Capítulo 09

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A tortura sempre foi um método eficiente para fazer qualquer pássaro cantar. Até os pássaros mais leais. Quando se tratava de dor física ou psicológica, nenhuma pessoa aguentaria.

Todos quebram, é inevitável.

Daemon era o melhor em fazer pássaros cantarem.

Caminhando no corredor escuro do subsolo, Rhaenyra se direcionava para os sons de dor, socos e pedidos de clemência. Encontraram um dos capos do suposto mandante e o trouxeram até a propriedade Targaryen onde se instalaram temporariamente. Havia receio em voltar para a Fortaleza Vermelha e comprometer o restante da família.

Encostou na parede da entrada visualizando a cena. Os soldados parados olhando os golpes com atenção. As torturas normalmente eram destinadas aos tenentes, mas Daemon gostava de acompanhar seus homens para serviços mais brutais. Gerava confiança entre eles, conseguindo mais respeito e lealdade, o que faltava em Viserys. No meio, com as mãos amarradas para cima em um ferro resistente e completamente nu, um dos capos, ensanguentado, roxo e com feridas expostas.

Respirava com dificuldade, sentindo o osso quebrado da costela pressionar o pulmão.

Daemon estica o braço para trás desferindo mais um golpe. As mãos cobertas com um soco-inglês, a manga da camisa dobrada até o cotovelo e o corpo com manchas de sangue, espirradas conforme a tortura acontecia.

— Ele começou cortando os dedos? — ela perguntava curiosa, vendo detalhadamente o estrago feito.

— Não — respondia Harold calmo enquanto lia um livro — Hoje ele está sem paciência.

— Ele se recusa a confessar?

— Na verdade, ele confessou antes mesmo de Caraxes começar.

— Se ele confessou, por que a tortura?

— Porque prometi torturá-lo — Daemon respondeu pegando o cigarro do cinzeiro e tragando satisfatoriamente — Que homem seria eu, não cumprindo com suas promessas? — ele ria, colocando o cigarro novamente na boca e soltando a fumaça para o alto — E sabemos que uma confissão legal só é válida se houver tortura.

Rhaenyra esquecia que dentro dele havia dois Daemons: o que era leal com a família e o demônio que amedrontava qualquer um que olhasse torto em sua direção.

Ainda sim, não deixava de se surpreender até que ponto seu tio chegava para conseguir o que queria. Claramente se divertia com o saco de pancadas em forma de carne e sangue em sua frente, não se importando com nada.

Isso não a assustava. Pelo contrário, admirava o quão implacável ele era.

— Lembra da tortura em 2004 na Itália? — perguntou Erryk olhando de soslaio para Harold.

— Como não lembrar? — fechou o livro rindo — Foi lá que esse filho da puta ganhou o apelido de verme sangrento.

Um soco acompanhado de um grito de dor repercutiu pelo homem amarrado. Daemon colocou as mãos na cintura reflexivo.

— Aquele dia quis praticar tudo o que aprendi, — ele sorriu suspirando pela lembrança — foi difícil fazê-lo falar, mas no final, cantou lindamente a canção que precisava.

Rhaenyra observava com o semblante confuso. Tentava lembrar no meio de suas memórias se ouviu alguma história semelhante.

— Caraxes tinha apenas vinte anos — Harold aproximou dela ao notar a enorme confusão em seu rosto — Um dos homens com a patente mais alta na máfia Cosa Nostra, estava envolvido nos primeiros ataques feitos ao seu pai assim que foi nomeado o patriarca da família. Ele era uma rocha, nenhum de nós conseguia fazê-lo ao menos gritar de dor. Arrancar qualquer informação dele era impossível. — olhou com atenção nos olhos dela — Até Caraxes chegar. Um moleque alto, magrelo na época, mas parecia a própria morte quando fechou a porta, ficando sozinho com o homem lá dentro.

Ela acompanhava cada detalhe da história pela voz rouca de Harold, criando uma cena em sua cabeça de como realmente tudo aconteceu.

— Ninguém sabe exatamente o que foi feito lá.

— Um mistério até hoje! — completava Erryk.

— Quando a porta abriu, aquele moleque magrelo, saiu banhado em sangue — gesticulava com as mãos demonstrando até os joelhos, onde estaria o corpo em completo vermelho — Parou ao meu lado, com o olhar mais psicopata possível e disse o nome que tanto buscavamos.

— Craghas Dahar! — Daemon disse em alto e bom som, apagando o cigarro no corpo do homem desacordado.

— Já chega Caraxes! — a voz de Viserys ecoou firme e autoritária.

Daemon bufou com uma careta insatisfeito por acabar com sua pequena diversão. Os métodos dele sempre foram cruéis. Na sua opinião, qualquer um que tentasse enganá-los, precisava ser o exemplo para ninguém desafiá-los. Não reagir demonstrava fraqueza.

— Vamos marcá-lo! — Daemon sinalizou para Erryk trazer o ferro quente com o símbolo de nossa casa.

A marca precisava ser exposta, para lembrar o quanto foram tolos em desafiar dragões. O grito desesperado do homem não a incomodava, estava acostumada com choros de dor e se borrarem com medo. A testa ficou marcada para sempre com o dragão de quatro patas.

E para sua surpresa nada disso a incomodava.

Ela era feita de carne e fogo, e o sangue do dragão corria em suas veias.

***

— Lannisters como sempre, tolos! — Viserys apoiava os punhos em pé na ponta da mesa de reunião — Não consigo entender qual seria a vantagem em me assassinar em meio a uma reunião das cinco famílias.

— Ele é apenas um peão, — afirmava Rhaenyra — alguém prometeu mundos e fundos. Lannisters são gananciosos.

— E ganhariam o que com isso? — perguntava Harold ao seu lado.

— Poder! O anúncio da união entre Targaryen e Stark, não foi visto com bons olhos. Isso deixaria nossa família acima de qualquer outra.

— O casamento precisa ser agilizado! — Viserys a olhava com atenção.

— Devemos esperar! — Rhaenyra tinha outros planos em mente — Sugiro uma reunião particular em Winterfell com Lorde Stark para analisar cautelosamente os próximos passos. — ela encontrou a brecha perfeita para convencê-lo a não se casar, sem atritos e desavenças — Ele precisa saber.

Viserys analisou seu rosto pensativo. Parecia absorver cada conselho, tentando encontrar algum motivo para não seguir com esse plano. Felizmente não encontrou nada.

— Você é ótima com as palavras, Syrax — ajeitava as mangas da camisa — Se for sagaz igual à sua mãe, tenho certeza que encontrará a solução perfeita.

Ela sorri com a lembrança de Aemma.

— Não seria prudente a futura herdeira seguir em uma viagem tão longa! — enfatizou Otto — Adiar o casamento apenas dará mais tempo de um segundo ataque.

— Se o casamento for feito às pressas, seremos vistos como desesperados — pontuava Daemon — Não podemos ser descuidados, temos um nome a zelar.

— Como seu conselheiro, seria o mais adequado eu mesmo fazer os arranjos necessários com Lorde Stark.

— Ele não escutaria você. — retrucava Rhaenyra.

— Como tem tanta certeza?

— Por que ele tem mais intimidade e confiança comigo.

As mãos de Daemon se apertaram no encosto da cadeira. Ouvir de sua intimidade com Cregan o deixava enciumado, mesmo sabendo que ela era dele.

Esse gesto não passou despercebido dos olhos de Otto, que coletava o mínimo dos movimentos para suas conclusões finais.

— Syrax será nomeada em breve Otto, — Viserys caminhava para a saída — precisa iniciar com reuniões entre os patriarcas, fazer negócios sem um banho de sangue. Não precisa ter medo. Ela derrubaria qualquer um em um piscar de olhos.

Rhaenyra tenta disfarçar um sorriso orgulhoso. Seu pai confiava nela, sabia que era capaz e ouvir dele perante todos, colocando Otto em seu devido lugar a deixava confiante.

Viserys ajeitava os botões do paletó enquanto Harold destrancava a porta para sua saída.

— Rapazes, podem descansar, eu e Syrax analisamos como será o itinerário e a segurança para amanhã. — Daemon levantava pegando o mapa para demarcar em cima da mesa.

Erryk acena com a cabeça em resposta e fecha a porta com cuidado até a trinca ressoar.

— Você disse ter algo em mente para amanhã. — Daemon pairava ao seu lado com o semblante sério, esticando o mapa sobre a mesa — Repassa a sua ideia. Preciso entender.

Ela analisa os pontos e começa a explicar com atenção o melhor trajeto.

— Se desviarmos pela via oeste, seguiremos por um atalho bem movimentado, deixando qualquer... — ela para sua explicação sentindo as mãos de Daemon apoiadas na mesa, deixando-a no meio e ele atrás, com o rosto próximo ao seu.

— Continua. — sussurrou tão próximo à orelha que seu corpo respondeu com os pelos arrepiados.

Rhaenyra continuou sua explicação um pouco ofegante e com as mãos trêmulas cheias de desejo.

— Precisamos dividir os carros em caminhos opostos — ele respondia, encoxando-a e colocando os cabelos para o lado, deixando o acesso até o pescoço livre.

— Daemon... Ele pode voltar.

— E qual o problema? Estou pedindo apenas para você me explicar o seu plano, nada de mais.

— Para explicar precisa ficar tão colado assim? — ela sorria maliciosamente.

— Você fica com essa bunda gostosa empinada nessa calça grudada, só conseguia ouvir seu corpo sussurrando meu nome.

Gemeu baixinho quando sentiu o membro duro esfregar em sua bunda, encostando ainda mais na beirada da mesa.

— Continua...

— Não consigo assim — fechou os olhos sentindo as mordidas e beijos na curva do pescoço.

— Por que não consegue? — ele passa o braço cruzado no torso, deslizando pela costela, espalmando o seio forte.

Seu corpo respondia tão obediente ao toque dele, arqueando as costas, ansiosa, deixando a bunda ainda mais empinada contra sua ereção.

— Se continuar assim vou te comer aqui Rhaenyra.

Ela sorri com a sensação gostosa dele apertando sua cintura e puxando-a ainda mais para si. Se assustava com a facilidade em se perder de luxúria com o simples toque dele. Não se importava onde estava, que dia era, se alguém escutasse, queria apenas ele bruto e forte dentro dela.

Daemon gira seu corpo com facilidade, deslizando a mão até a nuca, trazendo-a até sua boca sem delicadeza.

Puxou os cabelos com força e um gemido alto e imprevisível saiu dos lábios dela.

— Você precisa ficar quieta — puxou o cabelo até a cabeça tombar para trás e seu rosto pairar sobre o dela — só os quartos são a prova de sons, lembra?

— E se não ficar quieta — ela o provocava, mordendo seu lábio inferior com uma falsa inocência — o que você vai fazer?

Sentiu seu maxilar enrijecer, os olhos escurecerem como a noite, as sobrancelhas franzirem e percebeu que a pergunta mexeu com sua sanidade.

Ela gostava de deixá-lo fora de si.

— Rhaenyra não me provoca! Te fodo em cima dessa mesa mandando para a puta que pariu o nosso plano. — ele rosna contra sua pele com a voz dominante.

— Você começou! — sua mão viajou entre as pernas, massageando o pênis duro e apertado em sua calça — Não aguenta ser provocado?

O olhar que recebeu ela conhecia bem. Fez seu corpo ferver ansiosamente esperando seu bom senso ir embora.

Suas mãos a puxaram com brutalidade, batendo corpo com corpo quase caindo no chão, pegando sua boca esfomeado e urgente. Os dentes puxando seu lábio até ouvi-la gemer.

Ela retribui o beijo da mesma forma, com a mesma fome. Um desejo perigoso somado com sentimento de pertencer apenas a ele. Quente, impulsivo, pecaminoso, visceral, não existem palavras melhores para descrever Daemon. Apenas se deixa levar por esse oceano de êxtase que sentiu tão intenso apenas com ele.

Daemon se afasta apenas para olhá-la. O rosto corado, lábios inchados e os cabelos soltos deslizando pelos ombros e dedos dele. A visão era divina. Admirá-la era algo que faria até o fim dos seus dias. Os olhos violeta fixos tentando dizer o que a boca não conseguia.

Ninguém desvia o olhar.

O peito sobe e desce tentando encontrar fôlego pela tensão que se acumulava. Eles respiram em conjunto, sentindo o coração acelerar, deixando seus pensamentos nebulosos.

Analisou cada detalhe do rosto dela até se hipnotizar nos lábios.

Então ele puxa novamente, mas dessa vez não foi urgente. Era doce sem ser casto, um beijo tomado inteiramente para ele, reivindicando os lábios vermelhos de maneira carnal e se perdendo na língua devassa da sua mulher.

Ela puxa o ar em meio aos beijos como se ele fosse o oxigênio que precisasse. Um pensamento piegas, mas Rhaenyra não se importava em ser clichê. Ela sabia que depois sozinhos em algum quarto (canto ou mesa), ele a foderia como a puta que gostava de ser.

As sensações espalham devastadoramente por seu corpo, deixando-a fraca, apoiando-se firme em seus ombros para não cair no chão inebriada.

A porta abre fazendo Daemon empurrar Rhaenyra e bater a palma da mão na mesa parecendo impaciente.

— Essa merda não faz sentido! — apontou para a marcação mais próxima do mapa.

Rhaenyra permanecia de costas para a porta sem saber quem chegara. Segura o riso pressionando os lábios sem perder a encenação dele.

— Na sua cabeça teimosa e estúpida não faz sentido mesmo, talvez a idade esteja afetando o seu raciocionio. — gesticulava com os braços, tentando ser convincente de sua falsa irritação.

Ele joga bruscamente a cadeira deixando cair no chão e segue até a porta.

— Me diga como consegue dialogar com sua filha? — olhava para Viserys que o respondia com olhar cansado.

— Apenas vá descansar Daemon, eu converso com ela.

Daemon segue porta afora sorrindo ironicamente longe dos olhos de seu irmão.

— As brigas de vocês algum dia terá fim?

Apoiando-se na mesa ainda de costas para seu pai ela sorria.

— Um dia talvez meu pai. Um dia quem sabe.

***

Espero que gostem e por favor deixem comentários, eu amo ler cada um deles. Me siga no Twitter: moneceles.

Beijooos.

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