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Kiara Soulier

Encontro Charlie no almoço, em uma das mesas da lanchonete, devorando uma fatia de pizza e alguns nuggets fritos. Ao lado da bandeja, há alguns livros e o garoto está estudando com afinco, como se uma hora daquele intervalo caótico e todo o barulho não fosse o suficiente para tirar completamente sua atenção.

— E aí — solto, sentando-me ao seu lado, batendo meu ombro contra o dele.

Charlie levanta o olhar dos livros, sorrindo quando me vê.

— E aí, nova namoradinha do capitão — ele provoca.

Reviro os olhos e pego um pedaço da pizza apoiada na bandeja, enquanto Charlie, mordiscando o primeiro pedaço antes de soltar:

— Vamos lá, vamos lá, não se segure — digo, percebendo seu olhar de julgamento. — Eu sei que você quer falar muito mais do que isso.

Charlie ri, aceitando o desafio.

— Pensei que você o odiava com todas as forças.

— É, essa era a intenção no início.

— E que nunca fosse se apaixonar por um babaca como ele.

Dou de ombros, sorrindo de lado.

— As coisas mudam, Charlie. Às vezes, as pessoas têm mais camadas do que pensamos.

Ele franze o cenho, brincando com um nugget.

— Ainda acho que ele é um babaca.

— Aquele babaca meio que impediu que você levasse alguns socos adicionais — aponto para o olho roxo dele. — Como está o machucado?

Charlie toca de leve o olho, evitando uma careta.

— Poderia estar pior — admite. — Nunca pensei que diria isso, mas agradeço por ele estar lá naquela hora.

— Ele não é uma pessoa ruim, sabia? 

Meu melhor amigo olha para mim com uma expressão séria, analisando meu comentário.

— Ainda assim, me preocupo que ele magoe você.

Assinto, compreendendo a preocupação de Charlie.

— Eu aprecio, mas acredite em mim, eu sei o que estou fazendo.

— Só espero que você esteja certa. Não quero te ver machucada.

— Você sabe que valorizo muito a sua amizade

— Eu sei, Kiki.

— E a sua preocupação — acrescento, vendo acenar. — Se algo der errado, sei que posso contar com você. Mas no momento, quero confiar na possibilidade das coisas darem certo.

Eu não pensava em relacionamento quando comecei a estudar nessa universidade. O meu único foco era exclusivamente estudar e trabalhar, conseguir uma forma de ganhar a vida, me sustentar.

Mas se isso estava acontecendo, apesar das inúmeras tentativas minhas de negar tantos acontecimentos, sentimentos e possibilidades, eu não deveria simplesmente aceitar e aproveitar?

Sim, ainda havia preocupações ao meu redor. Mas pensar nisso apenas deixava minha cabeça pesada e não era bom carregar sentimentos assim comigo.

Ele sorri, mas ainda parece um pouco desconfiado. Mudamos o foco da conversa para assuntos mais leves, rindo e aproveitando o restante do almoço juntos. 

Charlie sempre teve opiniões fortes sobre Jackson, mas acreditava que, aos poucos, ele aceitaria mais a situação.

— E você, como foi o seu final de semana? Alguma novidade emocionante? — pergunto, mudando o foco da conversa.

Deathless - Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora