Eu te devoro

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Segunda quinzena de Maio, dia que a linha do Sul se cruza até aqui, na cidade maravilhosa. Não é grande coisa, mas me sinto animada e ansiosa, conhecer os amigos de infância do seu namorado não é uma tarefa fácil. Eles são a segunda família, se não gostar de você já era.

Parece que será um grupo de cinco amigos, vi fotos de alguns. Julgando pela capa, parecem gente boa, assim como aqueles que estou cansada de ver por aqui. Nero tem bom gosto para amigos, é bem seletivo para amizades.

Eu já sou um pouco mais dada, com as pessoas que merecem, é claro. Também não sou ingênua de achar que todos querem amigar, ainda mais quando se trata de folgados que aparecem no meu bar.

Hoje em dia não recebo tantos otários, mas antes, quando mais jovem. Diversos tipos de homens davam em cima de mim, fui ensinada pela melhor pessoa a nunca deixarem que fizessem nada comigo. Sou bocuda, falo e rebato a nível, nenhum homem coloca ordem em mim.

O que mudo também foi o meu status, claro que ainda há aqueles desavisados que tentam pegar meu número de telefone. Mas os antenados sabem que estou comprometida, outra coisa impossível de não se perceber. Alexandre parece um adolescente na puberdade descobrindo as maravilhas da vida, me agarra em tudo que é canto. Poderia até ser confundido com um tarado em olhares alheios.

Resumo de tudo, seus amigos estão a caminho, marcaram de almoçar. Não irei conseguir ir, pro mais que eu precisasse, Isso é importante para Alexandre, e eu faço parte de quem ele é, e vice versa. Mas havia marcado de passar o dia com Tobias, esse daí está me dando vários sustos. Essa pressão dele não está nada boa.

Contudo, iremos nos encontrar noite, seria desfeita não passarem no bar para me verem. Ainda mais com o grande show que terá, como presente, tanto de aniversário atrasado, quanto da minha ajuda diária em relação a sua saúde — disse que não precisava se preocupar com isso, mas ele é teimoso. — Tobi fez questão de chamar a Alcione para ir cantar no El Oceano.


Amo as músicas da Marrom e poder ter ela cantando no meu bar é uma grande honra. Tobias precisa me contar de onde vem tanto contato, não é a primeira vez que grandes estrela cantam no bar. Serei muitíssimo grata pelos feitos do meu pai, amo ele com todas as minha células. Ele assim como Marta, Rita e Débora, é o que resta da minha família. Agora o Alê faz parte dela, mas antes dele existir era apenas o meu quarteto.

Devo tudo a eles. Ontem mesmo estava lembrando de coisas do passado, pegue as minha caixa de recordações, encontrei desde a mecha do meu primeiro corte de cabelo até uma foto Polaroid dos dias atuais. Tomei coragem também de abrir a caixa de nonna, sou fascinada pelos broches que a compõem. Minha meta para o próximo ano é visitar a Itália, devo isso aos meus ancestrais.

Bom, diante do passado me intriguei com a foto borrada, queria conseguir ver meu avô. Pelas cartas e pelo que minha avó falava, ele era um cara espetacular, tenho certeza que como avô não seria diferente. Mais uma vez me peguei questionando por onde anda Saulo, se ainda está vivo, e se a resposta for sim, se gostaria de me conhecer. Porque eu amaria tê-lo por perto, mas no fundo não sei se vale a pena ir atrás, já se passaram tantos anos. Nero disse que me ajudaria com as investigações, ele sabe o quanto a história da minha família me intriga.

Saindo da nuvem do antigo, preciso viver o novo, meu presente. O dever me chama.

No apartamento super moderno e atual de um homem de quase 70 anos — algo que ninguém o julga por essa idade. —- Estou a terminar minha torta de limão, foi feita a velha receita escrita a mão e não comprada. Por incrível que parece está boa, sei que ele é um cozinheiro de mão cheia, mas nunca pense que se desse bem nos doces.

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