Mulher de 40

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De manhã saí para comprar algumas coisas para mais tarde, achei legal a decoração de sexta passada, vou passar a deixar tudo bonitinho para essas noites. Estou a pendurar as últimas fitas na cor azul cintilante atrás da parede do palco. Tá Lindo.



— De onde quer que Betâ — esse era o apelido da minha avó. — esteja, está muito orgulhosa de você. — Marta comenta.


Abro um largo sorriso. Estou fazendo isso por ela, depois que li aquela carta vi o quão egoísta e imatura havia sido todos esses anos. E todo aquele sentimento de medo foi tão bobo, deu tudo certo, e nesse segundo dia não será diferente.


— Também acho! — sorrio de orelha a orelha.


Estou curiosa para saber quem serão as pessoas que irão cantar. Não há uma lista para quem cantará, quero dar chance para todos espantarem os males, a única organização é por ordem de chegada.


Está bem quente, coloquei mais mesas e cadeiras do lado de fora. Procuro deixar tudo esquematizado para mais tarde, não sei se irei trabalhar, acho que me darei folga mais uma vez, tenho que ver o fluxo, não gosto de deixar ninguém na mão, somos como uma grande família.


Recebi uma ligação do síndico do prédio em que moro, reunião de última hora. Detesto reunião de condomínio, é sempre a mesma coisa, se eu não for irei ouvir muito, Cláudio é chato com essas coisas. E para me ligar assim de última hora no fim da tarde de uma sexta feira, deve ser algo sério.


Deixo o bar no comando de Marta. Entro no carro e piso no acelerador. Quando chego vejo algumas pessoas reunidas no salão de festa, cumprimentei todas de longe, me sento ao lado de Julieta, minha vizinha de porta. Verifico as horas, vou perder as primeiras músicas.


Cláudio começa a falar, a convocação imediata é relacionada aos jovens do prédio, os adolescentes sempre dão rolezinho no salão em que estamos, fazendo muito barulho – já ouvi muitas pessoas reclamarem, eu mesma não ligo. Ele acusa os filhos da Valéria, ela fica louca com a audácia. Uma discussão ocorre, fogo no parquinho, to começando a gostar disso aqui.


Outros moradores tentam apaziguar a situação. Ambos já estão mais calmos. Para não ocorrer mais problemas a reunião é dada como encerrada. Finalmente.


Volto apressada pro El Oceano. Umas sete pessoas já devem ter cantado, que saco. Assim que entro avisto minhas amigas, e de quebra Alexandre — está com amigos diferentes, o gênero femino está em peso na sua mesa.


Vou para trás do balcão para ver se precisam da minha ajuda. Becca e Isaac negam, mas sei que precisam, o bar está cheio. Atendo alguns pedidos. Normalmente me pedem cerveja, o que facilita.


— Dois choppinhos, por favor — Impossível não reconhecer a voz grossa.


— Oie, comunistinha — amo carregar no sotaque ao falar essa palavra.


— Você não me viu cantar — faz bico.


— Não, estava ocupada, tive um contratempo. Mas tenho certeza que cantou muito bem.


— Posso cantar de novo se quiser.


Ele é inacreditável. Entrego dois copos de cerveja em sua mão.


— Que música cantou?


— Mulher de 40.


Me recordo pouco dessa música, sei que é do rei Roberto Carlos.


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