Capítulo 14

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— Você estava viva todo esse tempo?

A pergunta de Rhaenyra despertava um sentimento de abandono. Sua mãe permaneceu afastada dela por todos esses anos. Sofreu com a perda aos 12 anos, aprendendo a lidar com a morte desde cedo. Ela estava em seu enterro chorando e abraçando seu pai não conseguindo olhar o corpo no caixão pelos diversos ferimentos expostos.

E aqui estava ela, no quarto de hóspedes da família Stark, entrando sorrateiramente para deixar alguma mensagem oculta para sua filha.

Aemma olhou ao redor do quarto encontrando rostos conhecidos com o semblante decepcionado. Quando seus olhos encontraram os de Daemon, ela podia sentir a tristeza nos pares de ametista e na profundidade de sua pupila.

Cregan também analisava a situação tentando compreender da melhor forma todos os acontecimentos nos últimos dois dias em sua propriedade.

O olhar dele fixou em Rhaenyra, sentindo-se preocupado ao notar os lábios trêmulos e seus dedos circularem obsessivamente os anéis.

— Precisei me afastar Rhaenyra! — Aemma finalmente responde, com seu tom de voz baixo.

— Você esqueceu que tinha uma filha?

— Nunca! — ela exclama — Acompanhei seu crescimento de longe, não podia aparecer, precisava ficar longe da família.

— Por qual motivo?

Ela engoliu seco encontrando forças para dizer.

— Minha vida era horrível, Rhaenyra. Você era minha única alegria — pegou em suas mãos acariciando — Fui obrigada a casar, a matar, a servir apenas aos homens dessa maldita família e você deveria aproveitar, sumir, viver uma vida nova.

Rhaenyra se desfaz das mãos dela olhando-a com desgosto.

— Você amava meu pai!

— Fingia amar, apenas aceitei o meu destino.

— Eu sou a futura matriarca, lutei por esse lugar todos esses anos e não vou entregar de bandeja.

— Você não será feliz com essa vida. Casará com alguém apenas por arranjo político, terá filhos que serão treinados para a morte, sem uma infância verdadeira. Acha mesmo que você será a líder de uma família que foi passada de geração em geração por homens?

— Eu estou aqui para mudar a ordem!

— Balerion nem ao menos te nomeou.

Isso era algo que fazia seu estômago revirar. Seu pai demorou demais para nomear seu herdeiro, ainda desconfiado se ela realmente era a escolha certa.

Seu olhar percorreu o redor do quarto.

— Gostaria de falar com minha mãe a sós, se possível por favor.

Daemon permanecia calado, observando todos saírem do quarto e caminhando até a porta por último. Seu rosto estampava desaprovação, mas aceitou o pedido de sua futura matriarca.

Sua futura mulher.

— Casarei com alguém de minha escolha, sem arranjos.

— Você está destinada a Cregan...

— Não mais! Estou aqui em Winterfell para cuidar exatamente disso.

— E quem seria o homem de sua escolha? Viserys jamais aprovaria!

— Aprovaria o sangue de seu sangue para a glória de sua casa.

Aemma semicerrou os olhos pensando em quem seria.

— Daemon?

Rhaenyra não confirma, permanecendo com os lábios cerrados.

— Oh! Rhaenyra, você sabe que ele só pensa em poder. Confiei nele em seguir seus treinamentos, deixando-a mais forte, mas jamais imaginei que se aproveitaria de você.

— Não sou uma garota ingênua! Me trata como se fosse tola. Acha mesmo que não analisei tudo antes de entrar nessa loucura? A família virou meu objetivo de vida e com Daemon, minha reivindicação não será contestada.

— Se você sente amor por ele, então jamais poderá ser a matriarca. Amor é a maior fraqueza em nossa posição. Será um alvo fácil para todos os inimigos.

— Não serei fraca como você, escondendo-se pelas sombras, idealizando uma vida plena, deixando sua única filha sem mãe.

A frieza em suas palavras, fizeram Aemma encher os olhos de lágrimas, mas sem derramar nenhuma em seu rosto pálido.

— Fuja Rhaenyra, viva sua vida com liberdade, você não merece ficar presa com um legado tão sujo.

Rhaenyra caminha até a porta, abrindo abruptamente.

— Some, antes que eu mesma termine o que deveria ter terminado anos atrás.

Um gosto amargo sobe por sua garganta com as frases cortantes e a frieza de Rhaenyra. Seu corpo para entre o batente da porta olhando pela última vez o rosto de sua criança.

— Eu sempre estive ao seu lado.

— Nas sombras, como um covarde!

Aemma vira o rosto disfarçando a imensa tristeza em seu coração. Ela sabia que Rhaenyra não a perdoaria, mesmo contando seus motivos que eram plausíveis em seus pensamentos.

Ela sai, reverenciando Lorde Stark e segue até a saída acompanhada de seus seguranças.

***

Daemon segue os passos de Aemma até a saída. Ele precisava de respostas, entender porque sua cunhada - na qual sempre admirou - fugiu deixando sua filha sozinha e desamparada. Mesmo que Daemon tenha cumprido com sua promessa treinando-a e protegendo-a, a criança precisava da mãe. Viserys era um pai ausente, mesmo amando-a mais do que tudo, seus deveres sempre eram prioridades.

Os seguranças a levam até o portão principal indicando a saída.

— Aemma! — ele chama notando o corpo dela parar, mas permanecendo de costas — Essa história de ir embora porque estava infeliz não me convenceu.

Ele a conhecia mais do que seu próprio irmão. As missões eram designadas em duplas e Aemma nunca contestou seu trabalho, sua posição ou até mesmo seu amor.

Balerion me jogou como isca — pronunciou em sua língua materna, apenas para Daemon entender.

Ele me disse que você o protegeu até o último instante, que morreu em seus braços e o salvou bravamente.

Ela ri, o deboche dançando em seus lábios.

Ele me deixou, no meio do fogo cruzado. Fugiu, como se fosse apenas um peão em seu tabuleiro, um soldado qualquer que poderia ser substituído por alguém mais jovem.

Um novo casamento era planejado enquanto Aemma era viva. Depois de suas diversas tentativas de gerar mais herdeiros falharam, Viserys a designava em qualquer missão para se livrar dela e casar novamente.

Ela foi tratada apenas como uma égua reprodutora, sendo sacrificada quando não gerava mais vida.

Se você sente algo por ela, a deixe. Precisa convencê-la a viver uma vida de paz. Você não vai proporcionar isso a ela, nós dois sabemos disso.

Não vou tratá-la como uma simples marionete. As decisões que tomar, apenas seguirei.

Ela vai morrer e a culpa será sua.

Aemma termina sua frase, vestindo o capuz e seguindo seu rumo, longe de Winterfell.

A culpa da morte de Alyssa sempre caiu em seus ombros. Ele sabia que esse comentário foi para mexer com seus demônios do passado. Daemon jamais deixaria a história se repetir e protegeria Rhaenyra até seu último suspiro.

***

— Precisamos estabelecer aliados e acomodar minha irmã em um lugar seguro.

Daemon a observava analisar o mapa e demarcar quem estaria ao seu lado. Preparava os argumentos e recompensas para quem aceitasse os termos. Todos precisam de incentivos para honrar com os juramentos. Sua família era superior entre as cinco e a queda deles representaria um trunfo e ganho territorial. Os Targaryen eram uma família de assassinos destinados apenas a cumprir com os trabalhos solicitados e devidamente pagos. No entanto, o poder se estabeleceu quando figuras importantes ficaram presos em seus bolsos, facilitando os planos de chefiar os pontos mais lucrativos entre as máfias.

Ela precisava pensar em seus movimentos estratégicos, no contra-ataque e nos benefícios que poderia oferecer.

Porém, o que mais intrigava Daemon era a frieza em como lidou com a situação de Aemma. Ao voltar para o quarto, não ouviu nenhuma palavra do ocorrido. Um semblante mais sério e determinado criou morada em seu rosto e falava apenas em reconquistar o que era seu por direito.

— Dorne sempre esteve do nosso lado — diz Rhaenyra, interrompendo suas reflexões — podemos enviar Helaena para lá e criar um vínculo mais político.

— Não será difícil convencer a víbora vermelha. — ele ressalta — Se tiverem a chance de derrubar os Lannisters, será motivo suficiente para ficarem ao nosso lado.

Oberyn demonstrou grande alegria em unir suas forças com os Targaryen e restabelecer o vínculo de poder entre eles.

— Faremos um acordo! — ela afirma — Precisamos de tempo para Aemond enviar o cronograma dos seguranças no hospital onde meu pai permanece em coma.

Rhaenyra não conseguia olhá-lo nos olhos, focando apenas no mapa, as anotações, pensando avidamente em lutar pelo, o que era dela.

A planta do hospital centralizava a mesa analisando as brechas para a entrada. Daemon sabia que juntos poderiam dominar o local, mas a segurança dela ainda o preocupava. Eles esperam que ela vá, é óbvio a emboscada.

— Rhaenyra... — ele a chamou suavemente.

— Nós precisamos estabelecer as defesas e organizar os termos com os Starks!

— Rhaenyra! — ele insiste chegando mais perto, notando a hesitação em seu olhar

— Não podemos permanecer aqui, estar-

Daemon a vira para si, erguendo o rosto com a ponta dos dedos e encontrando as lágrimas escorrendo por seus olhos lilases.

— O que está fazendo? — ela perguntava com a voz trêmula.

Ele não responde, fixando seus olhos em seu rosto triste, enxugando com os dedos as lágrimas que não paravam de descer.

Nenhuma palavra a ajudaria agora. Desde a notícia dos ataques na Fortaleza, nas traições dentro de sua família e agora descobrir que sua própria mãe a deixou, a fizeram criar uma barreira defensiva.

Ela precisava de cuidados e ele sabia disso.

No entanto, precisava convencê-la em aceitar.

Daemon envolve os braços dela em torno de si, abraçando-a. Ela luta, não querendo afago ou piedade. Sempre foi uma garota pirralha, ele lembra.

Seus punhos batem em seu peito tentando sair do abraço, fechando os olhos não querendo ceder.

Ela se cansa de lutar. O abraça forte e chora deixando toda a angústia sair do peito.

Seu corpo leve é carregado por ele, sentado em uma poltrona no canto do quarto, colocando-a em seu colo e cuidando-a como jurou fazer.

Nem toda a sua força poderia suportar as punhaladas nas costas. Ela se aninhou em seu peito, deixando a vulnerabilidade dominar e o calor dos braços de Daemon a envolver como proteção.

Ela confiava apenas nele, mas estava se acostumando em ser traída por todos e, no fundo, decidiu tomar outras decisões para seu futuro.

Talvez sua mãe tenha razão.

***

Nota: Um capítulo mais curto, mas com foco nos sentimentos turbulentos entre eles. Daqui para frente os acontecimentos começam a piorar então preparem o coração.

Essa semana teremos mais um capítulo ♥

Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles.

Beijooos.

BloodlineWhere stories live. Discover now