Na tarde de domingo, Carlos e eu não nos falamos muito, pois eu saí com uma amiga e ele disse que precisava estudar. Meu coração estava um pouco pesado naquele dia e eu me sentia um pouco ansiosa, uma agitação mental que eu não costumava ter.
– O que você tem, Laura? – a voz de Amber inundou meus ouvidos, me acordando da distração
– Não sei também, estou um pouco ansiosa hoje.
Amber era minha melhor amiga desde o colegial, nós sabíamos tudo sobre a outra. Eu sabia que podia conversar com ela sobre qualquer assunto.
– É o menino que você está conversando?
Menino. Sua fala me fez soltar uma risada pelo nariz; Carlos era um homem muito bem construído e não se assemelhava em nada com um menino.
– Acho que sim...
Eu não achava, na verdade. Eu sabia que era, só não queria admitir. Desde que Carlos falou comigo sobre seu sentimento de não pertencimento, algo se instalou no meu peito e desde então ficou incomodando. Parecia que a qualquer momento ele poderia ir embora, e, hoje, ao me lembrar disso, sei que eu não estava errada.
Amber e eu conversamos sobre minhas inseguranças e ela tentou me acalmar dizendo que era apenas ansiedade pelo fato de que eu conheceria Carlos pessoalmente naquela semana, e que eu estava apenas me sabotando, pensando que algo daria errado para tentar não ficar frustrada caso acontecesse. Apesar de ser minha melhor amiga, Amber não me entendeu naquele ponto, acho que era algo complexo demais para dar um conselho mais certeiro. Eu estava apaixonada por alguém que nunca tinha visto e estava com medo de perdê-lo sem ter firmado qualquer compromisso. Pensar nisso hoje me faz concluir que sim, foi uma situação esquisita, mas sou incapaz de negar ou menosprezar quaisquer sentimentos que tive na época, porque sei que eles foram reais.
Quando Carlos me ligou na noite de 6 de julho, ele estava lindo: cabelo bagunçado, carinha de cansado e um semblante feliz. Meu coração se derreteu com o sorriso que abriu quando me viu na câmera, e por alguns instantes consegui esquecer do incômodo que me assolava.
– Oi, Morita, como você está?
Ele estava diferente, não sei explicar, seu bom humor era uma graça de acompanhar.
– Eu estou bem, e você, lindo?
– Também tô. Você está tão linda com esse vestido!
Eu usava um vestido preto básico que ia até o meio das coxas; era simples, liso, nada de mais, porém me senti radiante com aquele comentário. Abri um sorrisão para Carlos:
– E você está lindo com esse cabelo bagunçado, parece um leãozinho!
– Olha, um leãozinho? – ele riu.
– É. – eu ri de volta. – Um leãozinho.
Nós compartilhamos um com o outro como nosso dia havia sido; enquanto eu arrumava meu armário, Carlos contou que passou horas estudando cálculo e que tinha quebrado a cabeça pra tentar resolver uma integral: "Eu gosto muito mais de física", ele me disse, e então ofereci minha ajuda com as integrais, pois eu tinha uma certa facilidade com elas. Se não ficou claro, eu também estudava engenharia naquela época – apesar de também não ter me dado muito bem na faculdade. Eu falei sobre meu dia com Amber, contei do nosso almoço e do passeio por uma exposição de arte, mas pulei a parte da conversa sobre os incômodos que estavam me chateando.
Naquele dia, parecia que Carlos estava no meu quarto comigo, deitado na minha cama enquanto eu organizava as roupas nos cabides. Acho que perdi as contas de quantas vezes imaginei cenas em que estávamos juntos fazendo algo normal, sem uma distância nos separando.
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Pelo telefone | Carlos Sainz
Romansa"Carlos era observador e detalhista. A risada dele era gostosa, calma e seu sotaque me deixou a ligação inteira com um sorriso bobo no rosto. Com a luz apagada e sentada no parapeito da janela, eu desfrutei de uma longa conversa com Carlos até quase...