Noite Carioca

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Rio de Janeiro, 19:00h

Em meio a um forte e rigoroso verão, o jogo começa para uns e termina para outros. Aqueles que estão acostumados com as fantasias e o movimento das torres não serão surpreendidos por nada do que acontecer, mas, para os recém-chegados, restava apenas confiar na sorte e esperar que ela fosse generosa.

— Liz está voltando hoje. — Rafah comentou, como quem solta uma informação despretensiosa ao vento. — Papai vai recebê-la em uma tradicional recepção a la Alonsos. — A festa já tinha começado e sabia do seu atraso.

Mabel riu com o olhar distante. Antes, fazia questão de auxiliar na organização das festas em família. Agora está sentada na calçada de casa ajudando o irmão a limpar as mãos sujas de massa de cimento.

— Acho que os sites de fofoca terão muito material amanhã.

— Por que não vem?

— Pela mesma razão que não como queijo: pode parecer bom, mas vou acabar passando mal no final.

Há um ano, não pisava na antiga casa e pretendia manter essa distância por mais um tempo.

— Tente, por favor, por mim.

Ele implorou docemente.

— É uma grande festa?

— Com uma mesa de frutos-do-mar e tudo mais que sua graça quiser.

Sorriu com a possibilidade dela estar em casa.

— Não estou prometendo nada.

Não sentia falta muito do que viveu. Estava feliz, longe da hipocrisia e dos falsos desejos de alegria, todavia, se fosse honesta consigo, assumiria a saudade que mantinha das irmãs e sobrinhos.

— Quem é meu Alonso favorito?

— Sabemos que amamos Stell muito mais.

— Como está tudo agora sem você e eu para causar brigas?

Os mais novos e os mais brigões, pelo menos, era o que as manchetes diziam.

— Sem nós, não há história, todo mundo sabe disso.

Enquanto os dois irmãos compartilhavam um momento de nostalgia, o mundo opulento dos Alonsos estava em plena atividade, com todos preparando-se para receber a terceira herdeira em uma recepção grandiosa.

O som suave dos violinos se misturava ao tilintar das taças de cristal, e os empregados corriam para garantir que tudo estivesse impecável. No centro de toda essa movimentação estava Stella, que, por um momento, abandonou o papel de governanta para ser mais uma peça do tabuleiro.

— Cecília?

A senhora viu a primogênita da família entrar pela cozinha.

— Oi, Stell. — Cecília estava exausta, e era explícito em seu rosto que estar ali não era exatamente uma escolha. — Desculpa o atraso, saí do hospital agora.

— Não, tudo bem. Começamos agora. — A filha do patrão sorriu falsamente para os convidados conhecidos. — Ah, Anjinha está lá em cima com a nova enfermeira, mas Danilo continua no quarto.

A médica suspirou, desejando dormir ou voltar para um tempo mais fácil de sua vida.

— Vou atrás dele. Volto logo.

Abraçou a antiga babá e foi atrás do filho.

— Stella! — Se virou para voltar à conversa, mas foi interrompida por um chamado irritado vindo do escritório do patriarca. — Pode me dizer por que este escritório está tão bagunçado?

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