Herdeiros

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Alguns acreditam que filhos são perdas de tempo, outros amam a ideia idealizada, Pedro sempre soube que seria pai, todavia, em algum ponto de sua vida deu-se conta de que não desejava apenas procriar, precisava de herdeiros.

Cecília, sua primogênita, foi quem apresentou os desafios e o prazer da paternidade. Tessa veio dois anos depois, alinhando seu coração e sonhos. Elizabeth era fruto do segundo casamento e chegou quando as duas primeiras já eram adultas. Havia experimentado todo o possível com as mais velhas, por isso diminuiu os erros e visou dar o melhor para ela.

Nos anos 90, passou um tempo no exterior e retornou ao Rio com Mabel nos braços. Com idade para ser avô, se viu pai pela quarta vez. Ela, o tinha nas mãos. Com seu jeito encantador, o tinha completamente em suas mãos. Jurava que ela seria a última, a cápsula de seu legado. Entretanto, um ano e meio depois, o destino lhe reservou uma surpresa inesperada. Ciente do que o futuro guardava, disse a Helena que ultrassons eram desnecessários — com certeza, seria mais uma menina. Rafah o deixou de queixo caído. Não sabia ser pai de um garoto, mas outra vez trocou fraldas, pagou as melhores escolas e preparou o último herdeiro para carregar o peso do nome Alonso.

Nunca foi em vão. Deu a todos, duas opções. Cecília formou-se em Medicina porque ele a queria à frente da junta médica do hospital. Tessa tornou-se advogada e assumiu a administração da universidade, além de cuidar de todos os assuntos relacionados aos negócios. Liz foi para a Europa terminar sua formação em Direito, e a caçula, seguiria os passos da irmã. O plano estava perfeitamente traçado. Mas, pela primeira vez, Pedro teve um vislumbre de como o futuro poderia desviar-se. Mabel desistiu. Deu adeus aos estudos, ao trabalho e à vida luxuosa.

Por anos, ele planejou o caminho de Rafah, que dizia querer ser médico. Pedro, como de costume, preparou o caminho para o filho. O pai fez de tudo para que isso se tornasse realidade. Os planos estavam se desenrolando conforme previsto — até a semana passada.

Largar a universidade?

Pedro gritou novamente. As veias e artérias de seu pescoço pareciam que iriam se romper devido à raiva que colocava em cada palavra.

— Pai, eu só...

Rafah achou, por algum motivo, que aquela seria uma conversa fácil.

— O que você tem na cabeça? — Embora o pulso estivesse acelerado, não baixou a voz. — Sou um pai ruim por querer que cresça, Rafah?

— Pai, eu...

— Prometeu que voltaria. Te dei um ano! — Muitos acreditavam que Pedro aceitaria bem o diagnóstico de ansiedade severa do filho. — Fez o que te deu na telha. Deixei que viajasse, gastou meu dinheiro, e agora quer parar de estudar?! — Bateu a bengala na mesa, o som ecoando pela sala. — Olha para mim, acha que sou idiota? Mandei que segurassem sua matrícula para voltar.

— Pode escutar? — As vozes ecoavam pela propriedade. Rafah sabia que essa seria uma conversa difícil, mas ainda tinha esperança de que o pai o compreendesse, pelo menos com o tempo. — Vi muita coisa nesse tempo que estive fora...

— O quê? Mulheres, carros, comidas caras? — Mantinha o hábito de ver os extratos bancários que estavam ligados a ele. — Não, não vai fazer isso. Vai se formar e depois concluir Administração. — Decidiu que cuidaria da universidade ao lado de Tessa.

— Não vou voltar, pai. A discussão durava tanto tempo que era possível ver o suor no rosto deles. — A vida é minha, e eu já me decidi.

— Decidiu? Você não decidi nada, Rafah.

— Odeia que eu não esteja fazendo algo que contribua para os negócios, não é?

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