Casarão

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Rio de Janeiro, 2024

Anos se passaram e não podiam mais fingir que não existiam.

No casarão, os moradores mais velhos desfrutavam do presente da cafeína. A festa da noite anterior havia durado o suficiente para esquecerem do trabalho e dos problemas, mas agora, diante do despertador e do cheiro forte do café, as preocupações voltaram os trazendo para a realidade.

Ada, por sua vez, acordou com a mente ainda presa nos acontecimentos. Fechou os olhos com força, como se pudesse, de alguma forma, desfazer tudo e voltar ao normal. Contudo, não adiantava. O gosto do beijo de Rafah ainda estava em seus lábios, e a intensidade daquele momento parecia preso.

— Não. — Murmurou para si mesma, tentando se livrar das memórias. — Chega, Hadassah.

Precisava sair desse lugar, das lembranças. Pulou da cama, tomou um banho rápido e vestiu-se sem pensar muito.

— Bom dia, dorminhoca.

Samuel comentou, sem tirar os olhos da xícara de café que mexia.

— Bom dia.

Respondeu em um tom automático, evitando qualquer contato visual. Ela sabia que, se olhasse por muito tempo, as perguntas viriam.

Do outro lado da cozinha, Nico trocou olhares com Sofia e disse tudo precisava.

— Bom dia!

Jamie, sempre alegre, surgiu quebrando o silêncio com uma energia que destoava de todos os outros. Começou a cantar alto, sem qualquer aviso.

— Qual o seu problema?

Um dos adolescentes gritou reclamando.

— Não é um dia feliz? — Jamie ignorou a reclamação e continuou a cantar, como se estivesse determinado a melhorar o humor de todos. — É um dia ótimo! — Gritou no ouvido de Nico, provocando-o a correr atrás dele em meio às risadas.

Ada observou a cena, um leve sorriso escapando. Tentou distrair-se com a cena caótica e alegre da mesa. Ao olhar em volta, percebeu uma calma incomum em um canto da mesa, onde normalmente as crianças brincavam.

— Mel, tem bolo de coco hoje. Não é o seu favorito? — A empregada dos Alonsos tentou puxar conversa com a sobrinha, mas ela bufou de frustração, e levantou-se abruptamente da mesa. — Fiz algo de errado? — Ada perguntou a Caio, confusa e buscando respostas.

— Não, fui eu. — Admitiu Sofia, suspirando. — Vou atrás dela.

Samuel, percebendo o desconforto no ambiente, subiu as escadas apressado.

— Deixa comigo, vou falar com Mel.

Nico, no entanto, permanecia com uma expressão preocupada, e Ada sabia que não se tratava apenas de um desentendimento infantil.

— Ontem conseguira me enrolar, mas não hoje. — Ada encarou os irmãos. — O que está acontecendo? — A noite anterior foi perfeita, porém, a vida real chamou por Ada outra vez.

— Precisamos conversar.

Nico caminhou em direção às irmãs com Jamie nas costas.

— A Lúcia que há um novo plano de metas do Conselho Tutelar.

A simples menção do Conselho Tutelar fez Ada perder o equilíbrio e se sentar rapidamente. Era como se o ar tivesse sido sugado da sala.

— Pedi para as crianças não saírem da rua por um tempo. — Sofia explicou com o cenho preocupado. — Por isso, a Mel está com tanta raiva de mim.

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