Em frente à sala de embarque

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Carlos encostou a testa no meu ombro e eu aproveitei para explorar seu cabelo: tinha um cheirinho muito bom de alguma fruta que não sei dizer, era sedoso e bem castanho. Eu estava fazendo carinho nele quando Carlos me disse:

– Queria te levar embora comigo. – sua voz ecoou abafada em cima da minha camiseta.

Que grande besteira! Eu com certeza faria aquela grande besteira se não tivesse miolos. Meus olhos se encheram de lágrimas outra vez, mas eu não sabia exatamente o porquê, acho que aquilo só estava sendo muito difícil para mim. Não respondi nada, apenas encostei a lateral do meu rosto por cima da sua cabeça e lhe fiz um pequeno cafuné na orelha.

– Deixa eu colocar o colar em você. – ele se desencostou do meu ombro e levantou da cadeira, pegou suas malas e me estendeu a mão livre. – Vamos procurar algum lugar com espelho.

Saindo do restaurante percebi que não tínhamos feito nenhum pedido e eu até ia perguntar a Carlos se ele não estava com fome, mas meus pensamentos sumiram quando reparei nossas mãos entrelaçadas, andando pelo aeroporto como se aquilo fosse cotidiano. Eu queria que fosse, e de novo senti meu coração titubear por saber que o momento que eu estava vivendo era único. Lembro como me aproximei mais do corpo de Carlos na intenção de absorver tudo aquilo com mais intensidade, e prestei bem atenção na sensação da sua mão na minha para tentar guardar comigo todos os detalhes: o tamanho, a largura, as dobrinhas dos dedos, a firmeza do aperto. E olhei para o perfil do seu rosto sério tentando fazer a mesma coisa, e tudo que pensei na hora foi que Carlos Sainz era lindo de morrer.

– O que você está me olhando? – ele disse, dando um sorriso meio de lado.

– Você é muito lindo, Carlos Sainz. – a risadinha que recebi me fez reparar de novo no seu nariz torcendo. – E seu nariz fica uma graça quando você ri.

Eu parecia uma boba e sabia disso, mas não ligava.

– Você é uma boba, Laurita.

E Carlos também me achava, mas eu sabia que não era de uma forma ruim, pois consegui sentir o afeto na sua fala. Lembro que, antes de me encontrar pessoalmente com ele, me perguntei inúmeras vezes se a esfera seria diferente, se ficaríamos desconfortáveis, se a química bateria, se Carlos era daquele jeito mesmo e se me trataria bem. Muitos cenários passaram pela minha cabeça e confesso que em alguns momentos até pensei em desistir de vê-lo, mas hoje, quatro anos depois, agradeço por não ter feito isso. Mesmo tendo sofrido muito depois que cortamos o contato, nunca me arrependi de ter ido ao seu encontro.

Próximo a uma área que parecia de descanso, encontramos o espelho desejado por Carlos. Alguns sofás preenchiam o espaço e curiosamente não tinha ninguém lá – na verdade, o aeroporto todo estava mais vazio do que eu esperava para uma segunda-feira. Eu entreguei a ele o colar e me virei para o espelho; Carlos se posicionou atrás de mim, eu segurei meu cabelo no alto e então acompanhei pelo reflexo os passos seguintes. Prestei atenção em todos os seus movimentos: a facilidade com que ele abriu o fechinho da joia me surpreendeu um pouco, então ele posicionou o colar em frente ao meu pescoço, me deu uma olhada pelo espelho, abriu um sorriso e continuou. Quando seus dedos relaram em mim, eu logo notei a pele quentinha, me despertando uma sensação gostosa e única da qual ainda sou capaz de reviver. Fui pega de surpresa ao receber um beijinho rápido na minha nuca, seguidamente de um "adorei a pintinha", dito em referência à mancha de nascença que eu tenho naquela região. Carlos colocou a mão no meu ombro e nós passamos alguns segundos nos olhando pelo espelho, assim, finalmente pude reparar de fato a diferença de altura entre nós dois: eu batia no seu peito, e quando eu olhava para ele, conseguia enxergar a parte de baixo do seu queixo.

– Adoro te ver desse ângulo. – eu disse me virando para o homem alto ao meu lado, passando o dedo pelo seu pescoço.

Carlos segurou meus dedos e deu uma risada que foi, em palavras diretas, um pouco sexy. Se aproximou de mim, me deu um selinho demorado e, ainda muito próximo do meu rosto, subindo devagar as mãos pelos meus braços, sussurrou:

Pelo telefone | Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora