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Kiara Soulier

Apesar de querer faltar, vou para a aula na manhã seguinte, como todos os outros dias, fazendo o máximo de esforço para me concentrar somente nos conteúdos e evitar Jackson pelos corredores da universidade.

Na noite passada, apenas pensar no no líder do time de futebol fazia minha cabeça doer, e não queria arrumar mais problemas agora. Muito menos com ele.

Ainda assim, não conseguia evitar a ansiedade que pulsava dentro do meu corpo, junto aos pensamentos que me torturavam. E eu estava quase entrando em colapso.

Será que ele contaria aos seus amigos sobre o que ouviu? Espalharia a notícia ao pessoal do Campus inteiro? Ou pior, ousaria me chantagear, ameaçando contar para o gerente do Poppys sobre a irregularidade que eu estava cometendo? Tantas e tantas possibilidades.

— Ei — as mãos de Kayara, minha colega de sala, estalam bem na minha frente. Ela me encara com o rosto confuso. — Está tudo bem?

Pisco, saindo dos meus próprios devaneios para encará-la.

— Como assim?

— A aula terminou e você continua estática — diz, observando-a. — É uma das primeiras a sair quando o sinal toca. Achei que algo não estivesse certo.

Tento sorrir, mas mover meus lábios corretamente parece uma missão impossível. Então agarro meus livros espalhados pela carteira e levanto em seguida.

— Só um pouco pensativa, mas estou bem — falo.

É uma mentira. Assim como a maioria das palavras que estão saindo da minha boca nesses últimos dias, pois tenho uma esperança, pequena e quase nula, mas presente, de que talvez, murmurar a mesma frase várias e várias vezes faça isso se tornar real.

— Sei que o professor nos assustou com todo aquele discurso, mas não precisa se preocupar muito com esse trabalho extra. Aposto que vai se sair bem, até mesmo nas provas finais, as suas primeiras notas foram boas — ela tenta me animar. — Vou indo nessa, Kiki. Até amanhã.

Quando deixa a sala, despedindo-se de mim, percebo que sou a única pessoa restante naquele cubículo. Até mesmo o professor já foi embora, então coloco tudo na mochila e faço o mesmo.

Estava morrendo de fome, não tinha ido ao refeitório para almoçar quando o horário bateu e fui incapaz de pedir que Charlie me comprasse alguma coisa, pois se Jackson quisesse me encontrar, e é claro que queria, óbvio que me procuraria fazendo companhia ao estudante de biologia. E temia que o seguisse.

Por isso, mantive-me escondida dentro das salas de aulas e nos banheiros femininos, ignorando meu estômago roncando e tudo que acontecia ao meu redor.

Sinto meu celular vibrar no bolso enquanto caminho apressadamente até o estacionamento. Paro por impulso e o retiro do jeans surrado, vislumbrando uma mensagem que deixa meu dia ainda pior.

É a minha mãe. E sempre que surgia, algo não estava certo.

Amara: Onde você está agora? Seu pai e eu estamos precisando de ajuda. Tem como nos enviar alguma coisa?  Qualquer valor. É urgente. Estão ameaçando tomar nosso trailer. É nossa única casa. Por favor, faça isso por nós.

Aperto os punhos, sentindo a indignação tomar conta de mim.

Não posso acreditar que esteja me pedindo qualquer coisa depois de tudo que aconteceu no passado. Depois de ter me expulsado de casa quando descobriu que eu planejava mudar de estado para estudar. Depois de todo o tratamento que sofri nos últimos vinte anos.

Deathless - Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora