarmos, estaciono o carro emprestado de Mark no térreo e a pego no colo, ajeitando-a em meus braços e caminhando até o elevador.

Soulier murmura algumas palavras inaudíveis durante o percurso e tento me mover o menos brutamonte possível para não acordá-la, quando seu rosto encosta em meu pescoço e sua respiração quente me arrepia.

Quando adentramos, atravesso o primeiro cômodo escuro e a levo diretamente para o quarto. Sua leveza em meus braços me surpreende e a coloco na cama, admirando sua expressão serena, mesmo durante o sono profundo.

Com cuidado, retiro os saltos em seus pés, cobrindo-a com um lençol e me sento na beirada da cama por um momento. Aquela atmosfera silenciosa do quarto contrastando com a agitação da noite que tivemos era insana. E por melhor que fossem as festas da atlética, nada se comparava com isso.

Fico ali por alguns minutos, então me levanto, decidido a deixá-la descansar e vou até o banheiro tomar um banho quente. Ao sair, envolto em uma toalha branca, visto-me com cuidado para não fazer barulho e observo-a uma última vez antes de deixar o quarto de uma vez.

Na sala, eu acendo um abajur posicionado ao lado da televisão e vou até o mini bar, virando o copo para cima e abrindo um dos whiskies disponíveis.

Encho o copo pela metade e dou um gole. O líquido marrom desce queimando e a sensação de calor se espalha pelo meu corpo.

Estava com uma sensação esquisita, por alguma razão, e mesmo que o cansaço assumisse meu corpo, não conseguiria dormir ainda.

Com um suspiro, abaixo-me até o fundo do bar e retiro uma das armas que ganhei do meu pai quando era apenas uma criança, verificando-a com cuidado para garantir que esteja carregada, e a sensação de peso familiar em minhas mãos mãos traz uma mistura de tensão, e... conforto.

Observo cada detalhe, lembrando-me das lições que Alexander me ensinou quando eu era mais novo, junto a todas as outras atrocidades.

"Entre viver ou morrer, meu filho, mate."

"Entre o amor ou ódio, faça sofrer."

Ele era um homem cruel, que achava que tudo poderia ser resolvido com socos fortes e ameaças e talvez por isso estivesse enterrado a sete palmas no chão agora. Não que eu fosse um santo, aprendi bastante coisas erradas com ele, coisas que levei para a vida, embora não me orgulhasse.

Bebo mais um gole, apontando o objetivo em direção ao vazio quando, de repente, percebo algo: a porta estava entreaberta.

Com cautela, mantenho a arma em minhas mãos, mas apoio o copo de vidro no balcão, franzindo o rosto, desconfiado.

Uma sensação de alerta se espalha por todo meu corpo, dissipando qualquer resquício de cansaço existente. Poderia jurar com todas as forças que a havia fechado.

— Essa era a arma favorita do nosso pai — a voz de Ian ecoa pelo local, e seu corpo inteiro se mostra presente ao se aproximar da sala de estar, como se soubesse que eu havia notado sua presença. — E pensar que ele deu a você, ao invés de mim.

Olho para o meu irmão mais velho com uma expressão de desagrado. Seu comentário traz à tona uma série de lembranças, e a atmosfera parece densa, mais carregada do que nunca.

— Não deveria se esquecer de trancar a porta, sabia? Odeio esses hábitos estadunidenses. Isso nunca aconteceria na China — ele continua, aproximando-se um pouco mais.

Deathless - Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora