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Kiara Soulier

— Nós não precisamos ir para festa da atlética se não estiver mais afim, Kiki — Charlie informa, quando chegamos em sua casa.

Ele estaciona o carro na garagem aberta e pega a mochila jogada no banco de trás, abrindo a porta e saindo.

Faço o mesmo, encarando-o com um sorriso amigável após fechar o automóvel, apreciando a consideração dele. Ainda assim, não serei eu a estraga prazeres.

— E por que não iríamos? — retruco, tentando soar positiva enquanto ultrapassamos a porta marrom, adentrando a sala da família Clarke. — Só porque aquele cara vai estar lá? Foda-se ele, Charlie. Você esperou por isso a semana toda, é claro que precisamos ir.

Fui obrigada a contá-lo sobre a situação quando o mais velho foi me buscar mais cedo e me encontrou com as mãos trêmulas e rosto inchado. Agora, inevitavelmente, Charlie sabia quase tudo sobre mim e Kieran.

Sabia sobre ele ser um conhecido do meu passado, o nosso breve contato em minha cidade natal, tudo o que aconteceu na noite anterior, mesmo que resumidamente.

De certa forma, encontrava-me aliviada, embora a culpa ainda me perseguisse.

Para minha sorte, Charlie não estava com raiva de mim e todos os segredos, apenas preocupado. Mas eu me sentia insuficiente, principalmente após a conversa com Jackson.

Ele se lembrou de mim, enquanto eu não o fiz. E isso estava me consumindo como o inferno.

Aquela era a nossa promessa. Nunca esquecer.

O veterano olha para mim com atenção, enquanto joga a bolsa no sofá, reconhecendo a mistura de emoções em meu rosto. Ele se aproxima e coloca a mão na minha cintura com carinho.

— Não podemos controlar o passado, Kiki, mas podemos escolher como lidar com o presente — Charlie emite, caloroso.

Sorrio agradecida pelas palavras, abraçando-o e ele retribui, apertando-me com um pouco mais de força, dando-me certa energia.

— Ainda me sinto culpada — retruco, meu rosto absorvido em seu ombro. — Tenho certeza que ele nos viu de mão dada, e ainda assim foi atrás de mim, quando fui procurar o meu celular.

— Eu sei, eu vi — Charlie admite.

— Queria conversar comigo.

— Imaginei mesmo que fosse o caso. Desculpe por não impedir, achei que vocês precisassem de um tempo a sós. Além disso, acho que levaria um soco se atrapalhasse. Você sabia que aquele filho da puta me chamou de "seu cachorrinho"?

Me afasto do seu abraço quase no mesmo segundo, olhando nos olhos de Charlie com uma expressão de incredulidade.

Nem fodendo.

O estudante de biologia dá de ombros.

— Pois é, ele fez isso. Umas três vezes.

— Caralho, ele não tem limites. Só estava tentando te provocar.

— É, ele tentou, mas que se foda.

Charlie coça a cabeça clara raspada, pensativo, e noto a mudança de expressão.

— O que foi?

— Tem certeza que realmente quer ir?

— Está arregando, Charlie Clarke?

— Só não quero que pense que precisa se forçar a fazer algo, por medo de me decepcionar. Não vai.

Me sento no sofá macio, sentindo o cansaço atingir meu corpo.

Deathless - Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora