A culpa, balas de morango e um ômega ferido.

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Harry estava parado em frente ao túmulo de Liam, seu primo e melhor amigo, ainda podia sentir a risada do outro se fechasse os olhos, eles foram criados juntos, correndo por pátios bonitos, os seguranças em seus encalços, filhos ricos de famílias poderosas tinham que achar modos de escapar de tanta gente e eles eram bons nisso. Talvez esse tenha sido o problema o tempo todo, essas famílias ricas demais, poderosas e gananciosas.

Eles se distanciaram, não foi proposital, mas era inevitável. Mesmo assim quando Liam soube do que aconteceu com o ômega Louis ele ficou chocado, insistiu que Harry deveria ter sido melhor, ao menos ter sido mais gentil e que seria necessário dar ao servo uma compensação adequada.

E Harry não o ouviu, estava furioso, irritado e não o ouviu. Isso foi antes do acidente, antes de tudo.

Seu primo Liam cresceu com ele porque os pais foram mortos em um confronto armado quando ele era muito novo, ninguém descobriu o autor de tal crime, mas tudo levou a crer que foi uma emboscada. Olhando para trás agora ele conseguia ver que os únicos que se beneficiaram de tal coisa foram os membros de sua própria família que controlaram o comércio de boa parte da cidade após isso, mas ele nunca pensou nisso antes, nunca se deixou pensar e agora se lamentava por ter sido tão cego. Seu pai foi um homem severo, mas não era um assassino, restava seu tio, aquele homem era capaz de tudo.

Com a morte dos pais de Liam o poder da família aumentou, o tio se tornou importante e a ganância só aumentou.

Esses pensamentos o esgotaram, sem provas ele não podia fazer nada.

O alfa colocou um lindo arranjo de rosas brancas na lápide de mármore e suspirou, ainda se perguntava que coincidência macabra fez com que seu melhor amigo morresse no mesmo dia que sua noiva. Ele ficou desolado, destruído e acabado neste dia.

Pensando com calma após estes longos três anos a morte da noiva e do primo que era seu único amigo verdadeiro o jogou num caos de auto destruição e a única coisa que não o deixou cometer uma loucura foi a lembrança do corpo pequeno e quente que ele teve nas mãos no período curto do cio, lutou muito contra isso pois se deixou acreditar no que todos diziam naquela época e depois. Mas será que realmente acreditou que aquele servo pequeno, extremamente jovem e terrivelmente inocente poderia ter matado uma mulher com uma faca de cozinha a sangue frio?

Olhando para o céu onde as gotas de chuva começavam a cair ele fechou os olhos sentindo a culpa vir em ondas e ondas de novo. Ele mandou um ômega para a prisão sem fazer uma investigação correta, ele o condenou ao inferno porque estava ferido demais para sequer pensar e agir, ele deixou tudo para o tio e o tio conduziu um circo ao redor do jovem ômega.

O pior de tudo é que se sentia culpado por ter traído sua noiva com este servo ômega, se sentia culpado porque ela morreu sem que o tivesse perdoado, mas a culpa maior é que ele tinha amado ter ficado com o servo, foi intenso, delicioso e muito além de tudo que já sentiu com outras pessoas. O choque inicial de ter sentido isso quando ele acordou na manhã após o final do cio o fez literalmente jogar o servo quase nu para fora de seu quarto como se o mesmo fosse uma coisa abjeta e suja, quando na verdade o ser mais abjeto do mundo era ele mesmo...

Ele que traiu, que gostou e que acabou maltratando alguém inocente.

Liam morreu ao voltar para casa, um assalto pelo que soube, sua noiva foi encontrada morta nos aposentos do servo Louis, garganta cortada com a faca de frutas que o pequeno ômega usou durante a festa que estava acontecendo no salão, ele poderia duvidar na época?

Envolto no desespero de perder o amigo e a noiva não duvidou de nada, estava arrasado, irritado e desesperado.

Harry sentia um nó na barriga ao pensar em como foi covarde, ele dormiu com o ômega, esteve com ele por três dias em sua cama, este ômega era virgem quando se deitou com ele, inocente e doce como ninguém que conheceu em sua vida, tão inocente! E se lembrava com uma nitidez sórdida em como foi cruel com ele quando o cio passou, o jogando para fora do quarto com ódio e desprezo.

O orfãoOnde histórias criam vida. Descubra agora