Depois da decolagem

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Quando cheguei em casa, subi direto pro meu quarto, me joguei na cama e chorei. Foi um dos choros mais demorados e dolorosos de toda a minha vida. Meu coração doía como nunca, e parecia que algo muito pesado estava sobre meu peito, uma sensação de que não dava para respirar direito. Verifiquei o celular mil vezes esperando uma mensagem de Carlos, mas não nos falamos desde que ele passou por aquela porta; não recebi nenhuma foto, não sei em que momento ele entrou no avião nem qualquer outra coisa durante seu tempo de voo. E eu só chorava.

Eram quase dez da noite quando enfim me levantei. Uma viagem para Madrid levava em média duas horas e meia de acordo com o Google, então já fazia um certo tempo que Carlos estava em território espanhol. Lembro como meu coração apertou ao me dar conta que não recebi qualquer aviso de sua chegada em casa, mas também me questionei se deveria me chatear com essa questão. "Não somos namorados e nos conhecemos há apenas uma semana", eu pensei, e acho que essa é uma das coisas que, até hoje, ainda me passam pela cabeça: o que tivemos nunca teve um nome, ficou assim indefinido. Ainda me sinto como se eu não tivesse o direito de sofrer por conta da adversidade da situação. Eu poderia me referir a isso como uma relação? O que Carlos e eu fomos? Essas questões cercaram meus dias por muitos meses até eu conseguir lidar melhor com o que aconteceu.

Me sentei no parapeito da janela e por um tempo fiquei olhando o movimento da rua lá embaixo, mas logo me distraí com as memórias dos dias que me sentei ali para falar com Sainz ao telefone. Lembrei da primeira vez que ele me ligou e de como eu estava nervosa por detestar esse tipo de contato, porém acabei mergulhando noite adentro em uma das conversas mais gostosas que já tive com alguém. Lembrei da surpresa que foi ouvir seu sotaque carregado e de sentir ele sorrir do outro lado mesmo que eu não pudesse vê-lo. Carlos foi muito marcante na minha vida, isso é muito claro pra mim. Mesmo anos depois, ele é a primeira pessoa que me vem à mente quando olho minha janela nas vezes que volto para casa.

Estou a caminho do banheiro quando ouço meu celular vibrar em cima da cama, volto correndo para o meu quarto e, nossa, até que enfim!

– Carlos! – minha voz sai agitada.

– Oi, Laurita!

Algo em sua voz fez meu coração murchar. Tentei me convencer que era o cansaço da viagem e a preocupação com sua mãe, mas a real era que eu não tinha muita certeza. Ficou um silêncio depois que ele respondeu e eu tive que puxar a conversa:

– Como você está?

Eu sentei no chão e encostei as costas na minha cama; meu quarto estava escuro e a única luz que vinha era a iluminação da rua que entrava pela minha janela, mas eu não queria encará-la. Meu coração estava doendo.

– Ah. – ele respondeu e ficou mais um tempo quieto. – Estou cansado.

– Como foi sua viagem?

Minha voz estava saindo baixa e desanimada. Não vou mentir que esperava ter de Carlos um pouco mais de empolgação, mas talvez eu tenha esperado demais.

– Foi tranquila, vim assistindo um dos seus filmes favoritos.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto naquele momento, e senti o seu sorriso do outro lado da linha. Meu coração oscilou entre saudade e alívio.

– É sério? Qual?

Tentei soar mais alegre dessa vez, e não dar qualquer sinal de que meu rosto estava se inundando.

– A forma da água, lembra quando a gente conversou sobre ele?

Sua voz estava mais gentil agora, mas em nada me ajudou a diminuir o choro que saía de mim. Voltar a falar no telefone com Carlos depois de tê-lo visto estava sendo extremamente difícil. Eu queria ele ali comigo, sentir seu corpo do lado do meu e poder conversar cara a cara.

Pelo telefone | Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora