Aquela noite foi uma das mais gostosas que tive com Carlos. Eu senti que, mesmo à distância, tínhamos um certo grau de intimidade, e que havia uma magia velada que nos rodeava, uma aura doce, um mundo só nosso. Nós conversamos sobre tudo e conhecemos a fundo a história um do outro: eu contei a ele sobre minha infância em Londres, regada a muitos livros, brinquedos de montar e férias na casa da minha avó, em uma cidade pequenininha chamada Durham; falei sobre minha paixão por costura e até mostrei algumas peças de tricô que já fiz. Carlos me contou do seu encanto por carros e que sua intenção era trabalhar com engenharia automotiva depois que terminasse a faculdade; também comentou sobre a vida em família, da admiração pelo pai e me mostrou seu cachorrinho Piñón. Nós trocamos nossos filmes favoritos, ambições pro futuro e ouvimos juntos a músicas clássicas que ele compartilhou comigo pelo Spotify.
– Queria estar fazendo carinho no seu rosto agora.
Carlos disse isso no meio de 'Salut d'Amour' enquanto eu estava deitada virada para o celular. A gente estava em silêncio apreciando o som, e a fala dele fez meu coração beliscar. Por que não podia ser real?
– Acho que eu dormiria. – respondi, dando uma risada baixa.
– Então eu cobriria você e te abraçaria para dormirmos juntos…
Isso fez meu coração quase sangrar, tamanha era a vontade de poder viver de verdade. Por quê? Por que não podia ser real?– E quando eu acordasse no meio da noite, deixaria um beijinho na ponta do seu nariz...
– Talvez eu acordasse com isso, e levaria minha mão ao seu rosto para te acariciar mais uma vez…Imaginar cenas de carinho com Carlos era, na mesma medida, um alento e um tormento; poder criar o filme na minha cabeça parecia me dar a chance de viver meu desejo de alguma forma, mas não poder sentir e vivenciar de fato fazia doer o meu corpo. Até hoje, quatro anos depois, duvido que eu já tenha sentido vontade de abraçar alguém como um dia eu quis abraçar Carlos Sainz. Tocá-lo era uma necessidade, e, com o passar daqueles dias, virou quase uma dor.
– Eu colocaria minha mão por cima da sua, então.
Eu fechei meus olhos no momento, e, junto com Carlos, divaguei.
– Acho que sua mão estaria bem quentinha. – ele disse.
– A sua também!
Eu abri os olhos e me deparei com um Carlos deitado de bruços e olhos fechados, seu cabelo estava bagunçado e os lábios tinham um sorriso pequeno desenhado. Não sei se ele percebeu, mas passei um tempo contemplando-o assim enquanto conversamos.
– E então eu me aproximaria um pouco, deixando um beijo na sua testa. – sua voz estava mais baixa e devagar, uma delícia!
– Eu pediria pra você descer mais um pouquinho…
Vi que seu sorriso aumentou, e assim eu abri um junto com ele.
– Descendo mais um pouco, eu deixo um beijinho na sua bochecha.
– Só de um lado? – perguntei.
– Claro que não, eu dou um beijo na outra bochecha também.
– E aí? – provoquei.
Carlos abriu os olhos e eles estavam mais dilatados, seu rosto mais expressivo e com um sorriso um pouco menos inocente. Até então eu não sabia onde aquilo nos levaria.
– O que você quer que eu faça? – ele perguntou. A voz num tom mais baixo deixava ela mais grave, e o sotaque espanhol contribuía para que ficasse mais sensual.
– Não sei, o que você tem em mente?
– Ficar ali na sua bochecha, talvez?Eu ri. Imaginei o rosto de Sainz parado sobre o meu, a sensação da pele encostada na minha. Qual seria a sensação?
– Não vai me dar nem um beijo? – eu sussurrei.
Sussurrei por um misto de vergonha, desejo e por uma vontade profunda de que aquilo realmente acontecesse. Aquela noite toda foi assim: o querer se dividindo entre a tentação do momento e a espera pelo toque de verdade, fora da minha cabeça.Carlos ficou mais próximo do celular e eu, imitando sua ação, fiz o mesmo. Estávamos perto da tela e o rosto dele era muito mais visível, sendo possível ver de perto os poros nas suas bochechas, os cílios cheinhos, curvados e lindos; os olhos grandes me encarando. Olhei os lábios carnudos entreabertos e presenciei o exato momento em que Carlos os molhou com a língua.
– Posso te dar dezenas de beijos se você quiser. – ele sussurrou de volta, olhando para mim.
Eu quis mais do que nunca que aquelas telas não existissem e que eu pudesse, ali, apenas me guiar até Carlos e beijá-lo. Quis insanamente mergulhar minhas mãos naqueles cabelos que sempre me pareceram tão macios e gostosos, e sentir o cheiro dos fios, da sua pele, do corpo todo. Queria poder passar minhas mãos por cada pedaço de Carlos Sainz, e me perder em uma noite com ele sem pensar em mais nada além da minha entrega aos seus toques.
– Eu quero muito mais do que seus beijos. – eu assumi o desejo.
– Eu tocaria seu corpo com muito prazer, Morita.
A voz num sussurro era sexy e desejosa, e fez meu corpo quase arder.
– Onde você me tocaria?
Não parei de olhá-lo e ele também não. Não conseguia tirar meus olhos daquele homem nem por um segundo. Carlos passou a língua pelos lábios novamente, e eu acompanhei atentamente o movimento. Ele levou uma das mãos ao queixo e começou:
– Primeiro, eu morderia de leve o seu queixo... – Eu imitei seu movimento, colocando a minha mão no lugar que ele citara. – E desceria devagar pelo seu pescoço, fazendo uma trilha de mordidas e beijos.
![](https://img.wattpad.com/cover/347412586-288-k697364.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pelo telefone | Carlos Sainz
Romance"Carlos era observador e detalhista. A risada dele era gostosa, calma e seu sotaque me deixou a ligação inteira com um sorriso bobo no rosto. Com a luz apagada e sentada no parapeito da janela, eu desfrutei de uma longa conversa com Carlos até quase...