Alguma vez você já teve a impressão de que seu coração começou a bater muito devagar, que o mundo estava congelado e sua cabeça parecia não conseguir pensar? Porque foi assim que me senti enquanto lia aquela carta. A dor me invadiu lentamente pelos pés, foi subindo pelas pernas, matou as borboletinhas do meu estômago, esmagou meu coração, tirou o sorriso do meu rosto e encheu meus olhos de lágrimas. E uma vez que ela tomou conta do meu corpo, levou um tempo imenso para ir embora. Carlos Sainz passou dias me dizendo as coisas mais lindas do mundo, mas com apenas uma carta me deixou em frangalhos.
Lembro bem quando, em uma das nossas conversas, eu disse a Carlos que meu coração era como uma vila onde cada pessoa da minha vida tinha sua própria casa; eu brinquei que ele era tão especial que dentro de mim ele não tinha uma casa, e sim um sobradinho. O sobradinho de Carlos era amarelo porque me remetia ao seu país, e eu tentava manter dentro dele o aconchego de um bolo quentinho. Seu jardim era florido e vistoso, e diariamente eu regava as plantas para manter a visita das borboletas. Por todos esses dias eu lhe dei um lar dentro do meu coração e cuidei com todo carinho, mas, ao ler aquela carta, senti tanta coisa ao mesmo tempo que fiquei com vontade de derrubar a construção e fingir que Carlos Sainz nunca esteve na minha vida.
Eu nunca acreditei em amor à distância nem nunca achei que fosse possível se apaixonar por alguém que nunca conheci, mas fui pega pelo acaso e dar a ele essa chance me destruiu. Sentada naquela mesa, senti dor e raiva. Questionei todas as atitudes que me levaram até ali: comprar o ingresso para o evento da faculdade teria me poupado? Se eu não tivesse ido àquela merda, se não tivesse me sentado no maldito auditório uma fileira acima de Carlos Sainz, se eu não tivesse saído na mesma foto que ele. Se eu não tivesse um Tinder, se ele não tivesse, se o match não tivesse acontecido, se eu não tivesse passado meu número... Eu teria me poupado? Por que Carlos insistiu para me ligar aquela noite, e por qual razão eu cedi? Por que deixei um desconhecido entrar tão depressa, por que me deixei levar pelo sotaque charmoso, pelo rosto bonito, pela doçura escondida sob a aparência tão imponente? Se eu tivesse mudado todos os meus trajetos, haveria algum jeito de ser encontrada por ele? Qual caminho eu poderia ter seguido para evitar o encontro com Carlos Sainz?
Hoje, quando paro pra refletir, percebo que era evidente que não tinha outro final para aquela história. Passei anos com raiva e machucada pelo que vivi, e mesmo que hoje eu consiga olhar pra tudo com mais carinho, ainda existem resquícios de sentimentos não muito agradáveis.
Eu só me dei conta que chorava tanto quando fui tirada dos meus pensamentos por Caco, que arrastou a cadeira e se sentou na minha frente. Gentil, ele me ofereceu uma caixinha de lenços. Poxa, sua atitude me soou tão bondosa que pareceu me machucar mais.
– Imagino que não deve ser fácil para você. – ele comentou.
E eu não tinha forças para falar, apenas encarava a mesa e deixava o choro escorrer sem esforço. Sabe aquelas lágrimas silenciosas que saem tão fácil que inundam seu rosto? Era assim.
– Carlos me falou sobre você na noite em que ele te conheceu... E falou também em todos os outros dias.
Não, por favor, eu não queria ouvir. Doía demais! Eu estava em mil pedacinhos.
– Nós somos muito próximos, nos falamos com muita frequência, somos como irmãos. – Caco continuou. – Ele comentou comigo que tinha virado a noite falando com uma menina de Londres, e que o tempo passou tão rápido que nem percebeu. Disse que sua voz era muito calma e ela falava devagar; soava bonito para ele.
O Caco deixando meu coração em caquinhos.
– Me mostrou uma foto sua e falou que queria te ver. Não vou negar que achei um pouco estranho toda a empolgação, mas no decorrer dos dias percebi como ele estava apaixonado. Essa história também já me ocorreu.
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Pelo telefone | Carlos Sainz
Storie d'amore"Carlos era observador e detalhista. A risada dele era gostosa, calma e seu sotaque me deixou a ligação inteira com um sorriso bobo no rosto. Com a luz apagada e sentada no parapeito da janela, eu desfrutei de uma longa conversa com Carlos até quase...