O tempo sem cor.

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Louis tomou um banho quente, o aroma natural de ômega havia quase desaparecido nos três anos na prisão, como se seu corpo se negasse a dar uma flor a um mundo de espinhos, quando estava se recuperando na casa da doutora também não voltou completamente, raramente surgia e geralmente tão suave como uma brisa de primavera, mas após esse banho, toalhas felpudas e roupas limpas seu corpo parecia ter sentido algo novo e o aroma a muito esquecido retornou, levemente diferente, mas singularmente puro.

A porta do quarto se abriu e Harry entrou, ele notou Louis de costas para ele, observando a grande janela que dava para o quintal interno, estava chovendo e as gotas delicadas deslizavam pelos galhos sem folhas de uma árvore antiga da propriedade em cujas flores brancas essas gotas se tornavam tão delicadas como cristais preciosos e o aroma que o ambiente recebia era fresco, cálido e delicado, levemente doce e um pouco frutado.

-Nunca notei como essas flores são perfumadas.

Louis se virou e o observou antes de baixar os olhos e começar a se ajoelhar, como era o costume de qualquer escravo para seu dono, mas o alfa o deteve.

-Não precisa se ajoelhar para mim, quero que seja feliz, lembra-se disso?

O ômega parou e o encarou.

-Como posso ser feliz se minha alma só conhece dor e escuridão?

-Eu causei a maior parte da escuridão mas agora eu quero lhe dar luz, por favor...Por favor aceite.

Louis não podia discutir, mas sua alma estava sem cor, sem vida e sem razão para continuar, mesmo assim ele seguiu o alfa.

Eles foram para uma ampla sala de jantar e para espanto de Louis dois servos vieram com chá e tigelas de guloseimas variadas, além de pães frescos e alguns ainda quentes, bolos e algumas frutas da estação.

-Sirva-se do que desejar, minha mesa sempre será farta.

Louis se serviu porque achou tudo muito lindo, mesmo que seu apetite nunca mais tenha sido bom ele ainda achou que seria desperdício não aproveitar, provou um pedacinho de pão e comeu uma guloseima, tomou chá.

O alfa esperava um momento como este para abordar o assunto, mas estava temeroso, mesmo assim achou que já era hora.

-Suas mãos...Foram feridas na prisão?

O ômega concordou levantando a palma.

-Eu recebi muitos castigos, não sei se todos tinham um motivo, mas sei que cada um era dolorido, foi assim que ganhei essas marcas, eu sinto muito que minhas mãos não sejam mais como eram antes, lisas e bonitas.

-Eu não posso voltar o tempo Louis...Mas eu gostaria de poder fazer isso.

A sinceridade das palavras pela primeira vez chegou ao ômega, mesmo que ele não acreditasse mais ainda assim aquelas palavras eram verdadeiras, mesmo que de um jeito torto.

-Eu gostaria que pudesse...Mas o mundo é assim.

Harry o observou comer delicadamente uma fatia de maça e sem resistir se debruçou sobre a mesa e tomou o rostinho delicado entre suas mãos grandes, os olhos lindos de Louis no mais puro tom de azul o encaravam de volta, sem luz mas com alguma apreensão e então ele o beijou, não foi um beijo calculado ou imaginado antes, foi terno e doce e extremamente gentil. O corpo pequeno de Louis tremeu e cedeu, ele o sentiu e o provou, saboreou o toque aveludado dos lábios delicados, o calor tênue da boca e o sabor suave que o provocou assim como o aroma de flor de Osmanthus, doce, leve e encantador...

-Louis...Seu cheiro é delicioso.

O ômega abaixou o rosto corado, ele não imaginava que após odiar tanto esse alfa ainda pudesse se sentir assim em sua presença, como isso era possível?

O orfãoOnde histórias criam vida. Descubra agora