CASAMENTO

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O casamento estava marcado para acontecer em uma semana. Macau, com seu cabelo escuro e olhos intensos, não conseguia deixar de pensar que seu futuro marido, parecia ter muita pressa, quase uma ânsia para acelerar os preparativos.

O pai de Macau, estava, até então, incrédulo. Seu filho, normalmente tão vibrante e cheio de vida, estava surpreendentemente calmo, quase irreconhecível. Nem parecia o mesmo jovem que estava prestes a se casar. Até mesmo o enxoval, uma coleção de tecidos finos e bordados delicados, estava sendo organizado por Chay, o melhor amigo de Macau, sempre meticuloso e atento aos detalhes.

- Olha aqui, Macau. Não é lindo? - Chay exibia as roupas de dormir para o amigo, um conjunto de seda azul-celeste que brilhava à luz do sol que entrava pela janela.
- Parece uma mortalha ou roupa de luto. Pelo menos terei o que usar quando meu marido bater as botas - brincou Macau, tentando aliviar a tensão com seu humor característico.

Chay escolheu ignorar o comentário, sabendo que Macau frequentemente usava o humor como uma defesa. Ele segurou outro conjunto, desta vez de seda branca com fios de ouro.
- Este aqui combina com seu tom de pele, um contraste perfeito para sua pele morena.

Macau parou por um momento o que estava fazendo, seus olhos se fixaram no tecido luxuoso. Realmente, era muito bonito, até mesmo ele tinha que admitir.
- Não sei para que isso, Chay. Se eu durmo pelado! Eu ficaria muito, muito feliz se esse enxoval fosse convertido em bebidas. Já pensou? Uma festa com os amigos, risadas e histórias para contar...

- Macau! Macau! Você só pode ter batido a cabeça quando nasceu. Os ômegas se protegem. Eles são quietos e submissos. Ômegas não dormem pelados, eles dormem em roupas como estas de seda e ômegas não bebem, a menos que seu Alfa permita - Chay falou, seus olhos castanhos cheios de preocupação. Ele tinha medo pelo amigo, medo do que poderia acontecer se seu Alfa...

- Se meu Alfa o quê? - Macau interrompeu, sua voz baixa e séria.
- Descobrir seu lado rebelde - Chay completou, a preocupação evidente em seu rosto.
- Você acha que ele pode usar violência física contra mim? - Macau perguntou, seu tom casual escondendo a tensão subjacente.

Chay balançou a cabeça envergonhado. Existia esse outro lado da hierarquia. Muitos tentavam esconder, mas as histórias sempre circulavam. A violência, o controle, o medo - tudo isso era uma realidade para muitos ômegas.

Macau era muito alheio a isso. Seu pai, embora longe de ser o marido ideal, nunca havia usado de violência contra a esposa. Macau caminhou entre os pertences do enxoval, seus dedos roçando os tecidos finos e delicados. Pegou a primeira roupa de dormir que ele achou parecida com uma mortalha, seu rosto sombrio.

- Se isso acontecer, Chay. Então o meu marido é quem vai usar isso... no caixão - Macau disse, seu tom sério.

Era instinto. Chay se deu por vencido. Macau era um Ômega com espírito e pensamentos de Alfa. E ele tinha medo pelo amigo, pois no meio deles, essa atitude era tão... divergente. Eles viviam em um mundo que exigia submissão dos ômegas, mas Macau era tudo menos submisso. E isso, Chay sabia, poderia ser perigoso.
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