Chiquitita

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Falhei, não cumpri com o combinado, me afogo ainda mais na deprê. Tive pesadelos nas últimas noites, chorei ao acordar, era uma menina de novo, cheia de medo.


Sabe quem também falhou? Alexandre. Me lembro claramente dele falando que nunca iria me machucar, e olhe só como estou agora.


Ontem me odiei por ter revirado meu guarda-roupa, fiquei cara a cara com o vestido que comprei para o casamento de Bruno — que por sinal tinha me esquecido. Estou tão fora desse tempo que conta os segundos, horas e minutos, que nem me atentei ao calendário.


Também não me importo. Lamento aos noivos, mas infelizmente não terão minha presença. Se eu for, os lencinhos ficarão comigo, e meu choro não será de alegria, vai ser tristeza. Minha presença só tem sentido se fosse não for ao lado do meu par. Pegar o buquê é o sonho de qualquer convidada, até o meu, mas do que adianta se não há ninguém para casar.


Tenho pensado muito em casamentos, desde que meu apartamento virou oficialmente o dele. Minha mudança de opinião aconteceu mais rápido que o esperado. Hoje eu quero um vestido branco e um véu sobre a cabeça. Pisar em uma capela e ler os meus votos.
Quero isso nem que seja com outro homem.


Eu com outro homem, quem eu quero enganar. Na minha vida só há um e será assim até o fim, mesmo que ele não seja mais meu.

O que as meninas me disseram não ajudou muito. Ainda não consigo olhar para o ponto de vista dele em relação a mim, a nossa distância. Tento ao máximo usar desse tempo ridículo para colocar minha mente em ordem e entender Alexandre.


A única coisa que entendi foi o fato deu ter errado ao não ser totalmente honesta. Quero mudar isso em mim, pois não só me machuco como acabo ferindo os outros.


Meu tempo de não tecnologia passou, estou enviando mensagens — alguns delas veerdeiras, outras mentirosas. Falei que o que tenho é sério, contagioso, para evitar possíveis visitas. — Cogitei mandar um texto para Nero, nem que fosse o último.

Quando entrei em nossa conversa o que vi foi sua última referência em texto a minha pessoa.


Alê: Gio, cadê você? Fui no bar


Alê: Está tudo bem? Atende, sou eu quem liga.


Alê: Gio, me de notícias, está me deixando preocupado.

Alê: Tá na praia ainda?

Alê: Me retorne um quanto antes, por favor.

Alê: Te amo.



E eu o amo, tanto, tanto...


Só tenho mais duas garrafas da droga que me consola. Estou a tomar cada gota de olhos fechados do que ainda me resta nessa vida.


Uma hora tudo que venho ingerido teria que sair, e esse dia chegou. Estou abraçada com vaso sanitário liberando tudo, até minhas lágrimas
voltaram ou melhor que resta delas, já chorei tanto que nem sei como ainda consigo tal ato. Estou a viver de restos e creio que daqui em diante não vai ser diferente.


Giovanna! — a voz marcante de Rita me chama.


— Não estou acreditando nisso, Chérie.


Não sei como conseguiram entrar, também não esperava que chegariam tão cedo, para mim alguns dias seriam daqui algumas semanas.


Débora se aproximou e segurou meu cabelo para que não caísse e sujasse ainda mais.


El OceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora