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6 anos atrás
Erie, PA.

Kiara Soulier

Meus pés se movem automáticos em direção ao grupo que está conversando um pouco acima da nossa barraca.

Ter perdido um desafio que valia a sorte só mostrava o quão azarada eu estava esses dias, mas não reclamei. E me levantando, apenas segui o fluxo.

— Você deveria ter avisado que não sabia armar uma fogueira, teria nos poupado esperanças — a voz da garota é a primeira que ouço com precisão quando estou perto o suficiente.

— Não é que eu não saiba, já disse! É só que essa merda não funciona como deveria — o garoto ruivo ao seu lado reclama. Está agachado perto de um amontoado de graveto e folhas.

— Cara, você tá com um isqueiro na mão.

— Foda-se, porra. Ainda está difícil fazer isso.

Mesmo que eu ainda estivesse um pouco distante, sou capaz de perceber o motivo pelo qual é tão complicado fazer as folhas pegarem fogo corretamente e não apagarem aos poucos. 

Estavam úmidos demais, nunca aceitariam o calor facilmente.

— Ei, garotinha curiosa — uma voz alta e rouca surge perto da minha orelha, surpreendendo-me. — Pretende ficar parada que nem estátua e encarando os meus amigos por quanto tempo?

Solto um palavrão silencioso, minha atenção vai em sua direção, perplexa.

— Não é nada educado chegar assim de supetão atrás dos outros, sabia disso? — falo com indignação.

— Você estava agindo da mesma forma agora mesmo.

— Eu fiz?

— Ficou os encarando sem dizer nada.

— Vim aqui para tentar ajudar — minto. — É diferente.

— Parada desse jeito? Conta outra.

Não há muita iluminação aqui. Fora as estrelas, a lua crescente e alguns fogaréus, é quase impossível se mover corretamente.

Ainda assim, me esforço para encarar melhor o dono daquela voz. Era rapaz de estatura mediana e descendência asiática, com cabelos bagunçados e um sorriso travesso nos lábios.

Sua atitude confiante e o jeito descontraído como fala me pegam de surpresa. Mas é a atenção presa em mim que acelera meu coração.

— Não precisa ser tão sarcástico — respondo, cruzando os braços, um pouco irritada com a maneira como ele está me provocando.

— O que exatamente está fazendo aqui? — o desconhecido pergunta, curioso, esperando por uma resposta, e pisco, sem saber exatamente como responder.

Não parecia inteligente contá-lo que perdi uma aposta para os meus amigos e precisava convidá-los para jogar verdade ou consequência conosco, levando em consideração eu ainda não ter muita certeza sobre sua personalidade.

Só que eu precisava. Era o trato.

A maldita escolha da garrafa.

— Sou da barraca ao lado — aponto para o local onde meus amigos estão conversando entre si. — Estávamos prestes a jogar um jogo, mas estamos em pouco número.

— E o que isso tem haver conosco?

Dou de ombro, nada presunçosa.

— Pensamos que talvez fosse legal convidar mais gente.

Deathless - Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora