capítulo-09(R)

3.4K 412 57
                                        

Eu pedi ao Monstro que me trouxesse um papel e uma pena. Vou enviar uma carta a uma parente não tão distante, Cedrella, e seu marido, Weasley. Obviamente, sei que quando ela ler essa carta, pode ter duas reações: surpresa e desconfiança.

Ela pode pensar que, ao chegar aqui, vamos atacá-la ou a sua família. Mas minha família não é de bruxos bárbaros que fazem esse tipo de coisa de forma tão óbvia.

Chamei minha coruja, que geralmente ficava quieta — qualquer um pensaria que estava morta, mas ela apenas estava descansando, já que não recebia cartas para entregar com frequência. Ao ver a carta na minha mão, piou de alegria.

Pedi ao Monstro que arrumasse a casa, pois teríamos visitas. Mesmo sabendo que o pequeno Potter ficaria no quarto com Sirius e Regulus, é sempre possível que resolvam andar pela casa. Quase me esqueci de avisar ao Monstro para tirar as cabeças de elfos nas escadas, pois isso assustaria as crianças, embora eu ache a decoração bonita e veja nela uma demonstração de que temos elfos o bastante.

O Monstro tirou as cabeças dos elfos com uma tristeza visível. Já o avisei para não guardar nenhuma cabeça no armário, pois ele tem essa mania de pegar coisas insignificantes e guardá-las como se fossem preciosidades. Tenho quase certeza de que, às vezes, ele fica olhando para as cabeças decapitadas dos elfos com um ar saudoso ou talvez pensando em quando chegaria a vez dele de se juntar a elas.

Fiquei pensando se Severus havia comido alguma coisa em sua antiga casa antes de chegar aqui. Monstro estava ocupado limpando a casa, então pensei: "Por que não fazer a comida para ele?" Parecia uma ideia simples, mas, ao chegar à cozinha, percebi que não era capaz de preparar algo decente. Primeiro, tentei fazer carne, mas ficou crua. Na segunda tentativa, queimei. Então, tentei fazer algo para ele beber, mas ficou aguado demais. Sou péssima na cozinha. Acabei recorrendo a algo trouxa: miojo. Segui as instruções do pacote, mas... queimei o miojo.

No fim, preparei a refeição mais básica possível: pão com queijo e mortadela, acompanhado de um copo de chocolate quente. Coloquei tudo numa bandeja e fui até o quarto onde Severus estava. Ao colocá-lo lá, ele dormia como uma flor que poderia ser despedaçada a qualquer momento. Ele confiou tanto em mim que chegou a me abraçar, uma mulher estranha que dizia ter o adotado.

Cheguei no quarto e bati na porta. Ouvi apenas um "entre". Ao entrar, vi um quarto ainda não decorado — era apenas um espaço seguro, sem mostrar a personalidade de quem dormia ali. Me aproximei com um sorriso e coloquei a bandeja em sua cama. Ele pegou o pão e começou a comer rapidamente.

— Calma, a comida não vai fugir de você. Ele, então, começou a comer de forma mais normal. Depois que terminou o pão e o chocolate quente, olhou para mim com um olhar de corça, o que me pareceu estranho, pois só conseguia me lembrar do Severus adolescente, sempre sério e de poucos sentimentos. Então ele falou:

— Eu vou poder ver a Lily? — Ele parecia um pouco nervoso. Regulus me dissera que ele era apaixonado por essa garota.

— Sim, você vai poder vê-la, mas só em Hogwarts. — Quando disse isso, ele pareceu um pouco triste.

— Será apenas um ano, Severus. Depois você poderá passar bastante tempo com sua amiga. — Ele deu um sorriso pequeno e triste, mas continuou olhando para mim.

— Por que você me adotou? — Ele franziu a testa, sem entender por que tinha sido adotado.

— Você é um bruxo, Severus. Bruxos não deveriam passar por aquilo que você estava passando.

Ele apertou os lábios com força.

— O-obrigado. Obrigado por ter salvo minha vida. — De novo, vi-o segurando as lágrimas. Não me orgulho de saber que ele foi ensinado a não chorar, provavelmente por influência daquele trouxa. Eu também ensinei isso aos meus filhos, dizendo que chorar era para os fracos, e Sirius e Regulus levaram isso ao pé da letra. Mas não pretendo repetir isso, então essas palavras nunca mais sairão da minha boca. Eles podem chorar à vontade.

WALBURGA BLACK E SEU RETORNO Onde histórias criam vida. Descubra agora