Capítulo Dezoito

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Scott Prescott:

Olhei para ela mais uma vez, fechando a porta atrás de mim, e me sentei em uma cadeira ao lado da cama. Estava na hora de encarar essa pessoa pela última vez em toda minha vida.

Ela tentou pegar minha mão, e me afastei por segundos. Ela ficou envergonhada ao me olhar com culpa.

— Você está tão grande e bonito — Melanie disse fracamente.

Em uma parte distante de uma mesa estavam algumas xícaras e pires de chá prateados brilhando ao sol que entrava pela janela. Dois jogos: um para mim, um para ela.

Meus pais disseram que uma enfermeira trouxe o aparelho de chá de casa há anos, logo que ela foi internada. É uma indulgência permitida pela clínica a fim de mantê-la viva. Melanie não come nada — seja um filé à Salisbury ou uma torta de frutas — a menos que esteja em uma xícara de chá e pareça divertido como se alguma coisa dentro dela estivesse se recusando a comer nada que não parecesse louco.

Isso me deixa confuso, afinal, ela nos abandonou dizendo que éramos algo completamente inimaginável que ela viu em seus sonhos: a verdade sobre meu pai e a família dele. Antes, eu ficava confuso com isso, mas o que aconteceu nos últimos dias me fez ver que ela estava certa em certo ponto. No entanto, isso a fez enlouquecer, desejando acusar meu pai a todo custo. Fico me perguntando como as coisas poderiam ter sido diferentes se ela tivesse escolhido enfrentar a situação de outra forma. Talvez as coisas não tivessem chegado a esse ponto, e não estaria confinada nesse lugar

É um turbilhão de emoções e confusões. Tento manter a calma, mas, ao mesmo tempo, sinto uma profunda tristeza por tudo o que aconteceu.

As tranças castanhas dela pendem sobre o encosto da cabeceira da cama, quase tocando o chão. A franja está presa em uma faixa preta na cabeça. Vestida com uma espécie de camisola azul e coberta por um peitilho longo de avental para manter suas roupas limpas, ela estava calma. Então, notei que seus olhos mudaram, começando a rodopiar, e ela começou a soltar uma risada completamente louca.

Levantei-me para chamar ajuda, mas ela segurou o tecido da minha blusa e me lançou um olhar de aviso, fazendo com que eu me sentasse de volta na cadeira. Em questão de segundos, seus olhos castanhos voltaram ao normal.

Assustado, permaneci sentado, observando-a com preocupação. Ela respirou profundamente algumas vezes, como se tentasse recuperar o controle.

— Desculpe-me, não sei o que deu em mim. — Ela murmurou com uma expressão confusa

e soltou minha blusa.

Senti um misto de alívio e compaixão. Parecia que algo estranho havia acontecido, mas agora ela estava de volta à sua serenidade anterior. Percebi que talvez fosse melhor esperar até que ela se sentisse pronta para explicar o que estava acontecendo.

— O que foi que aconteceu aqui? — Perguntei. — Porque não quer que eu chame as enfermeiras ou os médicos?

— Eles não vão saber explicar o que aconteceu comigo como eu sei — disse ela calmamente. — Estou morrendo por ter recusado o que me foi dado anos antes de eu conhecer seu pai.

— E o que seria isso? — perguntei.

— Anos antes, fiz um pacto para ficar livre das minhas visões sobre o mundo sobrenatural. Aquelas criaturas me assustavam, e quando você nasceu, o encantamento foi desfeito em signos, e eu vi a verdade do mundo, o que me assustou. — Continuou a divagar sobre as adversidades do mundo sobrenatural, e aquilo me assustou.

Neste ponto, ela fez uma pausa, olhando para o nada, antes de prosseguir:

— Foi um acordo desesperado, na época, para me livrar das visões aterrorizantes que me atormentavam. Mas, quando vi o que realmente existe no mundo, entendi que talvez tivesse sido um erro.

Líder da Alcatéia (ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora