Avenida Atlântica

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Era uma sexta-feira memorável, e a Avenida Atlântica brilhava como nunca, adornada por uma fileira interminável de limusines. O Copacabana Palace, com seu luxo atemporal, estava prestes a sediar o evento mais esperado do ano. Até mesmo os veteranos estavam impressionados com o brilho. Ada, que sempre se sentiu confortável nas ruas do Ofélia, estava agora completamente nervosa. O vestido emprestado parecia pesado, mas nada comparado ao peso de estar em um ambiente tão distante do seu mundo.

— Uau! — Murmurou, quase sem fôlego. Desde que saíra do conforto de seu bairro para entrarem nos limites da Zona Sul mal conseguia acreditar no que via. — Aquela é... Deborah Secco? — Perguntou, sem conseguir conter o espanto.

Rafah sorriu, divertindo-se com a inocência dela em um mundo que ele conhecia tão bem. 

— Acredito que sim. — Ele riu, observando-a como quem admira uma obra de arte. — Podemos ir? — Perguntou entregando as chaves do carro ao manobrista e segurando a mão dela.

Ada, por outro lado, sentiu um arrepio ao toque. O contraste entre eles era gritante. Enquanto ele parecia perfeitamente à vontade naquele ambiente, ela se sentia cada vez mais deslocada.

— Onde?

Perguntou, tentando esconder a apreensão em sua voz.

— Temos que passar pela recepção.

Ele apontou para a entrada, onde repórteres e fotógrafos aguardavam ansiosamente.

Ada congelou, os olhos arregalados enquanto os repórteres e fotógrafos se amontoavam como predadores.

— O quê? Eu não posso passar por essas pessoas! — O pânico transparecia em sua voz, e ela olhou para Rafah, que permanecia calmo, como se aquilo fosse normal. — Eu não vou andar no mesmo tapete que eles.

Ele riu suavemente, puxando-a para mais perto. Seus olhos encontraram os dela com um misto de ternura e compreensão.

— Eu tenho que entrar. Sou filho do dono da festa.

— Tudo bem, você vai.

— Ada, são apenas pessoas.

Ele tentou suavizar o tom, acalmando-a.

 — Não, sou uma empregada, e eles são de uma classe bem distante da minha.

A risada nervosa de Ada refletia o desconforto. Estar ali era como viver uma realidade alternativa. Ela nunca havia estado ao lado de pessoas tão ricas e influentes, a não ser servindo-as.

Rafah, sem perder o sorriso, inclinou-se levemente, mantendo os olhos fixos nos dela. — Então seja a empregada mais estonteante da noite. Na verdade, você é a mais linda daqui. — Ele apertou sua mão e acrescentou com um sorriso brincalhão. — Você me deixa acompanhar a mulher mais linda dessa festa?

Ada piscou, surpresa com o elogio. Sua mão hesitou por um segundo antes de aceitar a dele.

Ela decidiu seguir cada passo de Rafah, copiando seus movimentos como se estivesse ensaiando para uma peça. Se ele sorria, ela sorria. Se ele parava, ela fazia o mesmo. Cada gesto parecia coreografado, e isso de alguma forma a acalmava.

Quando finalmente atravessaram a entrada do hotel, Ada foi imediatamente absorvida pelas luzes douradas que refletiam dos candelabros, dos móveis e até mesmo dos pequenos detalhes de decoração. Tudo parecia feito de ouro, algo que ela só tinha visto em filmes. Mais uma vez, a moradora do Ofélia viu algo distante de seu campo habitual de vida. As festas de pagode pareciam celebrações infantis comparadas ao que eu via agora. Tantas luzes e objetos feitos de ouro a fizeram acreditar que os filmes de época eram reais.

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