Aemond segurava firme o celular em suas mãos e observava Daemon em sua frente.
Ele não poderia fazer isso, não com eles. As únicas pessoas que o acolheram, ajudaram e aconselharam. Daemon era seu treinador, ensinou e guiou mais do que seu próprio pai.
— Caraxes! — a voz ecoou pelo jardim e Daemon movimentou seu rosto rápido ao ouvir seu codinome — Preciso falar com você e Syrax urgente.
***
Rhaenyra permanecia com seus olhos melancólicos e cenho franzido. Leu a mensagem mais de uma vez, tentando compreender o motivo do golpe.
— Nosso pai está morto? — Rhaenyra perguntava sem encarar Aemond nos olhos.
— Não. O objetivo desse ataque é outro.
— Não entendo — caminhou de um lado para o outro balançando a cabeça — Se a intenção de Alicent era colocar Aegon como patriarca, porque não assassinou meu pai e usurpou definitivamente?
Aemond não soube responder. Ele sabia que um plano estava acontecendo, mas ninguém informou detalhes, apenas sinalizaram para ficar atento que algo importante seria iniciado.
— A posição de patriarca na família não é decidida pela ordem de nascimento dos filhos — disse Daemon encostado na parede com o celular na orelha tentando entrar em contato com suas filhas — O patriarca pode nomear qualquer filho, como Viserys não nomeou oficialmente Rhaenyra, esse posto continua aberto.
— Eles precisam do meu pai para nomear Aegon?
— Sim, se Viserys morre, apenas os Targaryen mais velhos podem decidir quem será nomeado. Se não houver nenhum da velha guarda, às cinco famílias têm o direito de realizar uma votação e extinguir a linhagem ou realizar algum acordo benéfico com o matrimônio. Alicent só tem a perder com a morte de Viserys.
— Ela montou uma emboscada, como se fosse um ataque de outras famílias e me executaria na propriedade Stark alegando traição?
Daemon assentiu com a cabeça olhando-a com atenção.
— Quem os ajudou? Além dos Lannisters, quem mais teria habilidades e loucura para realizar esse ataque?
— Os Baratheon ainda estavam ressentidos devido ao assassinato de Boros — Aemond respondeu aproximando de Helaena que aparentemente estava abalada com as informações — Meu avô entrou em contato com os mercenários da companhia dourada, oferecendo uma ótima recompensa.
Rhaenyra fecha os punhos e aperta os dentes sentindo a raiva preencher seu corpo. Sua respiração acelera e seus olhos escurecem com ódio. Eles feriram seu pai, provavelmente Rhaenys e as gêmeas de Daemon também por poder e ganância. Eram sujos, mesquinhos e podres iguais aos ratos imundos da fortaleza.
— Alguma notícia? — ela olha para Daemon ainda com o celular em sua mão direita.
Ele balança a cabeça negativamente demonstrando um semblante melancólico e preocupado. Enquanto não soubesse sobre suas filhas, nenhuma ação deveria ser tomada.
— Porque traiu sua família? — ela ergue a cabeça petulante e com fogo nos olhos, encarando seu irmão que permanecia em pé.
— Minha família? Não traí vocês. O restante não é nada, nem nosso pai, me desculpe a sinceridade irmã, mas ele nunca foi um pai para mim.
Um fato doloroso no qual ela não poderia rebater. Seu pai casou novamente apenas para aumentar sua linhagem, mas cuidar dos filhos, isso ele nunca fez.
Rhaenyra sabia do favoritismo com ela. Era igual a sua mãe e essa lembrança causava nostalgia aos olhos de seu pai.
— O que pretende fazer, irmão? Está do nosso lado? Permanecerá conosco?
As perguntas trouxeram a atenção de Daemon para a conversa, fazendo-o se aproximar e guardar o celular no bolso.
Aemond olhou com doçura e um sorriso calmo para Helaena, acariciando sua mão.
— Voltarei para a Fortaleza! Não confirmarei a morte de vocês e informarei sobre o sequestro de Helaena.
— Não... — Helaena sussurrou agarrando no braço de Aemond segurando as lágrimas, aflita.
— Está tudo bem — ele sorriu — você ficará mais segura com eles, mas preciso voltar e passar as informações de qualquer ataque para vocês.
— Eles acreditaram em você? — Rhaenyra pontua preocupada, ela não gostava da ideia dele mentindo e se arriscando com algo tão perigoso.
— Fui treinado por Daemon — ele deu de ombros — fui ensinado a manipular.
Ela também foi ensinada por ele como manipular qualquer conversa ao seu favor omitindo com perfeição.
— No entanto, não posso voltar sem nenhum ferimento. Enfrentei vocês dois e sair ileso seria impossível.
Rhaenyra observa Daemon de soslaio enquanto ele arrumava a postura entendendo onde seu sobrinho queria chegar.
— Tem certeza disso?
— Sim Daemon, ter alguém infiltrado vai ajudá-los nos próximos passos. Eles me enviaram para a morte. Jamais conseguiria lidar com vocês juntos. Não tenho nenhuma consideração por eles.
— Vamos lá fora — Daemon girou a maçaneta abrindo a porta calmamente — vou deixar alguns hematomas e um braço quebrado.
— Lorde Stark precisa ser informado — ela afirmou — Agora quanto mais aliados tivermos, mais oportunidades de retomarmos o que é meu por direito teremos.
— Agende uma reunião com ele ao entardecer, mas agora, sua irmã precisa de seu apoio.
Seu rosto observa Helaena agarrada em seus próprios braços trêmula e em pânico. Sua família estava desmoronando e a única pessoa que amava estava partindo para uma missão arriscada.
Rhaenyra cuidaria de sua doce irmã até o fim dos dias.
***
— Você sabia desse ataque quando aceitou essa viagem? — ambos caminhavam mais distante da mansão principal adentrando-se no represeiro mais próximo.
— Eu sabia que algo ia ser feito, mas não fui informado quando aconteceria. Queria ter certeza sobre tudo para te informar.
Daemon não olhava Aemond nos olhos. Sua postura era dura e caminhava em passos pesados processando tudo o que aconteceu.
— Desconfia de mim?
Ele parou de caminhar, permanecendo de costas e enfiando as mãos no bolso sentido o vento gelado bater em seu rosto.
— Confio em você! Só estou... Preocupado com tudo o que pode acontecer...
— Não vou falhar!
Daemon o encarou percebendo a voz decidida de seu sobrinho. Aemond não parecia em nada com Viserys, tão pouco com Alicent, mas a confiança e teimosia lembraram Rhaenyra quando mais nova em seus primeiros dias de treinamento.
Ele era apenas um menino que estava disposto em ajudá-los mesmo que custasse sua vida.
— Você não pode falhar! Prometa-me não morrer.
— Eu prometo — ele escorrega para seu dialeto ancestral demonstrando sinceridade em sua voz.
Daemon sorri orgulhando-se de criá-lo tão bem.
— Agora me diga, Vhagar, qual braço devo quebrar?
***
Rhaenyra solicita para a governanta Stark preparar um chá e acalmar o coração de sua irmã que permanecia aflita.
Não apenas o coração de sua irmã estava inquieto como o dela também. Nenhuma notícia de Baela e Rhaena, sua prima Rhaenys não retornava as ligações e o pior passava em sua cabeça.
Se algo acontecesse com as filhas de Daemon, nem mesmo ela conseguiria segurá-lo.
Rhaenys protegeria seu pai se sacrificando. Mesmo com as ofensas do passado ela sempre foi leal a família e seu código de ética era impecável.
Talvez Laena e Laenor saibam de algo? Ela poderia proteger suas netas em driftmark com a segurança imaculável de Corlys.
— O que te preocupa, Syrax?
Cregan possuía uma voz marcante, forte e gentil quando demonstrava preocupação com alguém. Ela sabia que apesar do amor dele pela mulher de cabelos negros e longas tranças, ele criou afeição por ela.
— Minha casa sofreu um golpe e o patriarca ficou gravemente ferido.
Rhaenyra continuou a conversa contando detalhes, o plano, as traições e como seguiria daqui para frente.
— O ataque feito na reunião entre as cinco famílias foi orquestrado pelos Hightower?
— Certamente!
Eles saem da cozinha caminhando até a sala principal e Cregan encosta cuidadosamente no encosto do sofá observando o rosto de Rhaenyra, ouvindo suas estratégias e admirado com sua inteligência.
— Você tem a postura de uma verdadeira líder — ele sorri pegando em sua mão, olhando o anel de noivado que ela não teve tempo de devolver — Cuidará de sua família melhor que qualquer outra pessoa.
Suas bochechas traiçoeiras coram pelo elogio. Cregan era um homem bonito, isso ela não poderia negar e ser elogiada era algo que apreciava.
Esse toque e conversa ainda demonstram um fio de esperança em retomar o noivado? Ela estava confusa no que exatamente Cregan gostaria de propor.
Os passos pararam abruptamente quando Daemon visualizou a cena. A mão de Rhaenyra estendida e os dedos de Cregan entrelaçando no anel de noivado.
Ele franze a testa com isso.
— Desculpe o incomodo — ele grunhiu segurando a voz raivosa — Preciso conversar com minha sobrinha a sós, Lorde Stark!
Cregan solta a mão delicadamente, olhando para ela como se esperasse permissão.
Ela assente com um sorriso, caminhando ao lado de seu tio.
— Retomaremos nossa conversa o mais breve possível.
Daemon e Rhaenyra seguem até o quarto ficando a sós de portas fechadas.
Ele a encara com o peito subindo e descendo segurando o sentimento de ciúmes que dominou seu corpo.
Rhaenyra aprecia os sentimentos conflitantes dele se deliciando em vê-lo colérico com um simples toque de mãos.
Ele nota o anel brilhante permanecendo no dedo anelar direito, arqueando uma sobrancelha e controlando seu instinto mais possessivo.
— Minhas filhas estão bem! — ele cospe as palavras mudando o assunto principal de sua mente.
Ao ouvir a boa notícia Rhaenyra sorri, aproximando-se com as mãos trêmulas.
— Onde elas estão?
— Rhaenys as protegeu e estão em seguranças em driftmark.
Ela sabia disso.
— Seu pai está no hospital ainda inconsciente. Rhaenys confiou em Alicent e Otto na segurança dele enquanto protegia suas netas.
— Você contou a verdade?
— Sim! Ela deduziu que seria algum golpe de outra família, só não imaginou que seria alguém de dentro, uma traição.
Rhaenyra caminha de um lado para o outro girando seus anéis pensando em um plano de trazer o patriarca para sua proteção.
Seu pai também se tornou um alvo fácil para um ataque de seus inimigos, deixando a família ainda mais vulnerável.
Um alvo foi desenhando em suas costas e precisava pensar com cautela quais seriam seus passos. A morte não era uma opção, mas ficar de braços cruzados com medo não era de sua personalidade. Não sentia medo de se arriscar e faria de tudo para salvar seu pai.
— Devemos ir até o hospital, locomover o patriarca para outro lugar sob nossa proteção.
— Você não deve ir até lá, é exatamente o que querem! Assim que Aemond informar de sua falha na missão, a proteção na fortaleza e no hospital triplicará.
— Por isso devemos ir agora!
— Não posso arriscar você!
Ele ainda estava bravo em Rhaenyra continuar íntima de Cregan como se o casamento nunca tivesse sido desfeito. Seu maldito anel de noivado permanecia em seu dedo, mas entendeu que tudo aconteceu rápido demais e precisavam cuidar do golpe que acabará de levar.
Mesmo irritado, ele se preocupava com ela. Não aceitaria nenhuma missão suicida apenas por proteção do patriarca. Ela era o futuro de sua família, deveria ser prioridade sua segurança e qualquer sacrifício que precise ser feito, ele fará.
Por ela.
— Eu irei! — ele afirma, desviando o olhar dela.
— Não... — ela suplica — Não... Você não pode!
— É meu dever fazê-lo!
— NÃO! — ela grita segurando em sua mão forçando olhá-la — Seu dever é estar ao meu lado.
Daemon não consegue desviar o olhar. Os olhos de Rhaenyra enchiam de lágrimas, mas seu semblante permanecia autoritário, como se suas palavras fossem uma ordem.
Ela não queria assumir, mas sentia medo. Medo de perdê-lo em meio ao caos. Seu porto seguro em todos esses anos mesmo quando eram apenas tio e sobrinha.
Ela permanece com os olhos firmes e testa franzida, mas suas mãos suam frio e seus dedos não param de tremer.
Ele nota além das paredes de seus sentimentos que ela sentia algo mais profundo por ele. A incerteza ainda estava em seus pensamentos. Ele largaria tudo por ela de olhos fechados, mas ela faria o mesmo?
— Fica. — sua voz levemente embargada e baixa súplica por ele.
Suas mãos seguram o rosto dela como algo precioso, algo raro que era apenas dele. Ele acaricia a pele macia com os polegares fazendo pequenos círculos nas bochechas rosadas. Qualquer ciúme que sentiu antes dessa conversa desaparece. Ela ainda não demonstrou seus verdadeiros sentimentos e vê-la tão desesperada em perdê-lo, fez seu coração se acalmar internamente.
Ele a beija, sentindo os lábios macios envolverem perfeitamente nos seus. Não era o beijo esfomeado e cheio de desejo que estavam acostumados em compartilhar, era mais profundo onde palavras não poderiam descrever.
Suas mãos agarram a cintura trazendo-a mais perto de si como sua proteção, acomodando-a em seus braços não deixando ninguém machucá-la.
Ele sabia que ela não era uma mulher frágil, sempre foi habilidosa e derrubaria qualquer pessoa que a desafiasse, mas agora ela estava vulnerável, perdida pelos acontecimentos e punhaladas no peito.
Eles sabiam que algo estava sendo tramado, mas a traição era algo que Rhaenyra não conseguia suportar.
Se ela o perdesse, seu mundo estaria devastado. Nunca imaginou que poderia sentir algo tão forte por alguém, sendo ensinada desde pequena que amor era uma fraqueza.
Ela entende agora o quanto esse sentimento era perigoso para sua reivindicação.
Amá-lo era forte demais e nenhum dever faria se desfazer dele.
— Eu fico!
Ela apenas sorri voltando a bater seus lábios no dele sentindo-se protegida, no calor de seu corpo.
***
Por mais que seu desejo em dormir abraçada com Daemon fosse grande, ela não poderia insultar a família Stark com qualquer obscenidade.
Relutante, Daemon a deixa sozinha em seu quarto descansando.
Ela sente o vento gelado subir em suas pernas, mesmo aquecida pelas cobertas nortenhas. Seu corpo se levanta, encontrando a porta da varanda aberta e as cortinas do quarto balançarem com o vento gelado da noite.
Rhaenyra tinha certeza que conferiu o fechamento de todas as portas. Seu olhar observa com atenção ao redor do quarto desconfiando qualquer intruso.
Haveria traidores em Winterfell?
Ela caminha silenciosa próxima a cômoda onde permanecia seu revólver.
Quando alcança a arma, seu pulso é puxado para trás, deixando o revólver cair no chão. Seu braço esquerdo agarra a cabeça de seu oponente por trás derrubando-o. A velocidade dos movimentos eram semelhantes aos dela.
Ela desfere chutes e socos desviados perfeitamente pelo seu intruso.
O estilo de luta era semelhante ao dela e isso a deixa curiosa.
Para sua surpresa, seu oponente não tenta atacá-la, apenas continua de pé olhando-a por trás de sua máscara com os punhos levantados para qualquer defesa.
Rhaenyra gira o corpo com cautela tentando se aproximar de sua arma no chão.
Ambos silenciosos, com a mesma pose de defesa. Ela observa o corpo curvilíneo e o volume dos seios concluindo que seu adversário era uma mulher.
Ela observa sutilmente a arma próxima imaginando um movimento rápido para pegá-la.
Os golpes de ambas eram tão discretos e silenciosos que elas poderiam ter sido treinadas pela mesma pessoa.
"Quem diabos é você?" ela se pergunta internamente divagando em quem já foi treinada por Daemon.
Ela desliza o corpo alcançando o revólver e girando o corpo de sua inimiga no chão. Quando Rhaenyra retira a trava de segurança e mira pronta para atirar, a mulher caída no chão diz:
— Daemon a treinou bem. Seus golpes são perfeitos Rhaenyra.
Como ela sabia nossos nomes?
— Revele seu rosto agora!
Com uma das mãos livres, a mulher retira a máscara e touca revelando os cabelos prateados característicos de sua família.
Ao finalmente visualizar o rosto da mulher pela luz da lua que entrava pela janela, seus olhos arregalaram, sua boca fica seca, seus lábios tremem e a voz sai entrecortada segurando a emoção.
— Mãe?
***

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Bloodline
FanfictionConteúdo: ADULTO (+18) A família Targaryen segue uma longa linhagem de assassinos. Eram treinados desde pequenos a seguirem seu caminho assim como Aegon conquistador. Após séculos e séculos, nenhuma mulher seguiu como matriarca, mas Viserys estava...