Em uma casa que tinha mais gente do que quartos, o clima era inesperadamente festivo. O sol mal tinha subido, e a alegria já dominava a pequena casa.
— Qual o motivo de tanta alegria?
Nico perguntou enquanto acordava, mostrando o mau-humor cotidiano por ser acordado tão cedo.
— Consertamos a escada!
Sofia anunciou com um sorriso, cantando junto dos filhos.
— Parabéns pelo seu segundo reparo em três meses.
O irmão mais velho respondeu em completa ironia. Nico carregava nas costas o peso das ambições que sua vida simples parecia sufocar. Como motoboy, sua rotina era caótica, e os sonhos de uma vida melhor nunca paravam de pulsar em sua mente, mesmo que a realidade insistisse em apertá-lo por todos os lados.
— Sorria! — Samuel colocou um dos meninos sobre o ombro. — La vita è bella! — Gritou, subindo e descendo os degraus.
— O melhor seria mudar toda a estrutura.
Sofia comentou girando com as crianças.
— Faremos isso assim que roubarmos um banco.
Nico brincou. Para ele, tanta alegria diante de tanta miséria era constrangedora e motivo de zombaria.
— Cuidado com a boca, seu idiota, há crianças aqui.
Sofia o repreendeu com um tapa no braço.
— Não disse nada de errado. É bom saberem que somos pobres — Nico riu, jogando-se no sofá da sala.
— É insuportável, Nico!
Sofia bufou e foi para a cozinha, onde encontrou Ada, normalmente a mais animada, alheia ao ambiente ao seu redor.
— Palhacinha, está tudo bem? Por que não está dançando?
Samuel perguntou ao ver Ada sentada em cima da pia, perdida em pensamentos.
— Só estou cansada, só isso — Respondeu, não dizendo uma total mentira. — Ei, sabiam que Mabel é uma Alonso?
— Um o quê?
Sofia e Samuel perguntaram ao mesmo tempo.
— Filha do dono daquele hospital enorme, onde você trabalha, Sosô.
— Oh, achei que ele estivesse morto. O hospital é praticamente administrado por aquele argentino lindo, acho que é genro dele.
— Bem, ele está vivo, e eu briguei com o filho dele.
Admitiu, sentindo uma certa vergonha da situação.
— O quê?
Sofia exclamou, surpresa.
— A casa onde estou trabalhando é deles. — Explicou, pegando mais café e mostrando fotos da família para a amiga/irmã. — Fiquei nervosa com o Nico ontem e... bom, vocês sabem como eu sou.
Sofia não pôde deixar de rir. — Precisa controlar seus nervos. — Pegou o celular da mão de Ada e observou a foto do homem de cabelos pretos e olhos claros. — Espera, esse é o Rafah.
— Você o conhece?
— Ele a ajudou a consertar as escadas com o Daniel e o resto do pessoal.
— Me parece tão familiar. — Samuel interrompeu, pensativo. — Me lembra alguém que não vejo há muito tempo. — Uma dor de cabeça lhe atingiu e deixou as frutas que estavam em suas mãos caírem.
— Tio?
Todos tinham seus gatilhos e, nas últimas semanas, parecia que os de Samuel haviam sido acionados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Alonsos
RomanceA família Alonso controla mais do que uma espantosa fortuna - eles têm nas mãos o poder e a influência sobre a elite carioca. Pedro Alonso é um dos homens mais poderosos do Rio. Sua família carrega uma influência assustadora dentro dos limites estab...